A liberação do ex-presidente Lula no cenário político impactou a retórica do governo federal em relação, por exemplo, às medidas sanitárias contra o coronavírus e à eficácia da vacina, o que gerou especulação sobre se a pauta do meio ambiente também receberia uma mudança de tratamento. Entretanto, a deputada federal Carla Zambelli foi indicada para a presidência da Comissão de Meio Ambiente, com apoio do atual ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. Recentemente, Carla acusou ONGs de promoverem queimadas na Amazônia. A deputada, que ganhou fama após agitar suas redes em favor do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, deve seguir a tendência da Câmara dos Deputados em relação à baixa tramitação de projetos de cunho ambiental.
As questões ambientais vão voltar à tona no período de queimadas que vai se iniciar no próximo outono, com a redução do volume de chuvas, período em que o desmatamento já tem início com o corte de grandes árvores, que são removidas e levadas para um comércio ilegal de madeira, como explica Pedro Luiz Côrtes, professor da Escola de Comunicações e Artes da USP e do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental, do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP. Ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição, Côrtes diz que acredita em uma mudança retórica no governo federal e em seus seguidores, como Carla Zambelli, “mas, em termos práticos, não estou prospectando nenhuma mudança, até mesmo porque ela já deveria ter ocorrido desde o início deste ano com o aumento da fiscalização”, conta.
O professor Côrtes explica que a nova presidente da Comissão de Meio Ambiente é considerada da “tropa de choque” do governo, integrantes que têm grande fidelidade ao discurso do presidente Bolsonaro e às suas ações, e o fato de a indicação da deputada ter sido referendada pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, já deixaria claro todo o contexto a respeito de qual é a atitude de Carla Zambelli sobre o meio ambiente. “Então, em termos práticos, ela vai continuar fazendo o que o Ministério do Meio Ambiente está fazendo, ou seja, muito pouco, praticamente nada em relação às questões ambientais, combate de desmatamento, fiscalização, enfim”, afirma Côrtes. “Nós não podemos esperar que a deputada Carla seja uma ativista ambiental ou defender causas ambientais, muito pelo contrário”, conclui.
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