Moda ajuda a fortalecer autoestima e sensação de pertencimento de pessoas LGBTQIA+

Especialistas falam sobre a escolha da roupa e de como esta tem a ver com a expressão da própria identidade, que depende também da aceitação e do apoio dos familiares

 27/04/2022 - Publicado há 2 anos
Por
Existem diversos fatores que podem aumentar ou diminuir a autoestima de uma pessoa LGBTQIA+ – Fotomontagem feita por Guilherme Castro/Jornal da USP com imagens de Unsplash, Pixabay, Cataclysmicly/Deviantart e Richard Shotwell, AP, NTB
Logo da Rádio USP

Para pessoas LGBTQIA+ reafirmar o próprio estilo diante da sociedade pode ser libertador, além de contribuir para a autoestima. A psicóloga, especialista em terapia comportamental e consultora de imagem, Débora Blaso, explica que a imagem pessoal funciona como uma ferramenta de comunicação que ajuda na construção de vínculos sociais, causando impacto direto no comportamento social e na sensação de pertencimento. Por isso, identificar o próprio estilo contribui para que pessoas LGBTQIA+ se sintam pertencentes à sociedade e, consequentemente, melhorem a autoestima.

Débora Blaso – Foto: Reprodução/Instagram

Antes de se descobrir transexual e passar a se vestir da maneira que queria, Alexia Cosmo se sentia diferente em relação às outras pessoas. “Desde quando me conheço por gente, eu nunca me identifiquei dentro do meu sexo, só sabia que eu era diferente. Não brinquei de boneca, não usei brinco, anel, esmalte, mas sabia que o meu sentimento, a minha alma era feminina.” Após descobrir a própria sexualidade, Alexia buscou referências de mulheres com personalidade forte para construir o próprio estilo, pois queria que as pessoas ao seu redor a vissem da mesma forma. Além disso, ao se olhar no espelho, passou a gostar da própria imagem. “Quanto mais feminina eu estava, melhor era minha autoestima”, afirma. 

Esse processo de descoberta e transformação do próprio estilo pode ser difícil, principalmente para quem se descobriu LGBTQIA+ há pouco tempo. “O nosso estilo tem correlação com a construção da nossa identidade, ele vai se transformando ao longo da vida, à medida em que a identidade vai se aperfeiçoando”, afirma Débora. A especialista salienta que, ao escolher o que vestir, é preciso focar em como quer se ver e se sentir, ao invés de se preocupar com o outro. “A gente tem muito mais controle sobre a relação individual com o nosso corpo do que sobre as impressões do outro. Quando a gente fala de autoestima e bem-estar, a relação com a própria imagem é muito mais importante”, orienta a psicóloga. 

Já o psiquiatra pela Faculdade de Medicina da USP em São Paulo e especialista em saúde LGBTQIA+, Saulo Vito Ciasca, afirma que esse desenvolvimento da autoestima também é importante para a construção da própria identidade. Mas, para isso, a pessoa LGBTQIA+ precisa deixar de suprir as expectativas da sociedade e ser quem realmente deseja. “Quando a pessoa estabelece uma autoestima suficiente para poder ser quem ela é e não quem esperam que ela seja, isso fortalece a identidade dela.”

Autoestima além da moda

Saulo Vito Ciasca – Foto: Reprodução/Sanar

Apesar disso, Ciasca ressalta que a autoestima não depende apenas da vestimenta e que existem diversos fatores que podem aumentar ou diminuir a autoestima de uma pessoa LGBTQIA+, como, por exemplo, o ambiente em que ela está inserida. O psiquiatra comenta que, ao fazer parte de uma sociedade heterocisnormativa (acredita que os padrões normais giram em torno de comportamentos heterossexuais) e não corresponder a esse ideário, a pessoa pode acreditar que precisa esconder esse sentimento. “Há casos em que a pessoa LGBTQIA+ internaliza uma homotransfobia e passa a acreditar que a homossexualidade é ruim. Isso pode levar à depressão, ansiedade e à vontade de cometer suicídio, por conta do prejuízo na autoestima.”

Por esse motivo, Ciasca reforça que, além da moda, a autoestima é desenvolvida principalmente ao receber apoio de familiares. “Quando esses pais estão abertos, respeitam, aceitam e celebram a diversidade, isso constrói a autoestima do filho. Os pais ensinam a amar e o filho passa a se amar também”, completa.


Jornal da USP no Ar 
Jornal da USP no Ar é uma parceria da Rádio USP com a Escola Politécnica e o Instituto de Estudos Avançados. No ar, pela Rede USP de Rádio, de segunda a sexta-feira: 1ª edição das 7h30 às 9h, com apresentação de Roxane Ré, e demais edições às 14h, 15h e às 16h45. Em Ribeirão Preto, a edição regional vai ao ar das 12 às 12h30, com apresentação de Mel Vieira e Ferraz Junior. Você pode sintonizar a Rádio USP em São Paulo FM 93.7, em Ribeirão Preto FM 107.9, pela internet em www.jornal.usp.br ou pelo aplicativo do Jornal da USP no celular. 


Política de uso 
A reprodução de matérias e fotografias é livre mediante a citação do Jornal da USP e do autor. No caso dos arquivos de áudio, deverão constar dos créditos a Rádio USP e, em sendo explicitados, os autores. Para uso de arquivos de vídeo, esses créditos deverão mencionar a TV USP e, caso estejam explicitados, os autores. Fotos devem ser creditadas como USP Imagens e o nome do fotógrafo.