Com a segunda onda de casos de covid-19 e o aumento de internações pela doença, alguns Estados e municípios brasileiros têm enfrentado o desabastecimento de medicamentos para tratamento e intubação dos pacientes infectados. Visando a garantir os insumos necessários para atender às Unidades de Terapia Intensiva (UTI) e para as cirurgias de emergência, a Sociedade Brasileira de Anestesiologia (SBA) recomendou a suspensão provisória do agendamento de cirurgias eletivas que utilizem os medicamentos faltantes para tratamento da covid-19.
A recomendação é, principalmente, para os hospitais que já enfrentam o desabastecimento. No Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, há estoque de medicamentos para intubação, sedação e tratamento suficiente para os próximos dez dias. Diariamente, o departamento responsável pelo abastecimento do HC verifica a disponibilidade de medicamentos e contata as farmacêuticas responsáveis pela distribuição. “Diariamente é feito o contato entre esse núcleo de gestão e as farmácias. Nos próximos dias não temos problema. Agora, como o HC é um hospital terciário, que recebe pacientes muito graves, as cirurgias não podem ser suspensas, porque temos emergências graves”, afirma José Otávio Costa Auler Júnior, titular da Faculdade de Medicina da USP e coordenador de atividades de Anestesiologia do Complexo HC, em entrevista ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição.
O médico informa que no kit intubação constam bloqueadores musculares para relaxamento, um hipnótico e um anestésico, geralmente Fentanil e Quetamina. Depois de intubado, o paciente precisa ficar sedado, então utiliza-se o relaxante muscular para acoplar ao ventilador mecânico e o medicamento hipnótico, seja Propofol, Barbitúrico ou Benzodiazepínico, que é o mais usado. Há alguns tipos de medicamentos que produzem o mesmo efeito, portanto, no caso de falta, é possível trocar por outro similar: “Nós temos dois ou três tipos de opioides que podem ser trocados, dependendo da disponibilidade. Relaxante muscular a gente tem três ou quatro classes que podem ser trocados. Toda essa medicação é revista diariamente pelo nosso centro de abastecimento. As farmacêuticas conferem diariamente o consumo e veiculam disponibilidade do dia para as áreas, UTIs e centros cirúrgicos. Se houver redução de uma medicação, usamos outra. Neste momento, pelos próximos dias, não há nenhum risco aparente de desabastecimento no HC”.
Auler Júnior acredita que o número de cirurgias eletivas caiu devido à pandemia, o que faz sobrar sedativos. Contudo, algumas cirurgias não podem ser postergadas para não prejudicar a vida dos pacientes: “Em alguns lugares, as cirurgias não podem ser postergadas para esperar o fim da covid-19, se não o paciente morre de outras causas”. A recomendação da SBA é de adiar apenas as intervenções cirúrgicas que não prejudiquem a saúde do paciente. “Se a cirurgia puder ser postergada, se for uma causa que não haverá prejuízo da saúde do paciente, que se espere. Agora, no caso de emergência, não tem o que fazer. Temos que contemplar as duas situações, porque com a covid-19 dá uma impressão de que as outras doenças pararam, mas claro que não, as doenças continuam e às vezes as pessoas têm problemas com necessidade de intervenção cirúrgica e precisam ser operadas.”
Quanto aos casos de desabastecimento de medicamentos, o médico enxerga que nem sempre o problema é a compra dos produtos, mas sim a disponibilidade: “O problema é que muitas vezes os fornecedores dependem de importação de materiais e, se a pandemia se agravar em outro lugar, fica difícil para eles terem o material de importação necessário. Mas acredito que, no dia a dia do uso dos frascos, essa medicação tem que ser feita sempre em bombas de infusão calibrada evitando o desperdício. Vai se superando. A gente espera que nas próximas semanas a situação vá se reduzindo”.
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