Mais informações sobre o estudo podem ser obtidas em: www.hemocentro.fmrp.usp.br/terapia/
*Com informações da Assessoria de Imprensa do Centro de Terapia Celular (CTC) da USP
**Estagiária sob supervisão de Moisés Dorado
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o relatório de segurança da primeira fase do estudo clínico Carthedrall, com a Terapia Celular CAR-T produzida no Hemocentro de Ribeirão Preto em parceria com o Instituto Butantan, e autorizou a progressão para a segunda etapa. O parecer favorável foi divulgado oficialmente na quarta-feira (11/12), pela autoridade de saúde brasileira.
A terapia com as células CAR-T consiste na modificação genética das células do sistema imune chamadas linfócitos, que circulam pela corrente sanguínea. Esses linfócitos são “treinados” em laboratório para reconhecerem um determinado alvo, e depois devolvidos na corrente sanguínea dos pacientes.
O estudo clínico Carthedrall visa tratar 81 pessoas com leucemia linfoide aguda de células B (LLA) ou linfoma não Hodgkin de células B refratários – quando o câncer não responde mais à terapia ou regressa de forma muito rápida –, em cinco centros de referência brasileiros. O objetivo é verificar a segurança e eficácia das células CAR-T. O estudo é financiado pelo Ministério da Saúde por meio do Programa para o Desenvolvimento do Complexo Industrial da Saúde (Procis).
Na etapa inicial, os pacientes foram recrutados e tratados no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (HC-FMRP) da USP. Segundo Diego Villa Clé, coordenador do Núcleo de Terapia Avançada (Nutera) do Hemocentro de Ribeirão Preto e investigador principal do estudo Carthedrall, “todos os pacientes tratados demonstraram resposta às células CAR-T, e o procedimento foi seguro. Não houve nenhum efeito colateral grave”.
A aprovação da Anvisa e liberação para a segunda fase do estudo permite aos centros parceiros – Hospital das Clínicas (HC) da FMUSP, Beneficência Portuguesa, Hospital Sírio -Libanês, sediados em São Paulo (SP), e Hospital de Clínicas de Campinas da Unicamp – também recrutar e tratar pacientes a partir de janeiro de 2025.
A meta é oferecer futuramente a terapia de forma gratuita no Sistema Único de Saúde, o SUS. Rodrigo Calado, diretor-presidente do Hemocentro de Ribeirão Preto e professor titular de Hematologia da FMRP, explica que existem hoje tratamentos com as células CAR-T comercialmente no Brasil, mas que são inviáveis do ponto de vista econômico. “O nosso trabalho é fazer uma tecnologia completamente nacional para que esse tratamento seja acessível a todos os pacientes atendidos pelo SUS”, diz.
O tratamento com células CAR-T é feito no Brasil desde 2019, em colaboração do Hemocentro da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP com o Instituto Butantan – Foto: Assessoria do Hemocentro do HC-FMRP
Há quase uma década, o Hemocentro de Ribeirão Preto tem se dedicado às terapias celulares, apoiado pelo Centro de Terapia Celular (CTC), um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepids) da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), sediado na USP. A tecnologia para a produção das células CAR-T foi desenvolvida na instituição e, como resultado, o primeiro tratamento da América Latina foi realizado em Ribeirão Preto, em 2019.
Os resultados iniciais permitiram a continuidade da iniciativa e a criação de uma parceria entre o Hemocentro de Ribeirão Preto, a USP e a Fundação Butantan, com apoio das agências de fomento Fapesp e CNPq. A colaboração resultou na formação do Nutera, em Ribeirão Preto. A “fábrica de células” já está em operação e será responsável por atender à demanda dos pacientes.
O CAR-T atualmente produzido no Nutera é específico para combater um alvo chamado CD19, proteína presente somente na leucemia linfoide aguda de células B e no linfoma não Hodgkin de células B. Desta forma, esta imunoterapia não possui efetividade em outros tipos de câncer.
Além da produção das células CAR-T anti-CD19 para o tratamento de leucemia e linfoma, o Nutera busca ampliar as pesquisas em novas terapias celulares. O foco é usar o próprio sistema imune para combater as doenças.
Em outubro deste ano, mais de R$ 7 milhões foram aprovados pelo CNPq para a realização de um estudo clínico com foco em doenças autoimunes. O projeto, que irá tratar pacientes com lúpus eritematoso sistêmico com as células CAR-T, foi aprovado com a maior nota dentre os participantes da chamada “Genômica e Saúde Pública de Precisão”, promovida pelo CNPq, Genomas Brasil, Ministério da Saúde e Governo Federal, e deve ter início nos próximos anos.
O Hemocentro da FMRP conta com uma “fábrica de células”, o Nutera, que faz parte do maior programa de tratamento contra câncer da América Latina – Foto: Assessoria do Hemocentro do HC-FMRP
Os pacientes serão tratados em duas instituições, o Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto (HC-FMRP) da USP– com a coordenação de Maria Carolina de Oliveira Rodrigues, coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Imunologia Básica e Aplicada da FMRP, e Paulo Louzada Junior, vice-coordenador do Cepid-Fapesp Centro de Pesquisa em Doenças Inflamatórias–, e o Hospital das Clínicas de São Paulo (HC-FMUSP), por Eloisa Bonfá, coordenadora da rede de Centros Universitários de Dispensação de Medicamentos de Alta Complexidade (CEDMAC), e Luciana Seguro, médica reumatologista e membro da Comissão de Lúpus da Sociedade Brasileira de Reumatologia.
Mais informações sobre o estudo podem ser obtidas em: www.hemocentro.fmrp.usp.br/terapia/
*Com informações da Assessoria de Imprensa do Centro de Terapia Celular (CTC) da USP
**Estagiária sob supervisão de Moisés Dorado