Google lança dispositivo para detecção de terremotos

O professor Flávio de Almeida aponta o fato de que essa solução não é um novo equipamento: o celular passa a compor uma rede de sismógrafos

 08/10/2020 - Publicado há 4 anos
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Foto: Free-Photos/Pixabay

No mês de agosto, o Google anunciou o lançamento de um sistema de detecção de terremotos por meio de aparelhos com sistema Android. Essa tecnologia se baseia nos acelerômetros, dispositivos que detectam variação de velocidade de cada aparelho celular e no ShakeAlert, um sistema norte-americano de alerta de terremotos baseado em uma rede de sismógrafos.

Flávio Vaz de Almeida, professor do Departamento de Engenharia de Transportes da Escola Politécnica (Poli) da USP, explica que esse projeto do Google vem de uma proposta surgida nos anos 1990 de medição de abalos sísmicos a partir da queda de notebooks, que, assim como os celulares, possuem acelerômetro. A ideia não fez muito sucesso, segundo ele. 

O acelerômetro funciona da seguinte forma: enquanto o notebook ou celular está caindo, o dispositivo detecta a queda e comunica para uma central. Na época da proposta dos notebooks, isso serviria para evitar danos no HD externo da máquina. A proposta do Google surge, agora, segundo Almeida, pela grande disponibilidade de aparelhos celulares com acelerômetro. 

“Se eu derrubo o meu celular, não caracteriza um terremoto. No entanto, se todo mundo balança com certa característica de intensidade ou frequência, ou seja, diversos acelerômetros ativados por um mesmo movimento, isso pode caracterizar um abalo sísmico. A ideia por trás é a movimentação coletiva de telefones”, explica. 

O Google desenvolveu, então, uma central que reúne as informações desses acelerômetros. Se é detectado, em uma certa região, que os acelerômetros de diversos aparelhos têm uma mesma resposta, os usuários recebem alerta da possibilidade de abalos sísmicos. “A ideia é que os usuários ganhem tempo para se protegerem, seguirem os protocolos estabelecidos para terremotos”, diz Almeida. 

As primeiras versões do software foram disponibilizadas na Califórnia, de onde operam os sismógrafos da rede ShakeAlert. Os equipamentos dessa rede são usados para calibrar o sistema do Google, por meio de inteligência artificial e aprendizado de máquina. Como os sismógrafos são os aparelhos mais consistentes na medição de abalos sísmicos, a ideia é treinar o software do Google para que possa caracterizar os terremotos. 

O professor Flávio de Almeida aponta o fato de que “essa solução não é um novo equipamento: o seu celular passa a compor uma rede de sismógrafos. Não que ele seja um sismógrafo, mas ele tem um acelerômetro que tem a capacidade de detectar certos tipos de vibração que, no coletivo, podem dar a caracterização de um sismo”.

Por fim, ele aponta para um problema, que é o da privacidade dos dados. O Google alega que é preciso apenas a posição não muito precisa dos usuários para essa plataforma. Para Almeida, se a privacidade for realmente respeitada, como afirmam, é uma solução importante, especialmente para lugares de instabilidade geológica, onde não há redes de sismógrafos. 

Ouça a íntegra da entrevista no player. 


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