Fatores históricos e sociais apontam perfil da população da Cracolândia

O pesquisador Marcelo Batista Nery explica a existência de condições específicas que vão além da segurança pública na região

 07/02/2023 - Publicado há 1 ano
A população da Cracolândia não é uma população recente e se renova frequentemente (Rovena Rosa/Agência Brasil)
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Dados recentes divulgados em levantamento feito pela Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) sobre a Cracolândia apontam que frequentadores vivem há pelo menos dez anos na região. O levantamento feito também aborda o perfil dos locais em que há aglomeração de usuários nas cidades de São Paulo, Fortaleza e Brasília, bem como os fatores que ocasionam a ida deles para essas regiões. 

Os dados apontam que a população da Cracolândia não é uma população recente e que ela se renova frequentemente. A partir deles foi possível constatar que esse é um processo que ocorre por fatores históricos e sociais, longe de ser um retrato de momento, e, sim, uma ocorrência de anos. 

O pesquisador Marcelo Batista Nery, do Instituto de Estudos Avançados (IEA) e do Núcleo de Estudos da Violência (NEV-USP) no Programa Cidades Globais, também da USP, deixa claro que “a questão da Cracolândia não envolve apenas o tráfico e consumo de entorpecentes, como também a violência domiciliar e intrafamiliar e a intervenção ou não do poder público”. 

Marcelo Batista Nery – Foto: Reprodução/NEV

Para ele, esse seria “um processo que diz respeito à negligência social e também aos agentes públicos”, que variou nos últimos anos por diversos motivos, um deles foi a pandemia, que ocasionou um aumento na violência domiciliar. O pesquisador salienta que os usuários tendem a deixam suas casas por conflitos familiares e por violência doméstica. Além de esclarecer de que forma a violência afeta a situação na região, isso também indica a existência de “marcos sociais específicos”.

Em São Paulo, houve o espalhamento da Cracolândia para locais com características socioeconômicas e também de infraestrutura urbana semelhantes. Com a tendência da intervenção do poder público em ocasionar essas dispersões, fato que é colocado pelo pesquisador, é importante observar também as consequências dessa ação, além de pensar em alternativas em longo prazo. 

Conciliar para intervir

Antes, é preciso ter dimensão da situação, a partir do contexto do problema e assim partir com as possíveis intervenções. Mas isso implica a movimentação dos poderes públicos em várias áreas, como explica o pesquisador Marcelo Nery, envolvendo segmentos de infraestrutura em habitação, saúde, educação e segurança, em âmbitos municipais, estadual e federal. Para ele, existem intervenções de infraestrutura urbana e social que podem melhorar essa questão da Cracolândia. 

A conciliação entre a lógica existente entre os agentes de saúde, que priorizam o bem-estar dos indivíduos, e o ponto de vista da ação criminal também facilitará pensar em alternativas e em soluções. “Esse tipo de condição tem que ser superada para que a gente comece a ser efetivo em casos como o da Cracolândia”, complementa o pesquisador. Nery já desenvolveu a questão da solução para a Cracolândia em entrevista para o Jornal da USP no Ar – 1ª Edição, com o então problema da dispersão de usuários na região, e trata o tema como uma questão de segurança pública, mas não somente.


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