“Diálogos na USP” faz reflexão sobre os 60 anos do Golpe de 1964

Os professores José Álvaro Moisés e José Eduardo Faria discutiram a herança política e psicológica do golpe que colocou o Brasil em 21 anos de ditadura militar

 25/03/2024 - Publicado há 1 mês
Militares da Força Pública, atual Polícia Militar, protegendo o Palácio Guanabara, no Rio de Janeiro, durante o Golpe Militar no Brasil em 31 de março de 1964 – Foto: via Wikimedia Commons

 

Já se disse que quem não tem uma visão histórica dos fatos, tem uma visão histérica deles. Então, por mais que haja ainda quem chame o que aconteceu em 31 de março de 1964 de “Movimento”, de “Revolução”, de “Redentora”, o fato é que foi um golpe. Um golpe civil-militar que apeou do poder o presidente João Goulart e colocou o Brasil em uma noite que durou 21 anos. A nova ordem militar cerceou liberdades de todas as formas possíveis e imagináveis, prendeu, exilou, torturou. E criou a figura fantasiosa de ditadores se substituindo no poder a cada temporada, naquilo que um dos generais presidentes chamou de “democracia relativa”. Essa é uma visão histórica e, parafraseando Vinicius de Moraes – aposentado compulsoriamente como diplomata por este mesmo regime –, a verdade é fundamental.

Mas há a visão histérica. Aquela de pessoas que acreditavam que a tal “revolução” seria a cura de todos os males que um suposto comunismo poderia engendrar. E pior: ainda vê. Seis décadas depois, vemos a postura distópica de gente que brada pela volta do regime militar – sem ter noção do que isso realmente signifique – e que atravessa os limites do razoável, do bom senso, do Estado democrático de direito. A histeria causada pela falta de visão histórica vai desde a improvável multidão cantando o Hino Nacional para um pneu até o atentado de 8 de janeiro de 2023. Tudo capitaneado por gente saudosa das fardas e dos grilhões.

Mas o quanto é importante, é essencial, se rediscutir o Golpe de 64? É justamente sobre isso que o cientista político José Álvaro Moisés, professor sênior do Instituto de Estudos Avançados da USP, e José Eduardo Faria, professor titular e ex-chefe do Departamento de Filosofia e Teoria Geral do Direito da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, falaram com os jornalistas Marcello Rollemberg e Luiz Roberto Serrano no Diálogos na USP, que foi ao ar no último dia 22. “Uma retomada factual do que ocorreu não nos ajuda a interpretar todos os fatores que estiveram presentes para a detonação do golpe”, afirmou José Álvaro Moisés. “E a preocupação, hoje, de uma educação política para se entender o golpe não tem muito espaço no País”. Já para José Eduardo Faria, “temos que levar em consideração que na época do golpe tínhamos a Guerra Fria e todo um contexto político e social. Ao longo dos governos militares, ficou claro que havia uma grande dúvida sobre qual projeto de país eles tinham para o Brasil”, ressaltou Faria.

Veja a seguir a íntegra do Diálogos na USP sobre os 60 anos do Golpe de 64.

 

 

 


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