Com o lockdown na China e a guerra da Ucrânia, a economia mundial encontra-se em um cenário inflacionário e de incerteza. De acordo com relatório do Banco Mundial, em 2023 e 2024 haverá um recuo no preço das commodities, o que pode desacelerar o PIB brasileiro. Diante da análise desse cenário, é necessário que políticas públicas sejam feitas para minimizar os impactos dessa crise financeira à sociedade.
Em entrevista ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição, o professor Paulo Feldmann, da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP, explica que esse problema vem da consequência da covid-19, que obrigou a China a realizar o lockdown, o que diminuiu o comércio internacional. “Há uma falta mundial de quase tudo, porque ficou difícil transportar. Hoje tem 500 navios de grande porte parados em Xangai.”
Com essa falta de oferta nos transportes, as poucas opções que sobraram, segundo Feldmann, quadruplicaram o preço do frete. “Antes da pandemia, para transportar um contêiner custava menos de US$ 2 mil. Hoje, um contêiner transportado custa US$ 9 mil”, ressalta.
Outro ponto abordado pelo professor é sobre a questão da diminuição da oferta de gás na Europa. Os dois principais gasodutos, na Alemanha e na Ucrânia, não estão mais fornecendo matéria-prima vinda da Rússia. “Está faltando gás natural na Europa. […] O preço subiu de uma forma assustadora”, gerando uma grande inflação — em países como a Alemanha, já está em cerca de 8%.
Consequências para o mercado brasileiro
A China é o maior consumidor de soja e carne bovina importadas do Brasil. O lockdown e a economia parada podem resultar na diminuição desse consumo e impactar diretamente a venda das exportações e o PIB brasileiro. “Esse boom das commodities não vai continuar, porque o mundo vai consumir muito menos, principalmente as commodities, cujo principal comprador mundial é a China”, afirma.
A Europa também deixará de consumir produtos brasileiros, dada a recessão causada pela guerra e inflação. “Se considerar que a Europa é um outro grande comprador de commodities brasileiras, então nós temos que ficar preocupados, porque logo a Europa também vai diminuir as compras do Brasil”, destaca o professor.
Nesse cenário de crise econômica mundial e incertezas, é necessário que as autoridades econômicas brasileiras discutam políticas que atenuem os impactos da crise na população. “É um momento de planejamento. É isso que está faltando: nós precisamos que os nossos dirigentes […] olhem para o que está acontecendo no mundo e preparem o Brasil para essa crise”, pondera Feldmann.
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