É necessário investir em pesquisa, apesar das previsões otimistas para o setor do agronegócio

O professor José Otávio Machado Menten traça um panorama do setor do agronegócio no Brasil a partir de previsões otimistas do Ipea e do IBGE

 03/04/2023 - Publicado há 1 ano
O Brasil é destaque na produção de grãos, sobretudo a soja – Foto: Arquivo/Agência Brasil

 

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Previsões do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada colocam que o agronegócio deve aumentar PIB do setor agropecuário em até 10%. A produção de grãos deve totalizar 302 milhões de toneladas, um recorde e aumento de 14,7% com relação ao ano passado, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

A expectativa desse crescimento depende de vários fatores e um deles é a tecnologia: “O principal para o Brasil foi a incorporação de tecnologia graças às pesquisas desenvolvidas e à incorporação dessas inovações pelos agricultores. O Brasil, nesses últimos 50 anos, transformou-se de um país importador de alimentos num dos principais países tanto na área de produção como na de exportação; hoje somos uma referência mundial”, explica o professor José Otávio Machado Menten, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da USP, presidente do Conselho Científico Agro Sustentável e também representante da USP na Comissão de Educação Sanitária em Defesa Agropecuária do Estado de São Paulo.

Destaques

José Otávio Machado Menten – Foto: Justino Lucente/Prefeitura de Piracicaba

O Brasil é destaque na produção de grãos, sobretudo a soja: “O Brasil hoje é líder, tanto no que se refere à produção quanto na exportação do complexo soja que é uma das principais commodities. Espera-se que o Brasil continue nessa liderança, já que cerca de 50% da soja que se consome no mundo é proveniente do Brasil”, comenta Menten. Além disso, o País também é relevante na exportação de suco de laranja e de carnes, como frangos, sendo o maior exportador do mundo

As condições climáticas também são pontos importantes na estimativa de crescimento, como coloca o professor: “Principalmente no ano passado e nessa safra, as chuvas estão bem distribuídas pelo Brasil, com exceção do Rio Grande do Sul. Mas, de uma maneira geral, como nós cultivamos hoje praticamente no Brasil inteiro e o grande centro de produção é o Estado do Mato Grosso, nós conseguimos superar essas dificuldades climáticas e as expectativas deste ano são boas.”

Quanto ao Estado de São Paulo, é o principal produtor do complexo citrus, que inclui a laranja, mas também produz carnes, grãos e hortifruti. Esse último não é frequentemente lembrado, mas Menten destaca sua importância: “A gente normalmente não cita a produção de hortaliças, mas elas têm uma importância muito grande na geração de emprego, de renda e na qualidade da alimentação da população. Não há ainda um produto que se destaque na pauta de exportações, mas nós temos potencial“.

Obstáculos

“A grande preocupação do agro é com a segurança jurídica, o problema fundiário. Nós temos que superar com a maior rapidez possível e resolver definitivamente o problema de posse de terra e a segurança de não haver mais invasões. Outro ponto principal também é melhorar a imagem do Brasil no que se refere ao desmatamento: termos dados confiáveis, pessoas que falem o que de fato está ocorrendo”, pontua o especialista. 

Juros altos são sempre um fator que dificulta para o agricultor – Fotomontagem: Freepik, Flaticon e Pixabay

Outro obstáculo para atingir as previsões é a parte do crédito rural para o agricultor, bem como os juros elevados, como diz Menten: “Juros elevados são sempre um fator que dificulta para o agricultor. O produtor tem mais dificuldade de tomar a decisão, mas temos que pensar no pequeno agricultor, que depende desses empréstimos. Só vão se manter no agro aqueles que atingem níveis de produtividade muito bons, ou seja, incorporam tecnologia, buscam informação e para isso são precisos recursos”. 

Mesmo com esses obstáculos, é necessário manter o investimento em pesquisas e na formação de pessoas em todos os ramos do agro, desde a produção de insumos, máquinas, até as atividades dentro da fazenda. É importante ressaltar a necessidade do Brasil de trabalhar no processamento dos produtos: “Nós temos que agregar valor cada vez mais aos nossos produtos, para que esse ganho aumente ainda mais. É muito melhor se a gente conseguir exportar um café processado do que o café em grão, o mesmo vale para as outras commodities que hoje são exportadas”, explica o professor. Ele ainda acrescenta: “Nós estamos bem, mas é lógico que temos muito mais para evoluir pelo potencial que apresentamos”.


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