A reconstrução de políticas públicas de direitos humanos passa pelo envolvimento de todos

“Todos sabíamos que haveria uma agenda do atual governo federal de destruição dos direitos humanos”, afirma Paulo Endo

 04/07/2022 - Publicado há 2 anos
Em 1993, se dá um passo adiante na implementação dos direitos humanos – Foto: Freepik
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O GPDH (Grupo de Pesquisa Direitos Humanos, Democracia, Política e Memória), do Instituto de Estudos Avançados da USP, discute a importância da reconstrução das políticas de direitos humanos no Brasil. Em entrevista ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição, o professor Paulo Endo, psicanalista do Instituto de Psicologia da USP e coordenador do projeto, examina a atual situação brasileira e apresenta o trabalho desenvolvido pelo grupo.

De acordo com o professor, 2019 foi um momento extremamente importante e urgente: “Todos sabíamos que haveria uma agenda do atual governo federal de destruição dos direitos humanos. A gente sabe muito bem que governos de extrema direita, governos autoritários, têm três eixos de ataque muito evidentes quando assumem o poder.” Os eixos destacados por Endo são as produções culturais, onde aparecem e se disseminam pensamentos críticos a produções inovadoras, o afronte a todos os tipos de saberes populares e acadêmicos, que pode ser visto no desprezo com as universidades federais, e no ataque aos direitos humanos.

Ações de contenção

O grupo, ao identificar o futuro complicado, começou a agir em 2019. “Nós começamos a gestar um ciclo não apenas de debates e de diagnóstico, mas um ciclo onde a gente procurou reunir alguns dos principais protagonistas no campo dos direitos humanos em áreas específicas. Então, a primeira foi sobre a construção das políticas para as mulheres no Brasil”, descreve o professor. O GPDH também promoveu um evento sobre o desmonte das políticas públicas de direitos humanos. Além desses tópicos, já estão sendo planejadas discussões sobre o desmonte das políticas raciais e sobre o desmonte das políticas de combate à tortura. Endo comenta: “Em cada um desses eventos, nós procuramos chamar alguns protagonistas importantes que ajudaram a construir essas políticas no âmbito do governo federal.”

Paulo César Endo – Foto: Reprodução/IEA-USP

Apesar de todas as divergências entre os governos do PSDB e do PT nos governos federais, houve uma linha de continuidade no que se refere aos direitos humanos. “Desde a primeira gestão do Fernando Henrique Cardoso até o governo Dilma, a gente viu, no que tange tanto à construção das políticas de direitos para as mulheres quanto na construção dos direitos humanos, uma linha crescente de avanços. Nesse campo, a gente percebeu, a partir das promessas de governo, que isso começaria a ser destruído a partir de 2019”, aponta o professor.

Endo fala sobre a importância e ineditismo dos eventos: “No primeiro encontro que nós fizemos, a construção de desmonte das políticas das mulheres, nós chamamos pela primeira vez todas as secretárias e ex-ministras de políticas para as mulheres desde o governo Itamar Franco até o governo Dilma, para fazer esse diagnóstico, propor ações e produzir e assinar um manifesto.” No segundo encontro, o GPDH também conseguiu reunir pela primeira vez os ex-ministros de Direitos Humanos no Brasil.

Avanços gradativos correm perigo

A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi adotada pela Organização das Nações Unidas em 1948, mas a Conferência Mundial sobre Direitos Humanos de 1993, em Viena, foi um passo importante. “Em 1993 é que de fato se dá um passo adiante na implementação dos direitos humanos, a gente chama de implementação regional, a questão sobre como cada país se comprometerá em nível regional e que mecanismos a própria ONU gerará para produzir efetivamente a consolidação dos direitos humanos do mundo todo”, atesta o professor. 

Até a conferência de Viena, as políticas de direitos humanos não contemplavam e não davam a atenção necessária para as mulheres. Endo diz que, “em 1993, elas passam a ser um capítulo à parte na defesa fundamental e frontal da violação de direitos das mulheres do mundo inteiro. Parece que as mulheres não eram humanas”. O professor relembra que o desmantelamento começou em 2016, com a extinção da Secretaria Especial dos Direitos Humanos, em um dos primeiros atos do ex-presidente Michel Temer: “Um trabalho de 30 anos foi desfeito com uma canetada, uma das primeiras ações do governo prepararia o que viria depois.”


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