Robinson Janes, um militante da Educação

Por Lisete Arelaro, Professora Emérita da Faculdade de Educação da USP

 13/07/2021 - Publicado há 3 anos
Lisete Arelaro – Foto: Marcos Santos / USP Imagens
Faleceu no dia 8 de julho de 2021 o educador Robinson Janes, participante do projeto Movimento de Alfabetização de Adultos (MOVA-SP). Graduado em Pedagogia pela Faculdade de Educação da USP (1984), Robinson também obteve o título de mestre e doutor pelo programa de Educação da mesma Universidade. Era professor aposentado da Faculdade de Filosofia e Ciências Júlio de Mesquita Filho (Unesp, campus de Marília/SP), onde pesquisava e atuava principalmente nos seguintes temas: educação de jovens e adultos, autogestão, cooperativismo, reforma agrária, educomunicação e educação nos movimentos dos trabalhadores rurais sem terra.

Durante a graduação, Robinson participou ativamente do grupo de discussão sobre a reformulação dos cursos de preparação de recursos humanos para a educação, fazendo parte do Comitê Nacional Pró-Formação do Educador, na qualidade de representante dos alunos da Faculdade de Educação da USP e membro do Centro Acadêmico Paulo Freire, também da FEUSP. Nesse processo de discussão sobre a importância da formação do educador e o papel dos cursos de pedagogia e demais licenciaturas no País, nasceu, por parte dos alunos de diversas regiões do Brasil, a ideia da criação do Encontro Nacional dos Cursos de Pedagogia, o ENEPe (1980). Robinson foi um militante apaixonado da educação nesse processo de organização e estruturação dos primeiros ENEPe, representando o Estado de São Paulo, juntamente com Marcia Santos, Francisca Eleonora (Fran), Ocimar Munhoz e vários outros combativos companheiros.

Robinson iniciou sua caminhada em Educação de Jovens e Adultos (EJA) na Secretaria Municipal do Bem-Estar Social, Regional Campo Limpo (SP). Enquanto coordenador de EJA, Robinson desenvolveu seu trabalho de formação de educadores baseado em Paulo Freire. Foi lá que muitos educadores de EJA em Campo Limpo aprenderam o que era a concepção freiriana de educação. Não mais só nos textos e nos bons debates acalorados da faculdade, mas também na prática, num fazer cotidiano: planejado, executado, avaliado e refletido à luz de Freire.

Na gestão de Luiza Erundina (1989–1992), tendo Paulo Freire à frente da Secretaria Municipal de Educação, Robinson desde o início integrou a equipe central do MOVA-SP, participando do processo de elaboração, estruturação e implantação do projeto. Coordenou cursos de Formação Inicial para os educadores populares que ingressavam no projeto, assim como o processo de Formação Permanente de supervisores populares.

Em relação ao processo de formação dos educadores, Robinson despendeu especial atenção ao estudo da Realidade. Para ele, a leitura do mundo, como nos ensinou Paulo Freire, prescindia a leitura da palavra. Para sairmos de uma educação bancária era necessário ampliarmos nosso conhecimento sobre nossa realidade, para podermos analisar, refletir, sem a qual dificilmente nos tornaríamos educadores/educandos sujeitos críticos, dizia ele.

Sua contribuição para os debates internos da equipe da secretaria e na preparação/ execução de cursos de formação permanente sobre o estudo da Realidade tiveram uma enorme contribuição nesse trabalho.

Quem o conheceu sabe da sua atuação e dedicação em sua militância, na educação popular e na vida acadêmica; nunca negou ou hierarquizou sua participação em nenhum destes campos de atuação. Tinha uma paciência invejada, era incrível vê-lo participar de debates, por vezes exaustivos, junto a educadores, ouvindo cuidadosamente a todos sem perder a direção e o objetivo do debate, por exemplo.

Tinha uma grande generosidade: tanto em nível pessoal ajudando um(a) amigo(a), como no trabalho, arrumando sempre um tempinho para atender às diversas solicitações que surgiam.

Seu espírito de coletivo, sua capacidade de fazer junto (em parceria), foi um aprendizado importantíssimo para todos(as) que conviveram com ele no MOVA. Apaixonado por questões sociais desde criança, foi um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores na cidade de Poá-SP, em 1982. Na adolescência, foi um dos criadores do Grupo Cena, primeiro grupo teatral de Poá. Deixa a esposa Cristiane, a filha Ane Cristina e três irmãos.

Robinson Janes presente.


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