Evidências científicas sobre a ação do laser nos processos dolorosos

Por Fernando Carvalho, pesquisador da Faculdade de Odontologia da USP (FOUSP), e Patrícia Freitas, professora da FOUSP

 30/11/2021 - Publicado há 2 anos
Fernando Carvalho – Foto: Arquivo pessoal
Patrícia Freitas – Foto: Arquivo pessoal

 

 

A Associação Internacional para Estudos da Dor (Iasp – International Association for the Study of Pain), atualizou a definição de dor, em 2020, como sendo “uma experiência sensitiva e emocional desagradável, associada ou semelhante àquela associada a uma lesão tecidual real ou potencial”, e salienta que “é sempre uma experiência pessoal que é influenciada, em graus variáveis, por fatores biológicos, psicológicos e sociais“ e que “a descrição verbal é apenas um dos vários comportamentos para expressar a dor; a incapacidade de comunicação não invalida a possibilidade de um ser humano ou um animal sentir dor”. Dependendo da sua origem, intensidade, duração e localização, a dor pode limitar ou impedir que as atividades da vida diária sejam realizadas, impactando diretamente a qualidade de vida.

A dor aguda tem um papel fundamental para a sobrevivência do ser humano, pois sinaliza que algo prejudicial está colocando nossa saúde em risco e que necessita de cuidado; já a dor crônica, definida como uma dor com duração de três meses ou mais, não tem utilidade biológica, pois geralmente são dores resultantes de doenças graves, que permanecem mesmo depois de tratadas, ocasionando sofrimento. Estima-se que uma em cada cinco pessoas no mundo sofrem de dor crônica e por isso muitos pesquisadores se dedicam incansavelmente para descobrir a melhor forma de tratar e controlar a dor das mais diversas origens. A maneira mais comum de controle e alívio da dor é a utilização de medicamentos. Existem medicamentos com várias origens farmacológicas, mas dependendo da quantidade, do tempo e das características individuais de quem os utiliza podem ocasionar efeitos indesejados de intensidades variáveis (conhecidos como efeitos colaterais/adversos) e ainda podem induzir à tolerância, ou seja, depois de um período de uso de um mesmo medicamento, este para de fazer efeito e tem que ser substituído, muitas vezes com mais efeitos deletérios.

Neste contexto está inserida a terapia com laser de baixa potência, a qual é apontada cada vez mais como uma alternativa promissora e eficaz para o controle da dor. LASER é um acrônimo de Light Amplification by Stimulated Emission of Radiation (Amplificação da Luz por Emissão Estimulada de Radiação) e tem propriedades específicas que a diferem da luz branca. O laser de baixa potência proporciona muitos efeitos terapêuticos quando utilizado adequadamente por profissionais capacitados. Existem diversos estudos científicos que descrevem os efeitos benéficos da utilização da terapia a laser em várias áreas da saúde, mas de maneira geral destacam-se: a analgesia, a modulação do processo inflamatório e a reparação de tecidos biológicos.
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Os benefícios da utilização do laser são alcançados a partir de complexos processos intra e extracelulares que se iniciam imediatamente após a irradiação e se seguem por horas e até dias. O processo de analgesia ocorre basicamente devido a três importantes eventos desencadeados pelo laser:

(1) a diminuição da propagação do impulso doloroso ao sistema nervoso central devido a um processo bioquímico que ocorre na célula nervosa,
(2) o aumento da microcirculação local que promove a redução do edema e facilita a remoção de substâncias que causam dor (drenagem de substâncias algógenas) e
(3) por promover a liberação de substâncias que diminuem a dor (endorfinas endógenas). Geralmente, o alívio da dor é observado imediatamente após a irradiação, o que resulta em um conforto imediato ao paciente, adesão à terapia e a cooperação com o tratamento.

Além disso, é uma terapia com baixo custo no âmbito de saúde pública e que traz resultados positivos às pessoas que necessitam de tratamento analgésicos sem ocasionar tolerância ou efeitos colaterais. No entanto, como toda técnica, deve ser executada por um profissional devidamente capacitado.

A Faculdade de Odontologia da USP mantém, há 26 anos, um centro de pesquisa, ensino e clínica no uso de lasers reconhecido mundialmente, o Laboratório Especial de Laser em Odontologia (Lelo). Na área de pesquisa, promove pesquisas laboratoriais e clínicas com a finalidade de dar suporte científico para desenvolvimento e elaboração de protocolos terapêuticos de atendimento; na área de ensino, forma alunos de graduação e pós-graduação, compartilhando resultados de pesquisas e de protocolos terapêuticos e, além disso, presta atendimento público de qualidade nas diversas especialidades da odontologia aos que buscam tratamento na FOUSP e têm indicação de utilização da terapia a laser.

Entre os vários estudos em andamento no Lelo destaca-se um que utiliza a terapia a laser para manejo das disfunções temporomandibulares (DTMs). As DTMs se caracterizam, principalmente, por dor intensa na região da articulação temporomandibular (área que faz a conexão entre a boca e o crânio) e se espalha por toda a lateral da cabeça, podendo apresentar-se unilateral ou bilateral, resultando em dificuldade de execução das funções fisiológicas básicas da boca (mastigação, fonação, deglutição e sucção) e ocasionando perda da qualidade de vida. O objetivo dessa pesquisa é verificar cientificamente os efeitos positivos da laserterapia já observados clinicamente na redução de dor e na qualidade de vida dos pacientes, com a inclusão de 200 participantes. Após concluída, esta pesquisa será um marco científico importante nos estudos dos processos dolorosos que acometem os portadores de DTMs.


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