Série de conteúdos produzidos pelo projeto Ciclo22, que remete à reflexão da USP sobre quatro grandes marcos (1822, 1922, 2022 e 2122): o bicentenário da Independência do Brasil, o centenário da Semana de Arte Moderna, o tempo presente e os desafios para os próximos 100 anos

Reprodução do vídeo O livro como suporte da Arte, um dos vencedores do Prêmio Ciclo22 - Imagem: Youtube

Vencedores do concurso Ciclo22 relatam desafios da premiação

Pesquisadores que investigam marcos de 1822 e 1922 expuseram seus estudos em produções de vídeo

 15/07/2022 - Publicado há 2 anos     Atualizado: 18/07/2022 as 8:09

Crisley Santana

Com o objetivo de ampliar a visibilidade sobre as pesquisas acadêmicas e destacar a importância dos eventos históricos ocorridos em 1822 (Independência do Brasil) e 1922 (Semana de Arte Moderna), a Pró-Reitoria de Pós-Graduação (PRPG) da USP lançou o edital Prêmio Vídeo Ciclo22.

Os candidatos deveriam expor suas pesquisas acadêmicas, em nível de mestrado e doutorado, em produções de vídeo de até três minutos, abordando reflexões sobre os marcos históricos de 22. Três produções seriam selecionadas para o prêmio.

Wladimir Wagner Rodrigues, professor e designer gráfico, foi um dos vencedores. Sua tese, desenvolvida no Programa de Pós-Graduação Interunidades em Estética e História da Arte da USP, explora a participação das mulheres no campo artístico nacional no contexto do Movimento Modernista.

É a partir dos livros Batuque, samba e macumba: estudos de gesto e de ritmo, 1926-1934, da poeta Cecília Meireles (1901-1964), e Arte Plumária e Máscaras de Dança dos Índios Brasileiros, da artista Noemia Mourão (1912-1992), que ele investiga o assunto.

“A atuação das mulheres no campo artístico nacional teve uma relevância que não encontra similaridade em narrativas de outros países, especialmente no que se refere ao modernismo brasileiro, que além do protagonismo de Anita Malfatti e de Tarsila do Amaral contou com presenças femininas na literatura, na música, na dança, no teatro e no mecenato de artistas”, disse.

Wladimir Wagner Rodrigues venceu o concurso com um vídeo sobre a participação das mulheres no movimento modernista - Foto: Arquivo pessoal

Para ele, o maior desafio foi sintetizar a pesquisa em três minutos, além de lidar com a visibilidade do seu trabalho. Foi com o incentivo da sua orientadora, a professora Jane Aparecida Marques, que ele decidiu se inscrever no edital. “Além de divulgar meu projeto dando-lhe visibilidade, espero com isso expandir minha atuação, pois vejo nisso a possibilidade de encontrar pesquisadores com quem eu possa dialogar e aprimorar minha própria pesquisa”, afirmou.

O vídeo de Amanda Nakata, um dos vencedores, foi feito com base em sua pesquisa sobre o poeta brasileiro Chacal- Foto: Arquivo pessoal

O vídeo sobre a pesquisa de Amanda Nakata Mirage também esteve entre as produções vencedoras. Trata-se de uma dissertação orientada pelo professor Ivã Carlos Lopes no Programa de Pós-graduação em Semiótica e Linguística Geral da USP. Amanda investiga a obra do poeta brasileiro Chacal, que está ligado ao movimento “geração marginal”, ocorrido por volta de 1970. Conforme a pesquisadora relatou ao Ciclo22, há grande influência do modernismo, especialmente do autor Oswald de Andrade na obra de Chacal.

“Chacal brinca com a linguagem coloquial e com o humor, aspectos que Oswald trouxe em sua poesia”, afirmou Amanda. “Uma constatação que se delineia com importância, nesse momento, na minha pesquisa é a relação entre a língua e as maneiras de pensar de cada cultura e época, mas, também, às maneiras de sentir, ou seja, o papel estruturante da língua na formação do pensamento e da emoção”.

A terceira produção selecionada contém estudos dos pesquisadores Thomáz Fortunato e Lucas da Costa Mohallem, ambos orientados pelo professor João Paulo Garrido Pimenta no Programa de Pós-graduação em História Social da USP.

A pesquisa de Thomáz investiga o encurtamento das distâncias temporais no Brasil entre o final do século XVIII e o início do XIX, relacionado à formação da rede de correios no país. Tal formação teve impacto direto na maneira com que as informações, especialmente políticas e oficiais, eram transmitidas no contexto da independência do Brasil com relação à Portugal, segundo o pesquisador.

“Uma das principais conclusões da minha investigação consistiu na identificação de um fenômeno de encurtamento espaçotemporal, ou seja, muitas das distâncias dos tempos de comunicação foram comprimidas, aceleradas. E esse processo, de aceleração das comunicações postais, aponta para uma transformação da relação das pessoas, coletividades e instituições com o tempo e com o espaço”, disse.

Thomaz Fortunato investigou a formação das redes de correios no Brasil - Foto: Arquivo pessoal

Lucas Mohallem pesquisou a influência de Visconde de Cairu na Independência do Brasil- Foto: Arquivo pessoal

Já a pesquisa de Lucas, investiga a trajetória e o pensamento do político José da Silva Lisboa (1756-1835), conhecido como Visconde de Cairu, que teve atuação ativa no processo de Independência do Brasil. O pesquisador relata que a partir da pesquisa tem compreendido que o processo ocorrido em 1822 está ligado a outros contextos políticos.

“A análise do pensamento de Cairu, e sua comparação com a de outros personagens, tem me permitido constatar que a Independência do Brasil foi conduzida sob as sombras da Revolução Francesa. As afinidades políticas e intelectuais exibidas por Cairu, bem como os contornos de seu projeto para o Brasil, orientavam-se pela preocupação de evitar o contágio revolucionário”, afirmou.

Os pesquisadores relataram as dificuldades em manejar ferramentas para edição de vídeo, além de tornar o assunto de suas pesquisas algo de fácil compreensão geral. “No caso dos historiadores, a elaboração de trabalhos para divulgação suscita uma reflexão sobre as funções que a História desempenha no debate público e na construção da memória coletiva. A meu ver, estas são questões que os historiadores jamais deveriam perder de vista”, disse Lucas.

Thomáz finalizou ressaltando a importância de deixar a sociedade informada sobre as produções acadêmicas desenvolvidas com recursos públicos. “O edital da PRPG contribui com o adequado estímulo institucional e financeiro para a realização dessa empreitada, pois, inversamente proporcional à importância dessa divulgação está a baixa valorização que órgãos de avaliação e produtividade frequentemente atribuem a ela. Contra a pressão de prazos e avaliações, os pesquisadores têm se virado como podem para realizar uma tarefa que, certamente, poderia ser melhor desempenhada pela comunidade acadêmica caso oportunidades como essa, em que a divulgação científica é levada a sério, se multiplicassem”, afirmou.

Confira os vídeos vencedores do Concurso Ciclo22

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