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“Eu estava bem insegura com a vida universitária e com a responsabilidade que assumi ao escolher a minha profissão, tinha medo de que não fosse conseguir aprender o que precisava ou fazer tudo que a Universidade oferta”, relembra Barbara Máximo, aluna do curso de Medicina da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, sobre o momento que iniciou a graduação.
Em busca de acolhimento no período de adaptação, a estudante ingressou no programa Mentoring, que foi criado há 19 anos para oferecer apoio e suporte durante o início da graduação. O programa é um oferecimento exclusivo aos alunos da FMRP e é coordenado pelo Centro de Apoio Educacional e Psicológico (CAEP) da unidade. Assim como os outros participantes, Barbara foi inserida em um grupo formado por peers, veteranos que já passaram pela mentoria, e coordenado por mentores, que geralmente são docentes ou pós-graduandos da unidade.
Os grupos têm o objetivo de ser um espaço de conversa, suporte e direcionamento adequado, e podem ser realizados com frequência semanal ou quinzenal durante o período de seis meses no primeiro semestre do ano letivo. Além disso, são formados de acordo com as características de cada curso: Ciências Biomédicas, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Informática Biomédica, Medicina, Nutrição e Metabolismo e Terapia Ocupacional.
A troca de experiência e diálogo entre calouros, peers e mentores pode auxiliar em diversos aspectos, desde indicar os locais de aulas e laboratórios até ser apoio para quem chega e vai morar sem os pais pela primeira vez na vida. Além disso, o grupo favorece a aproximação com a profissão escolhida e abre espaço para sanar dúvidas e iniciar um planejamento para os próximos passos na carreira profissional.
“A mentoria proporciona uma enorme interação com os veteranos e docentes, o que é fundamental para o primeiro semestre, além de ser um escape para a rotina universitária, como um momento de pensar um pouco em si e não só nas disciplinas. Outra contribuição muito importante foi uma maior aproximação com a Terapia Ocupacional através de participações de profissionais convidados e dos relatos das docentes”, afirma o estudante Vitor Crespo, do curso de Terapia Ocupacional da FMRP.
Vitor ainda conta que buscou apoio por sentir a responsabilidade da rotina universitária, ter expectativa por ter ingressado na Universidade e enxergar inúmeras possibilidades de atividades oferecidas. “Acredito que dialogar com pessoas que passaram por situações, sensações e sentimentos semelhantes aos nossos adquire um caráter muito importante, nos mostra que não estamos no caminho errado, apenas falta-nos tempo. Acima de tudo é reconfortante, acolhedor, não apenas no cenário acadêmico, reverberando que estamos trilhando nossos caminhos juntos”, completa.
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Alívio e bem-estar na adaptação
De acordo com a psicóloga Gisele Curi de Barros, do CAEP, atual coordenadora do programa, conversar sobre as dúvidas e angústias proporciona um encontro em que as experiências são reconhecidas e legitimadas, contribuindo para o alívio e bem-estar. “Conversar sobre as dúvidas e angústias traz alívio, conforto, sensação de que a pessoa não está sozinha e de que o que ela sente, ou as dúvidas que ela traz, também foram vividas por outras pessoas”, afirma.
Além disso, estudantes que apresentam a necessidade de atendimento psicológico ou psiquiátrico são direcionados para os serviços disponíveis e exclusivos para estudantes da FMRP, como o CAEP e o Programa de Apoio Psiquiátrico e Psicológico ao Discente (PAPP-DIS) do Hospital das Clínicas.
Além dos benefícios para os alunos, o programa pode ser enriquecedor para os mentores. “É uma experiência que me atualiza, e aprendendo mais sobre cada novo grupo, adquiro elementos para a gestão educacional, além de entender as necessidades, desejos, dificuldades que o grupo está enfrentando no início do curso. São trocas verdadeiras que me enriquecem muito, pessoal e profissionalmente”, revela a professora Maria Paula Panúncio-Pinto, vice-presidente do CAEP e mentora entre 2008 a 2020 no curso de Terapia Ocupacional.
Em 19 anos de história, o programa contou com mais de 120 mentores, sendo a maioria formada por docentes de todos os cursos da FMRP. Além disso, pós-graduandos da unidade também já contribuíram com suporte aos universitários.
Aproximação durante a pandemia
É comum que a graduação seja um desafio para muitos estudantes, mas o contexto da pandemia pode aumentar o sentimento de apreensão e dificultar a adaptação. “A mentoria ofereceu a possibilidade de conhecer alguns veteranos e ter a figura dos mentores e mentoras como pessoas de referência nesse momento. Isso pode ajudar a diminuir a sensação de solidão, e nada melhor do que ter companhia, boas companhias, pelas estradas dessa vida”, conclui Gisele.
Mesmo com a distância física, os peers foram importantes para promover o relacionamento entre os estudantes e para a apresentação dos espaços físicos do campus de Ribeirão Preto através de fotos e vídeos com o objetivo de aumentar o pertencimento.
A história, concepção e discussões sobre o programa Mentoring estão presentes no relato de experiência Implementação de um programa de mentoring para estudantes de graduação em saúde: a experiência da FMRP-USP publicado na Revista Brasileira de Educação Médica.
Mais informações: caep@fmrp.usp.br
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