Você certamente já deve ter ouvido falar sobre cientistas que tiveram um papel fundamental na história das vacinas, como o inglês Edward Jenner e o norte-americano Albert Sabin. Mas você conseguiria citar o nome de uma mulher que tenha contribuído com o desenvolvimento desse produto tão importante na atualidade?
Embora poucas pessoas saibam, cientistas mulheres tiveram, sim, grande destaque nesse processo. Inconformadas com essa falta de visibilidade, a estudante de Ciências Biológicas da USP em Ribeirão Preto Nathália Pereira da Silva Leite, a doutoranda em Política Científica e Tecnológica da Unicamp Giselle Soares e a doutoranda em Genética e Biologia Molecular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Larissa Brussa resolveram dar a essas pesquisadoras a merecida visibilidade.
Integrantes da União Pró-Vacina, elas vão publicar, na próxima segunda, 8 de março – quando se comemora o Dia Internacional das Mulheres – um vídeo especial mostrando o protagonismo feminino no desenvolvimento das vacinas contra a covid-19. Posteriormente, outras publicações em diferentes formatos serão feitas abordando a história da vacinologia e devolvendo às cientistas mulheres seu papel nela.
A ideia surgiu a partir de um livro que Nathália leu no ano passado, chamado As Cientistas: 50 Mulheres que Mudaram o Mundo. “Fiquei surpresa em ver como os relatos se repetiam: eram pesquisadoras com exímias contribuições para a ciência que foram simplesmente apagadas da história. Tiveram seus trabalhos roubados e publicados por homens ou, até mesmo, ignorados. E existem muitas contribuições delas na biologia, na física, na química. O computador, por exemplo. A programação surge com a ideia de uma mulher! E eu fiquei refletindo: por que eu não sabia disso tudo? Por que quando eu penso em nomes de cientistas com grandes contribuições, só lembro de homens? Justamente porque elas foram excluídas”, conta a estudante.
Nathália destaca ainda a importância da representatividade feminina para atrair mais meninas para carreiras científicas. “Quando entrei na universidade, me inspirou ver mulheres ocupando posições de professoras e de pesquisadoras. Eu me enxergava nelas, sentia que podia ser assim também”, diz.
Segundo dados da Unesco, apenas 28% dos pesquisadores em todo o mundo são mulheres. Embora 74% das estudantes se interessem por ciência, tecnologia, engenharia e matemática, apenas 30% delas seguem carreira nessas áreas tradicionalmente dominadas por homens. “Os dados não têm a ver com a aptidão das mulheres nessas áreas. Eles ainda são herança histórica de um mundo que proibia as mulheres de ocupar esses lugares”, explica a estudante.
Além do vídeo que será postado no dia 8, a iniciativa terá cards, episódios de podcast e outros vídeos. Todo o material será postado no Facebook, Twitter e Instagram da União Pró-Vacina.
A produção, segundo Nathália, não foi tão simples. Ela e as colegas precisaram pesquisar estudos mais específicos sobre a participação de mulheres na ciência e análises de historiadores, já que, na história original, esses nomes nem sempre são mostrados.
“A gente sabe quem é Edward Jenner, mas não sabe quem é Lady Mary Montagu, que contribuiu para o desenvolvimento da primeira vacina. Sabe quem é Albert Sabin, criador da vacina contra a poliomielite, mas não sabe quem é Dorothy Horstmann, cientista que pesquisou o poliovírus e descobriu seu mecanismo de infecção, possibilitando assim a produção de uma vacina contra a doença”, exemplifica.
Sobre a União Pró-Vacina
A União Pró-Vacina é uma iniciativa articulada pelo Instituto de Estudos Avançados Polo Ribeirão Preto da USP em parceria com diversas instituições científicas e acadêmicas. O objetivo do projeto é produzir material informativo sobre a importância das vacinas e combater as informações falsas.
Saiba mais em: sites.usp.br/iearp/uniao-pro-vacina.