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Até 2050, gradativamente, a USP reservará 50% das vagas dos cursos de graduação para alunos oriundos de escolas públicas e autodeclarados pretos, pardos ou indígenas. A aprovação da medida ocorreu em julho do ano passado e começou a valer já para o ingresso em 2018, quando 37% das 11.147 vagas estarão reservadas. Em fevereiro, a Universidade começou a receber em seus oito campi espalhados pelo Estado de São Paulo os aprovados pelo vestibular Fuvest e o Sisu. São estudantes de diferentes cidades, estados, países, classes sociais e formações educacional e cultural.
Para além dos auxílios materiais — como alimentação, transporte e moradia — a USP tem o desafio de integrar seus calouros ao meio universitário, que não se restringe à sala de aula.
“A entrada na vida universitária, por si só, já é uma atividade estressante”, aponta Eduardo Humes, coordenador médico do Grupo de Assistência Psicológica ao Aluno (Grapal) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP). Para Humes, durante o ingresso, há uma mudança de paradigmas. O aumento dos deveres sociais, a necessidade do planejamento da vida acadêmica e o maior nível de exigência nas disciplinas são responsáveis por gerar uma série de inseguranças nos novos universitários.
Muitos calouros estavam acostumados a ser os melhores em suas classes ou colégios e, quando chegam à Universidade, são ‘apenas’ bons alunos entre outros diversos
As confusões aumentam quando estão aliadas à ausência de uma rede de relacionamentos sociais — algo que afeta, na maioria das vezes, alunos recém-chegados de outros estados ou países. Eduardo Humes define o problema como uma “falta de referência”.
Pensando na integração estudantil, a Pró-Reitoria de Graduação (PRG) da USP, com o apoio de escolas, institutos e faculdades, incentiva a realização de diversas atividades durante a primeira semana do ano letivo, que começou no dia 26 de fevereiro. A Semana de Recepção aos Calouros, popularmente conhecida como “Semana dos Bixos”, é o período reservado para apresentações de departamentos, entidades e práticas lúdicas — dando as boas-vindas e mostrando aos calouros que eles já são parte da USP.
Entidades não solucionam problema por completo
Atléticas, times, baterias, coletivos, empresas juniores, centros acadêmicos e diversos projetos de extensão. Mesmo criando um universo além das salas de aula, as entidades acadêmicas não conseguem resolver completamente o problema de adaptação e integração dos uspianos e universitários em geral.
“Recebemos muitas reclamações no Grapal sobre a falta de atividades capazes de congregar o grupo por completo. As entidades reforçam, muitas vezes, atividades ligadas exclusivamente aos seus fins, deixando em aberto ambientes universitários plurais, onde todos participam juntos”, explica Humes.
De acordo com o coordenador médico, os estudantes apontam um sentimento de não pertencer à Universidade. Muitos estudantes dizem se sentir parte de um grupo, um time ou um coletivo, mas não conseguem se enxergar como parcela da USP.
Para combater o problema, a Universidade tem atuado para estreitar a relação uspiano-USP. Um exemplo é o uso do esporte para que os estudantes se integrem, independente do curso que realizam, com a criação da disciplina Esporte na Graduação.
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Dentro das unidades de ensino, a dificuldade no relacionamento também é conhecida e cada escola, faculdade e instituto tem buscado meios para amenizá-la — a FMUSP, por exemplo, criou um regime de tutorias.
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As tutorias são redes para apresentar figuras de apoio aos estudantes. O tutor, normalmente um professor, fica responsável por reunir um grupo de alunos em torno de discussões do cotidiano universitário — como dificuldades de adaptação e problemas na graduação. A ação auxilia a criar um senso de identidade e comunidade dentro da Medicina.
Outro exemplo de projeto é a Comissão de Apoio à Comunidade, criada pelo Instituto de Ciências Biomédicas (ICB). A ideia do grupo é desenvolver ações em prol do bem-estar individual e coletivo do público interno do ICB.
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Mesmo com a expansão desses tipos de projetos, para Eduardo Humes, ainda falta engajamento estudantil e espaços de conversas para que o universitário tenha a percepção do todo.
“As entidades têm de ir além das próprias agendas para a promoção de um ambiente mais saudável. A não identificação com atléticas, centros acadêmicos ou coletivos cria um vácuo e uma ausência de pertencimento a muitos dos alunos, afetando diretamente sua saúde mental”, conclui.
As principais dúvidas dos calouros sobre os serviços oferecidos pela USP e programas de permanência estudantil estão no Manual do Calouro, desenvolvido pela Superintendência de Comunicação Social da USP em parceria com a Pró-Reitoria de Graduação.
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