“Se querem liberar o porte de maconha, que façam ampla divulgação do risco que essa droga pode causar”

João Paulo Lotufo prossegue em sua cruzada contra a liberação do uso da maconha. Ele está em Brasília, onde participa de eventos sobre a prevenção do uso de drogas

 11/09/2023 - Publicado há 8 meses
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A semana passada foi marcada por  diversos eventos, palestras  e encontros, no  Dia Nacional Sem Tabaco, mas isso não está sendo suficiente para desestimular o não uso do cigarro eletrônico, diz João Paulo Lotufo, preocupado com o nicotinismo, que  mantém a dependência da nicotina. “Falta fiscalização sobre a venda ilegal dos vapers, fato que ocorreu na Paraíba e eles estão de parabéns, mas isso não pode correr apenas em um Estado e apenas nos dias de combate ao tabagismo.”

Em Brasília, onde se encontra agora, o colunista participa de uma reunião da Comissão de Drogas Lícitas e Ilícitas com o Ministério da Saúde e o Ministério da Justiça. “O Supremo está para liberar o porte de pequenas quantidades de maconha, fato que ocorreu em outros países, mas não diminuiu o tráfico, aumentou o consumo e aumentou acidentes por drogas em casa, principalmente por crianças. E é o que temos visto aqui no Hospital Universitário. Um indivíduo dissolveu um sachê de ecstasy numa garrafa de água mineral e deixou em cima da pia e a tia da criança fez a mamadeira dessa criança com aquela água. A  criança convulsionou quatro horas e meia sem parar.”

“O que defendo  é uma ampla divulgação do risco de uso de maconha, onde estaremos formando uma população de ‘noias’, com lesão cerebral irreversível, além de outros com doenças psiquiátricas com tratamento ineficaz. O  uso de drogas lícitas pode levar ao uso de drogas ilícitas e estas levar a drogas mais potentes e assim vai.”

Segundo Lotufo, o Brasil contabiliza por ano 150 mil mortes por fumo e 100 mil por álcool – se se adicionar a isso as mortes por  maconha, crack e droga sintéticas “estaremos perto ou ultrapassaríamos o número de mortes pela covid-19.
O Ministério da Saúde, através das vacinas de orientação sobre covid-19, conseguiu diminuir drasticamente o número de mortes; porque não enfrentar o problema das drogas da mesma maneira com prevenção, como foi para a covid? […] se em 100 mil jovens temos 5 mil tabagistas, 4 mil maconhistas, 12 mil alcoólicos e mil no craque, tudo isso é mais do que epidêmico no nosso meio.

Lotufo vai falar no Congresso da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas  (ABEAD)  sobre abstinência de drogas no berçário . “Nos Estados Unidos, isto ocorre com opiáceos, aqui no berçário do HU ocorre com síndrome de abstinência de recém-nascido por uso de maconha, crack ou álcool durante a gestação. O crack  também tem sido responsável por mortes de crianças amamentadas por usuários. Acidentes ocorrem sempre e tivemos uma criança de 15 dias de vida que foi a óbito, e ela tinha alta concentração de cocaína na urina, porque a mãe era usuária  e amamentou a criança. Se querem liberar o porte de maconha, que façam ampla divulgação do risco que essa droga pode causar […] o custo das doenças  relacionadas ao tabaco supera em três vezes o recolhimento de impostos sobre a venda de cigarros. O mesmo deverá acontecer com a maconha – o interesse financeiro de alguns poucos lesará mais uma vez o nosso sistema de saúde.”


Dr. Bartô e os Doutores da Saúde
A coluna Dr. Bartô e os Doutores da Saúde, com o professor João Paulo Lotufo, vai ao ar quinzenalmente, segunda-feira às 9h, na Rádio USP (São Paulo 93,7 ; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.

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