Dr. Bartô analisa artigo que traz dados sobre o consumo da maconha

Segundo o médico, o consumo está crescendo entre jovens adultos, mas não está aumentando entre os adolescentes

 31/07/2023 - Publicado há 9 meses

Um artigo da doutora Ilana Pinsky, psicóloga clínica e pesquisadora ligada à Fiocruz , ex-consultora da Organização Mundial da Saúde e professora da Unifesp, foi publicado na revista Veja. Ilana também é membro da Abiad – Associação Brasileira de Estudo de Álcool e Outras Drogas, que terá congresso ainda este ano onde vou falar sobre abstinência de drogas em berçários. Diz em seu artigo que um movimento amplo de legalização da maconha ocorreu em várias partes do mundo. Sabemos disso. No Uruguai, Canadá e nos Estados Unidos, você já tem diferentes Estados e países com regras diferentes ao consumo não-médico da maconha. Na Holanda, ela diz que a maconha é vendida nos famosos coffee shops, mas é contra a lei possuir, vender ou produzir a substância. Mas lá em Amsterdã há muitas regras nos coffee shops, pode se utilizar a maconha, mas não bebida alcoólica e nos pubs vice-versa. Ou seja, evitam a mistura de drogas. Lá você pode ter quatro pés de maconha em casa, mas apenas para uso próprio. Há lá regiões livres do tabaco do álcool, etc., ou seja, há controle. Eu diria: pobre do Brasil, que é um país com várias leis que não são cumpridas, vide a venda de cigarro eletrônico proibido por lei, mas adquirido por qualquer um, inclusive por menores de idade. Diz o artigo que já o consumo medicinal é permitido em algumas de suas formas em numerosos países, eu diria esse termo “uso medicinal da maconha” me soa mal, pois incentiva a diminuição do medo da droga, principalmente entre os jovens. Devemos dizer uso medicinal do canabidiol. Este, sim, medicinal, que vem aumentando o seu uso na área médica.

A autora confirma que o dinheiro arrecadado com os impostos dos negócios da maconha de milhões de dólares, mas não esqueçamos de que o custo médico das doenças – por exemplo, tabaco-relacionadas – triplica o valor arrecadado com impostos, ou seja, se gasta muito mais com a saúde das doenças tabaco-relacionadas. Acredito que o mesmo deva ocorrer com a maconha. Ilana confirma, ainda, que no Canadá cerca de metade da população de usuários relatava, em 2020, dois anos após a legalização no país, comprar cannabis de fontes ilícitas. Em Nova York é a mesma coisa. Em 2021, apenas quatro das mais de 1.400 lojas existentes eram licenciadas, ou seja, o tráfico, o comércio ilícito não diminuiu. Os dados apontam que o consumo está crescendo entre adultos, particularmente entre jovens adultos. Entre os adolescentes o consumo não aumentou, também não diminuiu. E essa é a grande preocupação da sociedade de pediatria aqui no Brasil, principalmente com o uso precoce das drogas. Uma pesquisa do Canadian Cannabis Survey de 2022, citada na reportagem da doutora Ilana mostra que entre 500 usuários apenas 7% acreditavam que o consumo da maconha piorava a performance no trabalho ou na escola e 5% relatavam que o uso prejudicava as suas relações familiares. A má informação que as famílias e os jovens têm sobre malefícios das drogas é um dos responsáveis disso. Quando eu pergunto em uma sala de aula para alunos ou quando faço palestras para professores: Qual a droga que faz menos mal? A resposta é sempre a maconha e depois o álcool; 100% desconhecem que o problema cerebral causado pela maconha é irreversível. Lembra que 7% de piora no trabalho ou estudo e 5% de problemas familiares não é pouco e lembro que para a família desses jovens que se envolvem com as drogas com má evolução e com pouca possibilidade de resolução dos problemas , tudo isso é 100%.

Dr. Bartô e os Doutores da Saúde
A coluna Dr. Bartô e os Doutores da Saúde, com o professor João Paulo Lotufo, vai ao ar quinzenalmente, segunda-feira às 9h, na Rádio USP (São Paulo 93,7 ; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.

.


Política de uso 
A reprodução de matérias e fotografias é livre mediante a citação do Jornal da USP e do autor. No caso dos arquivos de áudio, deverão constar dos créditos a Rádio USP e, em sendo explicitados, os autores. Para uso de arquivos de vídeo, esses créditos deverão mencionar a TV USP e, caso estejam explicitados, os autores. Fotos devem ser creditadas como USP Imagens e o nome do fotógrafo.