Mulheres estão sobrecarregadas de obrigações, mais ansiosas e insatisfeitas

Erica da Cruz Santos afirma que a ansiedade patológica, como resultante dessas condições, pode acarretar danos físicos e psicológicos se não for tratada

 14/11/2023 - Publicado há 6 meses     Atualizado: 16/11/2023 as 15:16
As consequências associadas à sobrecarga das mulheres — como estresse, fadiga e irritabilidade — ficaram mais evidentes após a pandemia – Foto: Freepik
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Relatório da ONG Think Olga Esgotadas”, aponta quais as causas que levaram a um cenário atual de sobrecarga das mulheres, que estão mais ansiosas, estressadas e insatisfeitas. Além disso, o Instituto Datafolha já havia relatado que mulheres e jovens possuem mais ansiedade na sociedade atual.

Erica da Cruz Santos – Foto: Linkedin

De acordo com o levantamento, 86% das brasileiras consideram ter muita responsabilidade, 48% sofrem com dificuldades econômicas em um universo no qual 28% se declaram como única fonte de renda do lar e cerca de seis em cada dez mulheres, entre 36 e 55 anos, são responsáveis pelo cuidado direto de alguém.

Erica da Cruz Santos, psicóloga, mestre em Ciências pelo Instituto de Psicologia (IP) da USP e supervisora do Serviço de Psicologia e Neuropsicologia do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), discorre sobre as causas e consequências desse cenário.

Ansiedade

Segundo a especialista, as consequências associadas à sobrecarga das mulheres — como estresse, fadiga e irritabilidade — ficaram mais evidentes após a pandemia. O lado socioeconômico e a sobrecarga de trabalho, dentro e fora de casa, são alguns dos motivos que impactam esse esgotamento. 

Erica explica que existem dois tipos de ansiedade observados diante dessa sobrecarga: “Ansiedade normal tem a ver com um desconforto que é dentro do esperado, por exemplo, diante de algum evento novo, alguma situação que seja indesejável”. Por outro lado, ela ressalta que a ansiedade patológica vai produzir uma resposta emocional que pode acarretar danos físicos e psicológicos, possui uma frequência alta na vida do indivíduo e a mulher não consegue ser — ou se enxergar — produtiva.

Tratamento

A psicóloga comenta que isso é uma responsabilidade compartilhada de observação, na qual faz-se necessária uma rede de apoio para que as mulheres se conscientizem e identifiquem os sintomas. Ademais, devem ser realizadas estratégias de enfrentamento — período de tempo para si, como atividade física ou um tempo maior com amigos e familiares, visto que a sobrecarga está diretamente ligada a um ciclo, sem pausas, de multitarefas.

Em casos de ansiedade patológica, muitas vezes é fundamental o auxílio profissional, a partir de consultas com psicólogo e psiquiatra para obter a primeira avaliação. Então, se prescrito, iniciar um acompanhamento regular ou, até mesmo, um tratamento medicamentoso.

O tratamento, ressalta a especialista, é um processo demorado, ou seja, dificilmente terá o resultado poucos meses após iniciar o uso da terapia ou dos medicamentos, “a ideia é que ele seja um suporte por um período, para que essa fase aguda da ansiedade ou da depressão seja enfrentada. A partir do momento que a pessoa consegue fazer um acompanhamento longitudinal, isso vai sendo reavaliado. Então, as pessoas não precisam ter medo de buscar tratamento ou ajuda”.

Consequências

Erica afirma que problemas psicoemocionais em mães podem impactar diretamente a forma como elas percebem e caracterizam seus filhos e, para contornar isso, deve ser feito uma distribuição das tarefas e dos cuidados para que a sobrecarga não tenha tanta intensidade.

“Essa fadiga em excesso pode afetar as capacidades relacionadas à atenção e à memória e vai impactar o sono e a alimentação. Nós temos que pensar no indivíduo como um todo e esses impactos podem trazer a instalação de um transtorno mental”, finaliza a psicóloga.


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