Exatamente no dia 7 de setembro, dia da última coluna aqui na Rádio USP em que foram comentados o riacho do Ipiranga e rios da cidade, nesse mesmo dia foi tornada pública uma decisão que o Conselho Municipal de Proteção ao Patrimônio Cultural e Arquitetônico de São Paulo (Conpresp) tomou, suspendendo a possibilidade de construir um prédio de 16 andares e cinco subsolos no Bixiga, mais precisamente ali na Rua Rocha, na chamada Grota do Bixiga. Essa suspensão veio a partir de um recurso apresentado ao Conpresp pelo movimento Salve Saracura e associações do bairro do Bixiga, denunciando que a construção desse edifício naquele lugar iria comprometer uma das últimas áreas verdes que existem no bairro e que concentra mananciais e nascentes do rio Saracura.
Vale lembrar que o rio Saracura é um dos afluentes do Ribeirão Anhangabaú e, além do mais, nós estamos falando de mais um rio na cidade que está gritando para poder continuar existindo e sobrevivendo, e que neste momento está em luta contra as vontades e as pressões para eliminá-lo […]
Eu diria que essa decisão da Conpresp, que suspendeu, provisoriamente, por falta de documentos, é um alento. Estamos falando de um Plano Diretor que desconsiderou completamente a existência de rios, encostas, vales, histórias, memórias e que quer impor sobre o conjunto da cidade, desde que estivesse a uma certa distância do Metrô, do trem e dos corredores de ônibus, uma tipologia vertical, homogênea, com prédios altos, com subsolos, sem levar em consideração essa heterogeneidade. Era essa a expectativa no Plano Diretor, mas agora é a expectativa durante a revisão do zoneamento – que ao menos, durante a revisão do zoneamento, se levem essas questões em consideração.
No próprio Plano Diretor, o Bixiga deixou de ser um eixo de estruturação urbana, saiu por pressão popular e se transformou num território de interesse cultural, mas vamos ver o que vai acontecer agora, na discussão do zoneamento, com esse e outros bairros na cidade. Eu só diria que ou os moradores dos bairros se organizam para participar, para colocar sobre a mesa outros valores que não apenas a rentabilidade imobiliária, ou, senão, adeus rios, grotas, mananciais e história.
Cidade para Todos
A coluna Cidade para Todos, com a professora Raquel Rolnik, vai ao ar quinzenalmente quinta-feira às 8h30, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.
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