De acordo com dados divulgados na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua – PNADC- do IBGE, a população nacional está apresentando um constante envelhecimento. Em dez anos, o número de pessoas com 60 anos ou mais passou de 11,3% para 14,7% da população — dado que revela uma importante mudança na estrutura etária da nação brasileira.
Em número brutos, esses dados representam um aumento de cerca de 9 milhões de idosos no País. Rosa Chubaci, professora de Gerontologia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP, comenta que, entre os motivos para o envelhecimento da população brasileira, é possível destacar o avanço da medicina, já que as pessoas podem realizar a prevenção médica com maior cuidado. Além disso, a redução da taxa de fecundidade colaborou para esse cenário, ou seja, os indivíduos não possuem tantos filhos como antigamente e, por isso, houve uma redução do número de jovens no País.
Qualidade de vida
A professora reflete que é possível observar que alguns países tiveram maior preparação para o envelhecimento da população, como Japão, Canadá, Dinamarca e Estados Unidos. Dessa forma, nesses locais, foram criados alguns serviços para atender esses indivíduos. No Japão, por exemplo, é comum que políticas públicas estimulem jovens a auxiliar a população idosa em atividades cotidianas.
No Brasil, algumas dessas práticas estão se tornando comuns junto com as Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPIs), entidades residenciais que são destinadas ao domicílio de pessoas com 60 anos ou mais. Além disso, existem alguns centros de convivência que apresentam como objetivo a promoção de um envelhecimento mais saudável e ativo. “Aqui no Brasil, nós ainda precisamos de alguns recursos e serviços, mas temos bons exemplos, como o CRI Norte e o Instituto Paulista de Geriatria e Gerontologia”, explica a especialista.
Rosa adiciona que os centros de convivência para idosos precisam ser ampliados para todas as regiões do País para adicionar qualidade de vida aos anos que as pessoas estão vivendo. “O Brasil está no caminho certo, porém nós precisamos de um maior número de serviços para idosos”, acrescenta.
Outra questão importante a ser considerada na temática é o hábito brasileiro de condenar as instituições de permanência devido à cultura extremamente familiar. “Quando o idoso tem dificuldade de ficar em casa, a família pode lançar mão de serviços como as casas de repouso, contanto que a família faça as visitas e leve o idoso para casa de vez em quando”, analisa a especialista. Assim, é essencial investir no processo de envelhecimento e se preparar para esse momento.
Por fim, Rosa destaca que o processo de envelhecimento se inicia desde o momento em que nascemos, por isso, é importante investir em um envelhecimento saudável e de forma ativa. “Envelhecer é um processo e todos nós queremos ver o progresso que fizemos em nossa vida. Planejar a sua morte também é muito importante, mesmo que as pessoas não falem sobre isso ”, analisa.
Aspectos econômicos
Além de aspectos sociais, a temática revela uma mudança no desenho econômico nacional, indicador importante para pensar no redirecionamento de políticas públicas no País — principalmente aquelas relativas à Previdência Social e à saúde pública.
Em primeiro lugar, observa-se que o Censo Demográfico revelou uma informação alarmante para a organização econômica do País: o fim do bônus demográfico — período em que a população em idade ativa cresce em um ritmo maior que o da população total (que conta com a presença de crianças e idosos).
Hélio Zylberstajn, professor de Economia da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária (FEA) da USP, afirma que a solução para esse problema é o retorno do crescimento econômico do País. “Para voltar a crescer, nós precisamos de muitas coisas. Nós precisamos, antes de tudo, fazer o investimento crescer, principalmente em infraestrutura”, explica.
Assim, o especialista reforça a necessidade de atrair capitais privados para aumentar os investimentos em transportes, estradas, ferrovias, portos, aeroportos, saneamento básico, energia, habitação, entre outros. “Esse investimento aumenta o nível de atividade, porque você precisa comprar os insumos para fazer toda essa infraestrutura e, aumentando a demanda de materiais, você aumenta também a ocupação de pessoas que vão ter oportunidades de trabalho”, analisa.
Com o crescimento econômico, portanto, é possível criar as bases para uma economia mais duradoura e fornecer emprego para a população que atualmente não conta com tantas oportunidades trabalhistas. Segundo Zylberstajn, junto a isso, é necessário aumentar a produtividade do trabalho no Brasil, que está estagnada há décadas, para tornar a economia nacional mais eficiente.
Questão da Previdência
Para o professor, novas reformas na Previdência serão inevitáveis considerando a formação de uma nova pirâmide etária no Brasil. Isso acontece pois o número de aposentados vai aumentar, com cada vez menos contribuintes para pagar a aposentadoria desses idosos. “É um futuro amedrontador e é por isso que nós precisamos voltar a crescer. Se nós tivéssemos crescido enquanto a gente ainda tinha o bônus demográfico as coisas seriam mais fáceis”, explica.
Zylberstajn considera ainda que a reforma de 2019 foi positiva, mas não pode ser considerada, de fato, uma reforma, pois manteve o modelo utilizado anteriormente, mudando apenas alguns de seus parâmetros — como a idade mínima, algumas alíquotas de contribuição, o valor das pensões, entre outros. O professor também considera que será necessário acabar com alguns privilégios previdenciários presente no País. “O Brasil gasta hoje cerca de 12% do seu PIB com aposentadorias, enquanto isso acontecer nós estamos condenados a um beco sem saída.”
Para além disso, é importante que as escolas de ensino médio brasileiras tornem-se profissionalizantes, já que, segundo o professor, as próprias empresas devem participar do processo de formação dos estudantes para garantir que a mão de obra do País se torne mais produtiva.
Por fim, nota-se que o Brasil precisa melhorar a qualidade do gasto público, por isso, a presença de uma reforma tributária é, segundo o especialista, essencial para a mudança prática dos erros presentes no sistema econômico atual. “Nós precisamos passar a cobrar os impostos sobre o consumo não mais na origem, mas no destino para acabar com a guerra fiscal. É necessário melhorar o gasto público na educação e na saúde, porque a gente gasta com pouca eficiência nessas áreas”, finaliza.
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