A segurança pública no Estado de São Paulo está em xeque

José Álvaro Moisés analisa recentes casos de violência policial em São Paulo e coloca em questão a postura do governador Tarcísio de Freitas

 11/12/2024 - Publicado há 1 mês

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Os recentes casos de violência policial em São Paulo deram, na opinião do professor e cientista político José Álvaro Moisés, a centralidade que o debate sobre a segurança pública precisa ter no Brasil. “Os dois casos colocaram o secretário de Segurança Pública do Estado, Guilherme Derrite, e o governador Tarcísio de Freitas na berlinda.” Num desses casos, um PM jogou por cima da mureta de uma ponte uma pessoa que havia sido abordada; no outro, um policial disparou 11 vezes contra um jovem de 26 anos que furtara pacotes de sabão em um supermercado – dois casos de abuso de autoridade que tiveram grande repercussão e que levaram a pronunciamentos do governador do Estado, do secretário de Segurança Pública e do comandante da Polícia Militar, que lamentaram a truculência policial e afastaram os envolvidos em ambos os casos. Isso, no entanto, não calou os debates em torno das políticas adotadas para combater o crime, “especialmente a conduta que podem e devem adotar os policiais que estão na rua com o objetivo de bloquear e reprimir a ação de criminosos, que colocam a população em risco”. O que está em jogo aqui, de acordo com o colunista, é a política de segurança adotada pelo governador Tarcísio de Freitas, “que desde o início de seu mandato mostrou sua preferência por um modelo de ação que implicou no endurecimento das ações repressivas da Polícia Militar”.

Agora, no entanto, o governador do Estado tem procurado moderar a sua imagem, agindo no sentido de corrigir erros e equívocos do início de seu governo, como ficou patente ao admitir, muito recentemente, sua postura equivocada em relação às câmeras corporais mantidas pelo PMs, as quais haviam sido introduzidas pelo governo anterior com resultados positivos. De início reticente quanto ao uso das câmeras, sob a justificativa de que prejudicariam a ação dos policiais, ele passou agora a defendê-las, alegando que podem ser um fator para conter os excessos da PM. “Sendo um caso raro na política, a atitude do governador admitindo publicamente que estava errado em uma questão tão importante como essa que, adotada, talvez possa ajudar a diminuir a letalidade provocada por parte da abordagem policial usual, é, no entanto, contraditória com a manutenção no governo do secretário Guilherme Derrite, praticante e defensor das estratégias mais agressivas e truculentas do policiamento nas ruas”, avalia Moisés, antes de concluir: “Derrite parece ter sido indicado pelo ex-presidente Bolsonaro, o que pode dificultar a sua demissão, se assim o quiser o governador. Mas o fato é que essa decisão, de manter ou dispensar Derrite do governo, é a chave para se saber até onde vai a coerência de Tarcísio quanto às suas recentes, e em alguma medida surpreendentes, declarações sobre a política de segurança pública”.


Qualidade da Democracia
A coluna A Qualidade da Democracia, com o professor José Álvaro Moisés, vai ao ar quinzenalmente,  quarta-feira às 8h30, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9 ) e também no Youtube, com produção da Rádio USP,  Jornal da USP e TV USP.

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