Combate ao coronavírus anuncia uma nova era de vigilância

Aplicativos podem alertar o usuário do celular se ele está próximo de possíveis áreas contaminadas pela covid-19

 13/04/2020 - Publicado há 4 anos     Atualizado: 16/04/2020 as 8:01
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“A principal funcionalidade dos aplicativos que estão surgindo é alertar ao usuário do celular se ele está próximo de potenciais contaminados pelo vírus da covid-19”, explica a professora Giselle Beiguelman em sua coluna Ouvir Imagens, na Rádio USP (clique e ouça o player acima). “Esse processo é feito pelo mapeamento da trajetória da pessoa que possui o celular, combinado a inúmeros dados individuais e dados dos sistemas públicos que são acessíveis via diversos sistemas.”

A professora comenta que o governo do Estado de São Paulo, por exemplo, está usando uma plataforma que combina dados geolocalizados, que são produzidos pelos usuários dos celulares, com estatísticas dos sistemas públicos de saúde. “Aplicativos como o Private Kit Save Paths, desenvolvido no MIT Lab, e o israelense HaMagen, entre muitos outros, que estamos divulgando em nossa coluna, também cruzam dados pessoais, armazenados nos celulares de seus portadores, com dados públicos.”

Compartilhar dados neste momento, segundo avalia a professora, é um meio de colaborar para o diagnóstico coletivo e também de se proteger. “Agora, o problema é que a maioria das pessoas não tem a mínima ideia de que gera dados de diferentes perfis, via uso do seu celular, e que esses podem ser usados das mais distintas formas.

Apesar da importância dos aplicativos, a professora explica que essa vigilância cria uma divisão ou hierarquia social, que são os rastreáveis e os não rastreáveis. “Este é um dos aspectos mais paradoxais nesta “coronavida”. Quem pode parar, ficar em casa, o sujeito imóvel, é o socialmente privilegiado. São esses os corpos que podem e são rastreáveis, computáveis, vigiáveis e eventualmente curáveis. Neste âmbito, no qual a cumplicidade com o monitoramento é também uma prerrogativa de sobrevivência, fica claro que o não rastreado que é, por exemplo, o desabrigado, é aquele para o qual o Estado já havia voltado as costas. É o que se torna o mais vulnerável.”

Diante dessa realidade, Giselle Beiguelman comenta: “Nessa espiral da “coronavigilância”, o sujeito móvel, o nômade, o sem celular, sem conexão, é aquele invisível visível que a nossa violência social teima em não enxergar”.

Para conhecer os aplicativos abordados em Ouvir Imagens acesse:

COVID-19 Tracker Apps https://fs0c131y.com/covid19-tracker-apps/

 


Ouvir Imagens 
A coluna Ouvir Imagens, com a professora Gisele Beiguelman, vai ao ar quinzenalmente, segunda-feira às 8h, na Rádio  USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP,  Jornal da USP e  TV USP.

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