Nesta edição, Marisa Midori reflete sobre a leitura nesta situação de confinamento. “As notícias e as ações que associam a prática da leitura como um remédio contra a monotonia levantam uma questão importante: ler sempre foi, do ponto de vista da história das sociedades e das civilizações, um remédio? Ou a leitura se converteu nessa espécie de “rivotril” contemporâneo, para amenizar a ansiedade, a angústia e a tristeza causadas pela solidão nos dias de hoje?”
Segundo a professora, na tradição moderna, não foram raros os momentos em que a leitura se transformou em uma verdadeira vilã da história. E cita obras como Dom Quixote, de Miguel de Cervantes, romance publicado no começo do século 17, que compara o desvario com excesso de leitura do protagonista; O Vermelho e o Negro, de Stendhal, que coloca em cena a expressão chien de lisard, algo como um cão leitor, para demonstrar todo o peso que o hábito da leitura tinha sobre o jovem personagem; e Madame Bovary, de Gustave Flaubert, que permitiu que sua vida fosse tragada pelo excesso de romances.
A leitura é então a cura do tédio? A professora responde: “Creio que sim. Estamos vivendo um momento singular, mas jamais vi tantas matérias jornalísticas e tantas campanhas nas redes sociais em que a leitura era recomendada como um remédio para o corpo e a alma, contra a solidão e contra o medo do confinamento; uma série de títulos foram evocados, tanto de livros relacionados a este momento quanto romances que escapam à temática dessa situação provocada pela pandemia”. E finaliza com uma frase célebre de Cícero: “Se tem uma biblioteca com jardim, você tem tudo” Cícero (106-43 a.C.), avisando que este mês a coluna vai tratar da leitura pela voz de seus próprios leitores, sejam eles bibliófilos, leitores comuns, ou estudiosos que se dedicaram às práticas da leitura no Ocidente.
Ouça no link acima a íntegra da coluna Bibliomania.
Bibliomania
A coluna Bibliomania, com a professora Marisa Midori, vai ao ar quinzenalmente, sexta-feira às 9h00, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9 ) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.
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