“China contraditória” comemora 100 anos do PC 

O colunista Pedro Dallari comenta o centenário do Partido Comunista e o papel da China no mundo globalizado 

 07/07/2021 - Publicado há 3 anos     Atualizado: 27/07/2021 as 9:41

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O aniversário de 100 anos de criação do Partido Comunista da China está sendo comemorado desde o início do mês naquele país asiático e é sobre a importância da data e de suas interações com o mundo globalizado que o professor Pedro Dallari fala em sua coluna esta semana. “O Partido Comunista chinês lidera a vida política, econômica e social no país. Comandadas por Xi Jinping, líder absoluto da China, as celebrações do centenário do PC tiveram inclusive os grandes desfiles militares característicos daquele país e da preocupação em mostrar realmente sua condição de grande potência na esfera global”, comenta Dallari.

“A China tem uma história acidentada. Foi uma monarquia antiquíssima até 1912, quando se instalou a República, marcada por muita instabilidade, muitos conflitos e pela ausência de um governo central mais forte. Esse quadro durou até a Segunda Guerra Mundial, quando a invasão japonesa fez com que as forças políticas da China se unissem para enfrentar o invasor estrangeiro. Com a derrota do Japão em 1945, houve o recrudescimento dos conflitos internos, que culminou com a vitória, em 1949, do Partido Comunista e a derrota dos chamados ‘nacionalistas’, de orientação capitalista, que se refugiaram em Taiwan”, relata o colunista. “Hoje, como se costuma dizer, existem duas Chinas, embora uma não admita a existência da outra: uma comunista, continental, e outra, Taiwan, na ilha de Formosa”, diz o professor.

Dallari relembra que a China, controlada desde 1949 pelo Partido Comunista, viveu diferentes etapas sob essa condução. “Da ortodoxia de Mao Zedong veio a abertura com Deng Xiaoping, que se restringiu ao campo da economia, com a viabilização da participação do setor privado, nacional e estrangeiro, no desenvolvimento da China. Mas manteve-se uma estrutura de Estado rigidamente controlada”, afirma o colunista. “Essa fórmula realmente gerou indicadores de crescimento econômico sem precedentes na história mundial, que tornaram a China uma grande potência não só militar, mas econômica. Essa situação, no âmbito global, se reflete por um conjunto de contradições muito significativas”, aponta o professor.

“De um lado há, por meio da expansão da influência, um engajamento de ações positivas de cooperação internacional e de apoio ao multilateralismo. Mas, por outro lado, há no âmbito interno uma ausência completa de democracia e um quadro de profundo desrespeito aos direitos humanos. Prova disso é a violenta repressão contra os movimentos pró-democracia em Hong Kong”, aponta Dallari. “É esta China contraditória que será uma potência cada vez mais importante no cenário global, cuja influência será significativa para o desenvolvimento da globalização e para a cidadania no mundo globalizado. Mas é necessário verificar até que ponto isso será positivo e em que medida essa ausência de compromisso com os direitos humanos trará grande dano para o exercício da cidadania.


Globalização e Cidadania
A coluna Globalização e Cidadania, com o professor Pedro Dallari, vai ao ar quinzenalmente, quarta-feira às 8h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP,  Jornal da USP e TV USP.

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