“Afeganistão voltará a ser o único país do mundo onde manifestação de alegria merece pena capital”

Depois de 20 anos de ocupação no Afeganistão, as tropas americanas se retiraram de modo abrupto, deixando como legado “um caos ainda maior do que havia em 2001, ano da invasão”, segundo Marília Fiorillo

 09/07/2021 - Publicado há 3 anos     Atualizado: 12/07/2021 às 11:58

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Depois de 20 anos de ocupação no Afeganistão, as tropas americanas se retiraram, fugindo de Bagram, a principal base militar americana no país. “Deixaram como legado um caos ainda maior do que havia em 2001, ano da invasão”, afirma em sua coluna Conflito e Diálogo a professora Marília Fiorillo.

Em poucos dias, o Talibã já domina 70% do país, tomando províncias inteiras, explica a professora. Várias regiões de Candara — a segunda maior do país — tornaram-se cidades-fantasmas, com a fuga em massa da população. Soldados do exército afegão largaram as armas e fugiram para o Tajiquistão. “Tudo indica que o governo, que foi excluído das negociações prévias entre Estados Unidos e Talibã durante a administração Trump, entrará em colapso em poucas semanas.”

A professora destaca que essa fuga, “na correria”, do único contingente militar que controlava as ações do Talibã é “um magistral exemplo do sucesso irresponsável: ocupar um país, falhar escandalosamente em implementar melhorias estruturais e abandoná-lo aos facínoras no pior momento”.

A população local deve voltar aos velhos tempos, com as regras impostas durante o domínio do Talibã: a proibição da educação das meninas, o uso compulsório da burca pelas mulheres e da barba para os homens, censura a novelas e outros programas de entretenimento na TV, proibição de se tocar música e empinar pipas. “O Afeganistão voltará a ser o único país do mundo onde qualquer manifestação de alegria merece pena capital”, afirma a professora. “Bye bye América, bem-vindos ao inferno.”


Conflito e Diálogo
A coluna Conflito e Diálogo, com a professora Marília Fiorillo, vai ao ar quinzenalmente sexta-feira às 8h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9 ) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.

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