Fernando Haddad, ministro da Fazenda, e Gabriel Galípolo, diretor de Política Monetária do Banco Central, estão trabalhando em uma reaproximação entre Luiz Inácio Lula da Silva e Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central. Para José Luiz Portella, doutor em História Econômica pela FFLCH da USP e pesquisador do IEA, à primeira vista, esse cenário parece positivo, uma vez que, tradicionalmente, as políticas são feitas através da comunicação entre as pessoas e os poderes.
Inicialmente, essa não foi uma linha adotada pelo presidente do Brasil, que escolheu atacar Campos Neto. “Provavelmente, isso aconteceu porque o presidente do Banco Central foi votar com uma camisa amarela, se identificando com bolsonarismo, que é um direito dele. Mas é uma imprudência, pois Neto sabia que exerceria o mandato durante o governo Lula e que essa atitude iria marcar” comenta.
Entretanto, segundo o especialista, essa aproximação só será positiva se ambos não realizarem uma “acomodação à brasileira”. Como teorizou Sérgio Buarque de Holanda, historiador e sociólogo, o Brasil tem homens cordiais de relacionamento, que estabelecem suas relações através do coração, da paixão e da emoção. “Muitas vezes, as pessoas se aproximam e abrem mão de suas convicções para ter um relacionamento melhor.” Assim, se Campos Neto e Lula mantiverem suas diferenças e opiniões contrárias, pode haver um impacto positivo nas políticas públicas.
Dessa forma, a tendência é que Campos Neto preste mais atenção nas questões sociais do Brasil – já que a política monetária não está alheia à situação do País – e que Lula veja o raciocínio do presidente do Banco Central – uma vez que não é possível pensar na economia apenas levando em conta a emoção e o desejo.
O especialista finaliza explicando que essa é a lógica por trás da articulação Estado-Mercado. “Não existe país que dê certo só com Estado centralizador e que tira a liberdade das pessoas, e não existe país que tenha se desenvolvido só com o mercado, pois este precisa do Estado.” Assim, caso haja uma relação de complementaridade, é possível que o relacionamento entre eles seja benéfico para as políticas públicas.
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