Projeto USP-Ibama propõe avaliação dinâmica e integrada de indicadores sobre desmatamento na Amazônia

O Painel de Sustentabilidade Integrada demonstra a evolução de indicadores ambientais, econômicos, sociais e institucionais em municípios amazônicos

 Publicado: 09/05/2024

Texto: Redação*

Arte: Beatriz Haddad**

Árvores derrubadas em área de exploração ilegal de madeira em Novo Progresso, Pará - Foto: Vinícius Mendonça/Ibama (Flickr)

Uma nova ferramenta para a compreensão sobre o desmatamento na Amazônia Brasileira foi desenvolvida em pesquisa na USP. O produto técnico do mestrado no Programa de Pós-Graduação Profissional em Ambiente, Saúde e Sustentabilidade (ProASaS) está hospedado na Plataforma de Análise e Monitoramento Geoespacial da Informação Ambiental (PAMGIA), do Ibama.
O cerne do projeto é o desenvolvimento de um Painel de Sustentabilidade, uma ferramenta dinâmica e abrangente que vai além dos indicadores tradicionais de perda florestal. Ao invés disso, busca-se uma análise holística que incorpore fatores ambientais, econômicos, institucionais e sociais, visando identificar os pontos críticos de desmatamento, bem como as dinâmicas subjacentes que perpetuam essa problemática.
Ao delimitar sua análise aos municípios classificados pelo Ministério do Meio Ambiente com desmatamento monitorado e sob controle entre os anos de 2012 e 2021, o projeto visa identificar padrões e tendências, fornecendo subsídios valiosos para a formulação de políticas públicas mais eficazes e direcionadas. Por meio dessa análise aprofundada, pretende-se promover a conservação da biodiversidade e dos recursos naturais da região.
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Painel de Sustentabilidade Integrada com indicadores sociais da cidade Brasil Novo, no Pará.

Os resultados da pesquisa revelam informações que nem sempre são obtidas pela análise isolada de indicadores. Observou-se, por exemplo, que o repasse de incentivos econômicos ocorre sem correlação com a redução do desmatamento, sugerindo a necessidade de estratégias mais dinâmicas, sofisticadas e integradas.
Além disso, foram identificados critérios relevantes para a restauração florestal, com atores sociais que podem obter renda econômica nesse processo, oferecendo uma visão abrangente dos desafios e oportunidades enfrentados nos municípios estudados e que podem se repetir pela região.

Mesmo com poucos quilômetros quadrados desmatados, se um município destruir 1% de suas florestas remanescentes, já deve ligar um alerta de prioridade de ações de prevenção e combate, incluindo restrição ao crédito e aumento na fiscalização.

“Durante muitos anos, o foco foi no número absoluto do desmatamento, porque é o indicador claro de maior perda florestal. Quando olhamos para dados integrados, como por exemplo o que resta de vegetação em um município, isto não é visto com relevância nas análises. A pesquisa mostra que mesmo com poucos quilômetros quadrados desmatados, se um município destruir 1% de suas florestas remanescentes, já deve ligar um alerta de prioridade de ações de prevenção e combate, incluindo restrição ao crédito e aumento na fiscalização”, explica o pesquisador Hugo Schaedler, que é servidor do Ibama. Por outro lado, “há claras oportunidades de desenvolvimento de bioeconomia, implementação de políticas florestais e pagamento por serviços ambientais, mesmo em cenários de áreas já suprimidas”, completa Schaedler.
A implementação prática do projeto-piloto é um marco significativo na aplicação do conhecimento científico para fins de gestão ambiental. Ao disponibilizar dados e ferramentas de análise de forma acessível, o projeto contribui para a tomada de decisões informadas, promovendo a transparência e a participação pública no processo de conservação.
Segundo o Presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, “a PAMGIA tem por objetivo centralizar e fornecer de forma dinâmica e integrada as informações ambientais de interesse do Ibama e de seus parceiros, permitindo que os dados temáticos sejam visualizados de forma estatística e geoespacial pelos usuários”.

Hugo Schaedler - Foto: Arquivo pessoal

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Os mapas indicam cidades que podem ser consultadas no Painel de Sustentabilidade Integrada

Para a professora Maria da Penha Vasconcellos, orientadora da pesquisa na Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, a avaliação integrada representa um esforço coletivo e interdisciplinar para enfrentar um dos desafios mais urgentes de nosso tempo. “Ao unir expertise acadêmica, recursos tecnológicos e compromisso com a sustentabilidade, este projeto exemplifica o potencial transformador da pesquisa científica na busca por soluções inovadoras e sustentáveis para os problemas ambientais globais”, disse.

O Painel de Sustentabilidade Integrada pode ser acessado no link.

Mais informações: hugo.americo@gmail.com, com Hugo Schaedler e mpvascon@usp.br, com Prof. Dra. Maria da Penha Vasconcellos

*Com informações do pesquisador

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