“Série Energia”: Cruzeiros marítimos adotam GNL como combustível em busca da sustentabilidade

Passo importante para diminuir a emissão de poluentes está na troca do óleo combustível pesado e do diesel marinho pelo Gás Natural Liquefeito (GNL)

 09/02/2024 - Publicado há 3 meses
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Cruzeiros embarcam na onda da energia sustentável com combustível que não é unanimidade sobre eficácia “verde” – Foto: Freepik
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O universo dos cruzeiros marítimos está prestes a testemunhar um marco significativo com a entrada em serviço do Icon of the Seas da Royal Caribbean International. Este navio, o maior do mundo em arqueação bruta, com 250.800 toneladas, 365 metros de comprimento e com capacidade para 7.600 passageiros e 2.350 tripulantes, representa não apenas um feito em termos de engenharia e hospitalidade, mas também um passo crucial na jornada em direção à sustentabilidade marítima. A incorporação do Gás Natural Liquefeito (GNL) como combustível principal deste gigante dos mares marca uma transição importante no setor.

O GNL, por queimar mais limpo do que o óleo combustível pesado e o diesel marinho, apresenta significativas vantagens ambientais. Ele reduz a emissão de dióxido de carbono, óxidos de enxofre, óxidos de nitrogênio e partículas finas, contribuindo assim para a luta contra a mudança climática e a poluição do ar. Essas características alinham-se às crescentes regulamentações ambientais marítimas, como a regra IMO 2020, que impõe limites ao teor de enxofre nos combustíveis marítimos.

Além disso, o GNL destaca-se por sua disponibilidade geográfica e potencial de segurança de abastecimento, oferecendo estabilidade nos preços e confiabilidade para o setor de transporte marítimo. As modernas tecnologias de motores a gás e sistemas de propulsão reforçam a eficiência energética, resultando em economia de combustível e redução de custos operacionais. Esta transição representa não apenas uma mudança nos combustíveis usados, mas também uma oportunidade de inovação e desenvolvimento tecnológico no setor. 

Entretanto, a utilização do GNL não está isenta de críticas. Ambientalistas como Bryan Comer, do Conselho Internacional de Transportes Limpos, alertam sobre a liberação de metano, um poderoso gás de efeito estufa, durante o uso do GNL. Ele argumenta que, ao longo de seu ciclo de vida, o GNL pode resultar em emissões maiores do que o diesel marítimo, desafiando a noção de que seja uma opção mais “verde”.

Essa controvérsia destaca a complexidade da transição energética no setor marítimo. Enquanto o GNL é indiscutivelmente mais limpo do que os combustíveis tradicionais em termos de poluentes atmosféricos, a questão do metano permanece um desafio significativo. Este dilema reflete a necessidade de uma abordagem mais holística na avaliação do impacto ambiental dos combustíveis alternativos, considerando não apenas as emissões diretas, mas também as emissões ao longo de todo o ciclo de vida. 

É crucial, portanto, que a indústria marítima não veja o GNL como uma solução definitiva, mas como um passo intermediário na jornada para uma sustentabilidade total. Investimentos continuados em pesquisa e desenvolvimento são necessários para explorar alternativas ainda mais limpas, como o hidrogênio e as células de combustível, que podem oferecer uma solução mais sustentável a longo prazo.

A história do Icon of the Seas é, assim, uma representação do estado atual da indústria marítima: um setor em transição, buscando equilibrar as demandas de sustentabilidade ambiental com as realidades tecnológicas e econômicas. Este navio simboliza tanto os avanços alcançados quanto os desafios que permanecem, servindo como um lembrete da necessidade contínua de inovação e compromisso ambiental.

Sendo assim, o Icon of the Seas e o uso do GNL ilustram a complexidade da transição energética no setor de cruzeiros marítimos. Representa um progresso significativo em direção a práticas mais sustentáveis, mas também evidencia a necessidade de abordagens mais abrangentes e inovadoras para atingir a verdadeira sustentabilidade no futuro. À medida que o setor avança, é essencial que continue a explorar e adotar soluções que atendam tanto às exigências ambientais quanto às necessidades operacionais, pavimentando o caminho para um futuro mais verde nos oceanos do mundo.

A Série Energia tem produção e apresentação do professor Fernando de Lima Caneppele (FZEA). A coprodução é de Ferraz Junior e edição da Rádio USP Ribeirão. Você pode sintonizar a Rádio USP Ribeirão Preto em FM 107,9, pela internet em www.jornal.usp.br ou pelo aplicativo no celular para Android e iOS.


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