Mulheres modernistas serão relembradas em evento na USP

Encontro será nesta quinta-feira, dia 9, às 18 horas, no Instituto de Estudos Brasileiros (IEB)

 07/03/2023 - Publicado há 1 ano
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Adriana Janacópoulos, Jeanne Louise Milde, Zina Aita e a argentina Victoria Ocampo. Ao fundo, Tarsila do Amaral e Anita Malfatti – Fotomontagem de Jornal da USP com fotos de Wikipédia

No mês das mulheres, o Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) da USP promoverá o evento presencial Mulheres Modernistas no Brasil. O encontro ocorrerá nesta quinta-feira, dia 9, das 18 às 20 horas. Na ocasião, figuras centrais e marginalizadas do Modernismo brasileiro serão discutidas por pesquisadoras que usam documentos do acervo do IEB para estudar a presença feminina na arte.

A professora do IEB Ana Paula Cavalcanti Simioni, organizadora do evento, explica que há diferenças de visibilidade entre as mulheres que participaram do movimento artístico. “No processo de canonização do Modernismo paulista, duas figuras femininas sempre são lembradas: Anita Malfatti, como precursora, e Tarsila do Amaral, como musa dos anos 1920. Outras participantes acabaram sendo ofuscadas”, diz Ana Paula.

O trabalho e a trajetória de mulheres modernistas menos conhecidas serão abordados no evento. Rita Lages Rodrigues, pós-doutoranda do IEB, fará a apresentação Faces do Moderno: Jeanne Louise Milde e Zina Aita, Duas Mulheres Artistas em Belo Horizonte. A primeira foi uma escultora belga que veio ao Brasil em 1929 e a segunda, uma pintora natural da capital mineira. 

Rita Rodrigues conta que Jeanne Louise Milde já tinha reconhecimento artístico em Bruxelas quando foi convidada para participar de uma reforma do ensino que estava acontecendo em Minas Gerais. A artista integrou um grupo que formou professoras para o ensino de arte. “Além desse trabalho educativo, ela participou ativamente do meio artístico da cidade naquele momento”, acrescenta Rita.  

Já a pintora Zina Aita é considerada a responsável pela primeira exposição de arte moderna em Belo Horizonte, em 1920. Ela também participou da Semana de 22 e teve protagonismo em São Paulo. Ainda na década de 1920, Zina Aita sai do circuito nacional e vai para a Itália, onde passa a se dedicar à cerâmica. Rita explica que não há relação entre as artistas, mas elas foram duas das principais modernistas das primeiras décadas do século 20 em Belo Horizonte.

A trajetória de outra escultora será abordada em Uma Mulher Moderna? Adriana Janacópoulos e sua Escultura “Mulher”, por Marina Mazze Cerchiaro, pós-doutoranda do Museu de Arte Contemporânea (MAC) da USP. Marina pretende debater como as concepções de gênero e feminilidade atravessaram a obra da artista. 

Segundo a pós-doutoranda, Adriana é a única escultora modernista dos anos 1930 que recebeu uma encomenda pública durante o Estado Novo, de Getúlio Vargas. A escultura Mulher foi feita a pedido do ministro da Educação, Gustavo Capanema, para a então sede do Ministério de Educação e Saúde, no Rio de Janeiro. 

Apesar disso, a artista foi esquecida e está fora da bibliografia da arte nacional. “O cânone dá muito relevo para Anita e Tarsila, como se elas sintetizassem a experiência feminina. A história da arte brasileira, sobretudo a modernista, não dá muita atenção para a escultura. Ela é pouco estudada, fica muito à margem.”

Marina faz um questionamento no título da própria apresentação, porque pretende investigar também como Adriana se constituiu como mulher. “A gente está falando dessas construções de feminino que são modernas para aquele período, mas são ao mesmo tempo extremamente conservadoras, e então como a Adriana, enquanto sujeito, se posiciona diante desses discursos contraditórios sobre ser mulher?”, indaga.

Outra participante do evento Mulheres Modernistas no Brasil, Carolina Casarin, doutora em Artes Visuais pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), vai recuperar a relação de duas artistas com a moda e a aparência em Tarsila do Amaral e Victoria Ocampo, Duas Mulheres Distintas. Victoria Ocampo foi uma produtora cultural argentina que criou a revista Sur, um veículo de divulgação de arte moderna, em 1931.

“Estudando e lendo sobre Victoria Ocampo, comecei a perceber que há muitas semelhanças na trajetória e nas figuras dela e da Tarsila, especialmente no que diz respeito ao consumo da moda da alta-costura francesa”, explica Carolina, a respeito da comparação entre as duas artistas. Ambas foram mulheres cosmopolitas que viajaram muito, investiram na construção de suas aparências e eram oriundas de famílias endinheiradas que priorizavam a distinção entre as mulheres que criavam, segundo a doutora.

Cada uma das apresentações terá de 20 a 30 minutos e, no final, haverá uma conversa entre as pesquisadoras e o público presente. Carolina diz que é importante realizar o evento no mês das mulheres. “É necessário que a gente se lembre do Dia da Mulher e que a gente firme posição usando esse dia como ensejo para marcar e mostrar a história das mulheres. Colocar os nossos corpos femininos para falar dessa história e para lembrar das mulheres que estudamos.”

Cartaz do evento Mulheres Modernistas no Brasil – Foto: Reprodução

 

O evento Mulheres Modernistas no Brasil acontece nesta quinta-feira, dia 9, das 18 às 20 horas, no Auditório 1 do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) da USP (Avenida Professor Luciano Gualberto, 78, Cidade Universitária, em São Paulo). Grátis. Não é preciso fazer inscrição.


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