Simpósio na USP discute a resistência e memória de imigrantes

Evento acontece nos dias 3, 4 e 11 de novembro, com atividades presenciais e on-line

 01/11/2022 - Publicado há 1 ano
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Angelo Tommase, Gli Emigranti, óleo sobre tela, 433 x 262cm, Roma, 1896, Galleria Nazionale di Arte Moderna, Itália – Foto: Wikimedia Commons

 

A fim de instigar o debate sobre deslocamentos humanos nos séculos 20 e 21, a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP promove, nos dias 3, 4 e 11 de novembro, a segunda edição do colóquio internacional Imigrantes, Exilados e Refugiados: Trajetórias de Vida e Marcas de um Legado

Organizado pelo Laboratório de Estudos sobre Etnicidade, Racismo e Discriminação (Leer) da FFLCH, o evento resulta de um estudo que vem sendo desenvolvido na USP há dois anos, com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Colabora também com o simpósio o Laboratório de Estudos de Imigração (Labimi) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

A professora Maria Luiza Tucci Carneiro. Foto: Divulgação/FFLCH

“A proposta do colóquio é incentivar novos estudos sobre a questão das migrações, além de dialogar com a historiografia já existente sobre o tema”, explica a professora Maria Luiza Tucci Carneiro, docente do Departamento de História da FFLCH e coordenadora do Leer. “Trazemos de forma evidente, também, a discussão sobre os direitos garantidos não só ao imigrante, mas também ao apátrida, ao exilado e ao refugiado que buscam abrigo aqui no Brasil.”

A expressão “imigrante” é utilizada de forma genérica para descrever qualquer tipo de deslocamento humano entre países, incluindo o voluntário. Já “exilado” e “refugiado” são termos que designam condições específicas de migração. Nesses casos, a mudança de território é realizada contra a vontade do indivíduo, que opta pelo deslocamento devido a coação, medo ou risco de vida. Apátrida, por sua vez, é a pessoa que não tem sua nacionalidade reconhecida por nenhum país.

“A contribuição que essas pessoas trazem à cultura brasileira, em busca da valorização das diferentes etnias e costumes que elas carregam consigo, é enorme. É muito importante, para nós, celebrar esse legado”, diz Maria Luiza Tucci Carneiro. 

Propaganda da empresa de navegação Hamburg.Südamerikanische usada principalmente pelos imigrantes alemães nos anos 30 e 40 – Foto: Acervo pessoal/Maria Luiza Tucci Carneiro

“Buscamos também desmentir o mito de que o Brasil sempre foi uma nação cordial. O racismo esteve presente a toda hora na história do nosso País”, explica Tucci. “Historicamente, os imigrantes foram representados como cidadãos indesejáveis, um pensamento nocivo que persiste até os dias de hoje.” Durante a ditadura de Getúlio Vargas (1937-1945) e a ditadura militar (1964-1985), o Estado brasileiro assumiu uma postura rígida perante a entrada de imigrantes no País, conta a professora, que aponta ainda para a tentativa histórica de branqueamento racial da população através da recepção apenas de imigrantes europeus.

No dia 3 de novembro, a abertura do colóquio receberá Federico Croci, docente na Universidade de Gênova, na Itália, e colaborador de longa data do Leer. “O professor Croci estagiou conosco durante quatro anos, e publicou comigo, pela Editora da USP, o livro Tempos de Fascismos: Ideologia, Intolerância, Imaginário, conta Maria Luiza Tucci Carneiro. Em sua palestra — que acontece às 9h30, no Auditório Nicolau Sevcenko da FFLCH —, o pesquisador discutirá o mito das três raças, a percepção histórica de que a cultura brasileira se formou sem conflitos através da integração dos costumes europeus, africanos e indígenas. “Essa concepção minimiza os discursos intolerantes e a obstrução da circulação livre dos imigrantes que estiveram presentes durante a colonização”, adianta Tucci.

Érica Sarmiento, coordenadora do Laboratório de Estudos de Imigração da UERJ, encerra o primeiro ciclo de palestras no dia 4 de novembro, às 16 horas, também no Auditório Nicolau Sevcenko. Na conferência Mulheres e Migrações Forçadas na América Latina: Trajetórias dos Corpos Femininos, Violências e Resistências no Século XXI, a pesquisadora discutirá o perfil das mulheres migrantes e a inexistência de políticas brasileiras para recebê-las. 

A professora Érica Sarmiento com o livro que será lançado no colóquio – Foto: Divulgação/UFRJ

Na sequência, às 16h45, o colóquio promove o lançamento de dois livros de Érica, ambos com a temática da imigração. Publicadas pela Editora Intermeios, as obras Migrações Forçadas, Resistências e Perspectivas: América Central, México e Estados Unidos (2016-2020) e Entre os Trópicos e o Rio da Prata: Estudos Comparados de Imigração Galega no Rio de Janeiro e em Buenos Aires — escrita em parceria com Ruy Farías — resultam da extensa pesquisa da professora sobre deslocamento humano no século 21. 

Já no dia 11 de novembro, a programação do evento será totalmente on-line. Na ocasião, a FFLCH recebe pesquisadores ligados à Universidade de Varsóvia, na Polônia.

Outros palestrantes vão discutir temáticas como a imigração cigana, portuguesa, angolana, espanhola, italiana, venezuelana e libanesa. “É importante destacar a participação da professora Elis Regina Barbosa Angelo, que estuda a literatura de cordel dos migrantes nordestinos. Essa será a única palestra dedicada ao deslocamento humano dentro do Brasil”, destaca Tucci Carneiro.

O 2º Colóquio Internacional Imigrantes, Exilados e Refugiados: Trajetórias de Vida e Marcas de um Legado acontece nos dias 3 e 4 de novembro, das 9h15 às 18hs, no Auditório Nicolau Sevcenko da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, e no dia 11 de novembro, das 14h30 às 17h30, on-line. Grátis. Interessados em receber certificado de participação devem fazer inscrição pelo e-mail leer@usp.br. Mais informações estão disponíveis na página do evento no Facebook.


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