“Revista do IEB” discute o corpo sob diferentes óticas

Já está disponível on-line o número 84 da publicação do Instituto de Estudos Brasileiros da USP

 16/05/2023 - Publicado há 12 meses
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Ilustrações do acervo do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) da USP, entre elas a figura acima, são publicadas na nova edição da Revista do IEB – Foto: Reprodução/Revista do IEB

 

Aspectos históricos, sociais, raciais e políticos que envolvem a figura do corpo estão entre os temas tratados na nova edição da Revista do IEB, publicação do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) da USP. A nova edição, de número 84, traz, na seção Artigos, nove ensaios escritos por diferentes pesquisadores, além de cinco textos divididos entre as tradicionais seções Criação, Documentação e Resenhas. Da capa à contracapa, gravuras do acervo do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) ilustram a revista. Ela está disponível gratuitamente no Portal de Revistas da USP.

“A questão do corpo, ou do corpóreo, talvez possa servir de balizador ou mote, provocando os leitores e instigando-os a pensarem nas múltiplas relações que são estabelecidas hodiernamente e historicamente tendo-o (o corpo) como evidência primordial de um acontecimento”, escrevem no Editorial a professora Dulcília Helena Schroeder Buitoni e os professores Luiz Armando Bagolin e Walter Garcia, editores da Revista do IEB.

A temática está presente em artigos como Deslizes do Estereótipo – Cabelos e Estéticas da Raça no Brasil, da professora Mylene Mizrahi, da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro. No artigo, escrito em inglês, Mylene analisa os tipos de penteados de mulheres negras, no Rio de Janeiro, na década de 2010, como estratégia para combater o racismo e o apagamento de diferenças ou, inversamente, para reforçá-los. “Vemos o constante tensionamento entre mudança e permanência e a convivência nada harmônica entre concepções sobre raça no Brasil”, escreve a autora.

Em Ensaio sobre o Chapéu: Reflexões de Gilda de Mello e Souza a Partir de Um Acessório da Moda, o doutorando em Filosofia da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar) Rafael do Valle expõe as análises que a professora Gilda de Mello e Souza (1919-2005) faz, em sua obra, sobre a figura do chapéu. Gilda foi a primeira professora de Estética do Departamento de Filosofia da USP e é autora do livro O Espírito das Roupas: a Moda no Século Dezenove, que foi a sua tese de doutorado. Gilda definiu a moda como “a mais humana das artes” e foi pioneira nos estudos acadêmicos sobre o assunto. Ela dedicou ensaios também à relação entre a moda e outros campos do conhecimento, como a literatura e o cinema. A professora se interessou especialmente pelas interpretações sobre o chapéu, como é possível observar no ensaio Paulo Emílio: a Crítica como Perícia, em que analisa como cada chapéu identifica as personalidades de determinados personagens no cinema. “O seu olhar pericial, atento aos detalhes, consegue ver numa peça do vestuário como o chapéu uma constelação de significados”, escreve Rafael.

A professora Gilda de Mello e Souza – Foto: Reprodução/FFLCH-USP

 

“O modista, ao desenhar uma peça de roupa, deve levar em conta que ela pode ser modificada pelo gesto daquele que veste a sua obra, incorporando o movimento como elemento que dita o desenho do traje. É nosso corpo que a sustentará”, reflete Rafael a partir das ideias de Gilda.

Já em Choque Cultural, Notas sobre Uma Entrevista de Celso Furtado a Zelito Viana, 1975, a doutora em História Moderna e Contemporânea Renata Bianconi e a professora da Unicamp Maria Alice Rosa Ribeiro contextualizam as reflexões e as obras de Celso Furtado (1920-2004) a partir do curta-metragem Choque Cultural. O filme, lançado em 1977 e restaurado em 2020, tem direção de Zelito Viana e foi desenvolvido a partir de uma entrevista que o economista deu ao diretor quando retornou ao Brasil, após dez anos de exílio.

“Furtado foi cassado política e economicamente, proibido de exercer atividade em instituições públicas ou privadas que recebessem recursos públicos, sendo ele funcionário público. Ameaçado de ser preso, optou pelo exílio”, contam as autoras no artigo. Em 1975, um ano após readquirir seus direitos políticos, foi convidado a integrar o corpo docente da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo. “O filme foi baseado nas ideias de Furtado sobre a sociedade brasileira e sobre a concepção de dominação cultural e das várias formas que assume, dentre elas a dominação econômica”, explicam.

O economista Celso Furtado – Foto: Arquivo Nacional/Wikimedia Commons

 

Pequena Biografia Política de Guimarães Rosa, do jornalista, professor e doutor em Ciências Sociais Gustavo Castro e da jornalista e doutoranda Andrea Jubé, reproduz uma série de documentos históricos a fim de investigar o posicionamento político do escritor mineiro João Guimarães Rosa (1908-1967). Com base na hipótese do professor de Literatura da USP Willi Bolle de que o escritor concordaria com ideais reacionários, Gustavo e Andrea evidenciam a ligação de Guimarães Rosa, descendente de uma família fundada no latifúndio mineiro e educado em escolas dedicadas à elite agrária, com o conservadorismo. No entanto, eles fazem uma abordagem diferente da referenciada por Bolle. Castro e Andrea afirmam que sua pesquisa “contemporiza esse posicionamento com o juízo ético e o senso de justiça do autor, que o identificam com ideais progressistas”.

O escritor João Guimarães Rosa – Foto: Reprodução/Arquivo Nacional

 

A revista também conta com os artigos O Silêncio Sinfônico da Floresta. Geofonia, Biofonia e Antropofonia em A Selva, de Ferreira de Castro, de Luca Bacchini, e Dois Cancioneiros Inacabados: Os Caminhos Cruzados de Amadeu Amaral e Mário de Andrade, de Maria Laura Viveiros de Castro Cavalcanti. Completam a seção Artigos da revista os ensaios Eufrásia Teixeira Leite entre as Finanças e a Moda, de Flávio Oscar Nunes Bragança e Priscila Faulhaber, Paisagens Brasileiras do Século XIX: Cotidiano e Desafios dos Viajantes Naturalistas, de Fernando de Morais, Marina Haizenreder Ertzogue e Reuvia de Oliveira Ribeiro, e Notas sobre a História da Igreja Matriz de Santo Antônio, no Distrito de Glaura, em Ouro Preto, de Aziz José de Oliveira Pedrosa.

Capa da Revista do Instituto de Estudos Brasileiros (RIEB), número 84 – Foto: Reprodução/Revista do IEB

Dois textos são publicados na seção Criação, de autoria de Jé Oliveira e Ana Paula Pacheco. Em Documentação, a Revista do IEB traz uma carta datada de 1738 e endereçada ao então governador da capitania de Pernambuco, Henrique Luiz Pereyra Freyre. A seção Resenhas reúne textos sobre dois livros publicados recentemente: Regional como Opção, Regional como Prisão: Trajetórias Artísticas no Modernismo Pernambucano, de Eduardo Dimitrov, e L’Humanité: un Commencement. Le Tournant Éthique de la Societé-Monde, de Jacques Levy.

A Revista do IEB, número 84, publicada pelo Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) da USP, está disponível no Portal de Revistas da USP.


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