Quando o jornalista dá a cara a tapa…

Jurandir Renovato apresenta o seu primeiro livro de crônicas. E, além de “A Árvore do Desconhecimento”, a Com-Arte lança quatro livros inéditos

 16/12/2021 - Publicado há 2 anos
Por

 

A Árvore do Desconhecimento: crônicas de Jurandir Renovato – Foto: Reprodução

 

“Ele não faz força alguma para apresentar e desenvolver ideias sofisticadas. Seu texto caminha limpo e límpido, sem amarras. Sem jargões. Aqui está, pois, A Árvore do Desconhecimento, o aguardado livro em que Renovato dá a cara a tapa.” Assim o jornalista Francisco Costa apresenta o primeiro livro do amigo Jurandir Renovato, lançamento da Com-Arte – Editora Laboratório do Curso de Editoração da Escola de Comunicações e Artes da USP (ECA-USP), que está lançando outros quatro livros (veja abaixo). Como bem avisa Costa, que atuou com Renovato por quase três décadas na edição da Revista USP, “o cronista por excelência mergulha o leitor na água turva da metafísica para voltar a trazê-lo à terra firme logo depois”.

Jurandir Renovato. Livro: A Árvore do Desconhecimento – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

As crônicas que compõem A Árvore do Desconhecimento foram publicadas no Jornal da USP, mas passaram pela reedição exigente do autor. “Esse trabalho nasceu dessa minha vontade de falar sobre os livros que amo de uma maneira diferente, de uma maneira que pudesse revelar o ser humano por trás do livro”, conta Renovato. “Sempre resenhei livros para jornais. Mas chega uma hora que você quer mostrar a sua própria cara e a sua própria voz. E eu queria que fosse da forma como encaro a cultura e os livros, de uma forma divertida, sem altos e categóricos juízos de valor.”

O leitor vai se surpreender com as crônicas enfileiradas nas 184 páginas. A sensação de ter o livro nas mãos abre para as trilhas que Renovato vai sugerindo. O fio condutor é o humor. Como bem assinala Francisco Costa, “o autor não tem vergonha de ser alegre”.
O primeiro parágrafo de “A Árvore do Desconhecimento”, texto que dá nome ao livro, já preconiza: “No princípio Deus criou as letras e os números. Não satisfeito, no segundo dia criou as palavras e as contas, não aquelas que chegam no fim o mês, pelo correio. Mas as de somar e multiplicar, coisa simples ainda. No terceiro dia, Deus criou os verbos, os pronomes e, claro, a regra de três…”

Certo é que o leitor vai longe… O autor conhecido por resenhar inúmeros livros, leitor incondicional de Machado de Assis e Jorge Luis Borges, conhecedor dos “aulistas” de Roland Barthes e dos “palavristas” de Jean-Paul Sartre inspira a liberdade de ser o que é. E se dá o direito de terminar o livro com a observação: “todos viveram felizes para sempre”. Seguida de uma vírgula.

 

“Suas reportagens encantam e doem. Encantam porque são muito bem escritas, além de originalíssimas. Doem porque descobrem lâminas de verdade…”

Por um Ponto Final, de Mônica Manir – Foto: Reprodução

 

“Leio alumbrado o texto de Mônica Manir. Leio já faz tempo – não é de agora que admiro essa grande jornalista. Gosto de me deixar levar pela prosa que alumia.” O jornalista e professor da Escola de Comunicações e Artes da USP, Eugenio Bucci, apresenta Por um Ponto Final, de Mônica Manir. Editado pela Com-Arte, reúne as reportagens que a jornalista, mestre e doutora em bioética publicou no jornal O Estado de S. Paulo e Revista Piauí.

“São histórias curiosas, dignas de relato cuidadoso, mas sem conexão obrigatória com o momento. Exemplo é o enterro de membros amputados no Cemitério de Vila Formosa, em São Paulo, tema que anotei no meu caderno anos antes, depois de uma conversa com um sepultador, mas que tinha dificuldade para ‘emplacar'”, conta a repórter. “Em comum, os textos deste livro trazem o espírito que norteia meu ofício de jornalista: retratar pessoas e situações na sua humanidade.”

No prefácio, Bucci destaca o olhar sensível de Mônica diante dos fatos do cotidiano. “Suas reportagens encantam e doem. Encantam porque são muito bem escritas, além de originalíssimas. Doem porque descobrem lâminas de verdade soterradas pela banalidade do cotidiano, pela invisibilidade da exclusão.”

 

“É isso o que se apresenta nas próximas páginas: um belo arrebanhado de reportagens com a cara do melhor jornalismo de grande angular.”

Viúvas Ilustres, de Juliana Sayuri – Foto: Reprodução

 

Em Viúvas Ilustres – e outras histórias que quase foram esquecidas, os leitores podem observar o trabalho de outra jornalista: Juliana Sayuri. O prefácio do livro é de Mônica Manir – as duas jornalistas se conheceram na redação do jornal O Estado de S. Paulo. “Logo intuí que tinha uma pepita de ouro por perto. Menos porque se apresentou numa versão oriental loira-tamanho-mignon. Mais porque mostrou uma ousadia e um interesse que considero essenciais na função de repórter.”

Mônica, com a sua experiência, intuiu certo. “É isso o que se apresenta nas próximas páginas: um belo arrebanhado de reportagens com a cara do melhor jornalismo de grande angular”, define. “Retratar companheiras de homens revolucionários, aliás, não é tarefa para amadores. Só com maturidade é possível usar o testemunho delas para recuperar a trajetória dos seus maridos e, ao mesmo tempo, mostrar a luz que emana das próprias.”

Juliana Sayuri dividiu o livro, lançamento da Com-Arte, em tópicos. “Viúvas Ilustres e Violentadas focam histórias femininas, feministas e questões de gênero. Viúvas famosas como Clara Charf, companheira de Carlos Marighella, Joan Turner, bailarina britânica casada com Victor Jara, e Marian Said, ativista libanesa que viveu décadas ao lado de Edward Said, dividem espaço com mulheres anônimas”, explica a repórter. “Questões de gênero, disputas urbanas, liberdade de expressão e de imprensa, resistências culturais e políticas marcam, portanto, a divisão dos capítulos.”

 

“Do confronto de escritas, a autora faz emergir os múltiplos desenvolvimentos da literatura brasileira, dos tempos dos folhetins ao Modernismo dos anos 1920.”

Edição Lobatiana de Memórias de um Sargento de Milícias, de Lilian Escorel – Foto: Reprodução

 

O livro Edição Lobatiana de Memórias de um Sargento de Milícias foi sendo desenhado há duas décadas. A autora, Lilian Escorel, acatou a ideia de sua banca de mestrado, defendido na Escola de Comunicações e Artes da USP, de transformar em livro a pesquisa orientada por Alice Mitika Koshiyama e Telê Ancona Lopes.

“De lá para cá muitos giros a terra deu. Após entradas e saídas da gaveta seguidas de canetas a rasurar e escrever o texto, obsessivamente, minha dissertação ganhou a cara do livro com que tanto sonhei”, explica Lilian. Hoje doutora em Literatura Brasileira pela USP, com pós-doutorado na mesma área realizado no Instituto de Estudos Brasileiros (IEB-USP), ela publica o seu trabalho inconteste pela Com-Arte.

Marisa Midori, professora da ECA-USP, faz a apresentação. “Neste livro, Lilian Escorel propõe um estudo profundo sobre a fortuna editorial e crítica do romance, ao mesmo tempo que nos permite acompanhar as substituições, supressões, deslocamentos, reduções e inversões que o autor de Urupês opera no texto ‘original’ do escritor carioca. Sim, ‘original’ entre aspas, pois a grande questão – o que é o autor? – que movimentou a teoria literária, a história e até mesmo a filosofia será revisitada nessa pesquisa com todas as nuances.”

Midori destaca que a pesquisadora apresenta questões das mais relevantes. “Do confronto de escritas, a autora faz emergir os múltiplos desenvolvimentos da literatura brasileira, dos tempos dos folhetins ao Modernismo dos anos 1920.”

 

“Na mesmice dos dias, as datas se perdem e as horas só são percebidas pelas trocas dos turnos, as notícias quase não chegam.”

 

Um Sol Amarela Girafa, de Daniel Eustachio – Foto: Reprodução

 

Um Sol Amarela Girafa, de Daniel Eustachio, surpreende o leitor com um romance em primeira pessoa. A capa azul do livro, com o título em vermelho com letras escritas à mão e o desenho de uma gaiola vazia, já sugere o cuidado da narrativa. E o passarinho? Voou sozinho para um galho na primeira página, colorida de vermelho. Delicadezas da equipe da Editora Laboratório Com-Arte.

O romance é sintetizado na orelha do livro pelo professor José de Paula Ramos, da ECA. “No meio do nada, há um posto à beira da estrada, muitos caminhoneiros e outros viajantes. Em volta, só cana de açúcar a se perder de vista e a usina. A cidade mais próxima situa-se a cerca de 80 km…”

“O posto é uma ilha cujos habitantes são reificados na rotina dos serviços, sempre os mesmos, sem alteração, dia após dia. Ali se desenrola o cenário de Um Sol Amarela Girafa“, descreve o professor. “Na mesmice dos dias, as datas se perdem e as horas só são percebidas pelas trocas dos turnos, as notícias quase não chegam.”

A protagonista, que narra a história, é Ana Pirapora. No primeiro capítulo, ela conta: “Que menina bonita, tem uns que falam, mas não dou bola. Só dou uma risadinha forçada enquanto puxo as cadeiras de uma mesa. Com sorte me esquecem logo que eu levo o primeiro pedaço de picanha…”

 

A editora Com-Arte – Editora Laboratório do Curso de Editoração da Escola de Comunicações e Artes da USP lança os seguintes livros:

A Árvore do Desconhecimento, de Jurandir Renovato, 184 páginas. Preço: R$ 59,00.
Por um Ponto Final, de Mônica Manir, 176 páginas. Preço: R$ 39,00.
Viúvas Ilustres – e outras histórias que quase foram esquecidas, de Juliana Sayuri, 200 páginas. Preço: R$ 49,00.
Edição Lobatiana de Memórias de um Sargento de Milícias, de Lilian Escorel, 192 páginas. Preço: R$ 59,00.
Um Sol Amarela Girafa, de Daniel Eustachio, 200 páginas. Preço: R$ 39,00.

Os livros são encontrados nas livrarias Edusp ou pelo site www.lt2shop.com.br

 


Política de uso 
A reprodução de matérias e fotografias é livre mediante a citação do Jornal da USP e do autor. No caso dos arquivos de áudio, deverão constar dos créditos a Rádio USP e, em sendo explicitados, os autores. Para uso de arquivos de vídeo, esses créditos deverão mencionar a TV USP e, caso estejam explicitados, os autores. Fotos devem ser creditadas como USP Imagens e o nome do fotógrafo.