Portal disponibiliza antiga revista do Cinema da USP

Entre 1999 e 2006, “Sinopse” foi um dos principais veículos de divulgação e debate sobre a sétima arte no País

 12/04/2023 - Publicado há 1 ano
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Capas de diferentes edições de "Sinopse - Revista de Cinema", publicada entre 1999 e 2006 pelo Cinema da USP Paulo Emilio (Cinusp) - Foto: Reprodução/Portal de Revistas da USP

As 12 edições de Sinopse – Revista de Cinema, publicada entre 1999 e 2006 pelo Cinema da USP Paulo Emilio (Cinusp), estão disponíveis na íntegra, gratuitamente, no Portal de Revistas da USP. A publicação traz artigos, críticas e divulgação de mostras e debates promovidos pelo Cinusp durante os sete anos em que ela circulou.

O diretor do Cinusp, professor Eduardo Morettin, do Departamento de Cinema, Rádio e Televisão da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, conta que a revista “tinha uma perspectiva muito clara de intervenção no debate sobre o cinema brasileiro contemporâneo e sobre políticas públicas para o setor cinematográfico”.

O professor Eduardo Morettin, diretor do Cinema da USP Paulo Emilio - Foto: Arquivo pessoal

A versão digital de Sinopse já havia sido disponibilizada no site do Cinusp. Agora, com o apoio da Agência de Bibliotecas e Coleções Digitais (ABCD) da USP, a atual direção do cinema optou por disponibilizá-la também no Portal, a fim de que as produções alcancem uma circulação maior. Nessa plataforma, através do sistema de busca, é possível encontrar autores, artigos e temas do interesse do usuário, utilizando palavras-chave. “É um repositório seguro para que a revista permaneça de livre acesso”, comenta Morettin.

O formato, a linguagem e a liberdade editorial faziam com que Sinopse fugisse dos padrões de uma revista acadêmica comum, como lembra a professora Maria Dora Mourão, também do Departamento de Cinema, Rádio e Televisão da ECA, que era a coordenadora-geral do Cinusp durante os anos de publicação da revista. “Não existia nada no Brasil naquele período com o mesmo nível de discussão. Ela era uma publicação que atingia qualquer tipo de público, qualquer interessado em cinema e em discussões sobre a política cinematográfica”, diz a professora.

Profissionais prestigiados da área do audiovisual tiveram participação nas edições de Sinopse. “Havia uma série de pessoas que, naquele tempo, eram estudantes e depois se tornaram figuras atuantes do ponto de vista da gestão cinematográfica”, relembra Morettin, citando como exemplos Manoel Rangel, ex-diretor-presidente da Agência Nacional do Cinema (Ancine), e Alfredo Manevy, ex-secretário executivo do Ministério da Cultura.

Também colaboraram com Sinopse nomes já consolidados na época, como Ismail Xavier, Carlos Augusto Calil, Rubens Machado Júnior, Maria Rita Kehl e Fernão Ramos. “Com a reunião dessas pessoas, a revista se tornou um veículo de articulação e de divulgação do pensamento cinematográfico”, destaca Morettin.

Espaço para reflexão sobre cinema

A edição número zero de Sinopse, lançada em abril de 1999, apresentou a mostra Brecht por Trás da Tela e trouxe também uma explicação sobre o surgimento da publicação, através do editorial As Razões da Revista, quase um manifesto a favor do “cinema como meio de entendimento do mundo, como reflexo e ator dos processos sociais, como produtor de cultura”. No mesmo texto, a equipe da revista caracteriza o projeto como “um espaço permanente para a reflexão sobre o cinema e sua inserção no mundo”.

Essa primeira edição expôs ainda artigos sobre a mostra Superproduções em Debate, promovida pelo Cinusp na época, além de opiniões sobre a premiação do Oscar de 1999 – na qual a atriz brasileira Fernanda Montenegro foi indicada ao prêmio de Melhor Atriz – e sobre os filmes em cartaz naquele ano. No mesmo número da publicação, a equipe de autores abriu espaço para um sistema de avaliação por notas acompanhado de breves críticas em “Quem sou eu para julgar?”, seção que reaparece em edições posteriores.

As outras edições de Sinopse também trazem artigos em que os autores abordam diferentes períodos da história do cinema e analisam os principais acontecimentos ligados à sétima arte. Mostras e obras de cineastas como o italiano Pier Paolo Pasolini e os brasileiros Dias Gomes e Glauber Rocha são alguns dos temas abordados.

Apesar de o cinema nacional ser destaque em cada volume, a revista abordava diferentes representações da arte ao redor do mundo. É o caso das edições de números 3 e 4, que expõem, respectivamente, as mostras Cinema Palestino: Uma Nação na Tela e Cinema Cubano: 40 Anos, a Utopia Continua, também realizadas pelo Cinusp na época. Ao longo dos anos em que circulou, Sinopse tratou dos mais variados temas, desde os blockbusters e os filmes clássicos, passando pelas técnicas narrativas e os bastidores dos filmes, até as políticas públicas para o cinema como política.

A despedida de Sinopse aconteceu em setembro de 2006, com a edição número 11. Um dos principais motivos para o fim da produção foi a separação da equipe, uma vez que boa parte dos seus membros já não era integrante do Cinusp, nem mesmo da USP. Hoje, segundo Morettin, os moldes estabelecidos para a formatação de uma revista acadêmica tornam inviável que uma publicação semelhante seja lançada.

Apesar disso, o propósito e a relevância de Sinopse permanecem, de acordo com a professora Maria Dora Mourão. “É muito importante divulgar essas informações e trazer debates que aconteceram no passado e que continuam fundamentais para entender muita coisa que está acontecendo hoje”, conclui ela.

A revista Sinopse – Revista de Cinema, produzida pelo Cinema da USP Paulo Emilio (Cinusp) entre 1999 e 2006, está disponível para consulta no Portal de Revistas da USP.

Cinema da USP exibe filmes nacionais contemporâneos

Filmes nacionais estão sendo exibidos no Cinema da USP Paulo Emilio (Cinusp) até o dia 30 deste mês. A 11ª edição da mostra Novíssimo Cinema Brasileiro, que começou no dia 10 passado, apresenta produções recentes da indústria cinematográfica contemporânea do País. Longas-metragens de diferentes gêneros, debates e uma sessão de curtas-metragens poderão ser conferidos pelos espectadores ao longo do evento.

A política está presente na programação. Amigo Secreto (2022), de Maria Augusta Ramos, aborda o desenrolar da Operação Lava Jato após 2019 pela ótica jornalística. No primeiro longa-metragem de Lázaro Ramos, Medida Provisória (2022), o racismo está no centro da trama e da criação de um futuro distópico, em que pessoas negras são deportadas do País. Na sessão de 18 de abril, ocorrerá um debate com os Coletivos Negros da USP após o filme.

Em Edna (2021), de Eryk Rocha, a personagem homônima enfrenta a violenta realidade de viver em um local marcado pelo conflito de terras no norte do Brasil. Já o primeiro longa-metragem do Acre, Noites Alienígenas (2022), de Sérgio de Carvalho, entrelaça a vida de três amigos, a ascensão do crime organizado na região e a cultura dos povos tradicionais locais. Marte Um (2022), de Gabriel Martins, escolhido para representar o Brasil no Oscar de 2023,  também será exibido. 

Após a sessão de Racionais: Das Ruas de São Paulo Para o Mundo (2022), nesta quinta-feira, dia 13, haverá um debate com os montadores do documentário, Washington Deoli e Yuri Amaral. A exibição de Perlimps (2022) também será seguida por uma conversa. O diretor da animação, Alê Abreu, estará presente na sessão de 26 de abril.

Haverá debate depois da pré-estreia de O Cangaceiro da Moviola (2022), nesta sexta-feira, dia 14, com o diretor Luís Rocha Melo. A memória, as relações familiares e a maternidade atravessam a narrativa de O Canto das Amapolas (2023). O filme de diálogo da diretora com sua mãe é outra pré-estreia.

A mostra Novíssimo Cinema Brasileiro, do Cinema da USP Paulo Emílio (Cinusp), fica em cartaz até 30 de abril, de segunda a sexta-feira, com sessões às 16 e às 19 horas, na sala do Cinusp (Rua do Anfiteatro, 109, Cidade Universitária, em São Paulo) e no Centro Universitário Maria Antonia (Rua Maria Antonia, 258/294, Vila Buarque, em São Paulo). Entrada grátis. Mais informações e a programação completa da mostra estão disponíveis no site do Cinusp.

Rebeca Fonseca


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