Pesquisa acadêmica traz a vitória-régia para São Paulo

Trabalho de conclusão de curso apresentado na USP rendeu a doação de mudas da planta para o Jardim Botânico

 26/03/2024 - Publicado há 1 mês
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Detalhe de um exemplar de Victoria amazonica – Foto: Chriss Cass

 

Um trabalho de conclusão de curso (TCC) em Artes Plásticas – apresentado em 2023 na Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP – resultou na introdução da planta vitória-régia (Victoria cruziana) no Jardim Botânico de São Paulo. Intitulado Nymphographia, o TCC foi elaborado pelo artista visual Chriss Cass, que em seu trabalho utilizou plantas da família ninfeáceas (que inclui vitórias-régias e ninfeias) para refletir sobre a arte e a vida. “Eu juntei o conhecimento científico com o conhecimento poético para produzir reflexões sobre a existência”, explica Cass. “A vitória-régia, grande mote do meu trabalho, chamou a atenção por essa questão da transformação, da vida e da morte.”

Para fazer o TCC, Cass se dedicou a estudar as ninfeias do Jardim Botânico de São Paulo, com apoio da instituição. Ele também fez parceria com a empresa de paisagismo Belas Águas, de Piracicaba (SP), que, através de sua proprietária, a engenheira agrônoma Uli Suadicani, doou mudas de vitórias-régias para o Jardim Botânico, que até então não possuía nenhum exemplar dessa espécie de planta entre os mais de 12 mil vegetais do seu acervo. Elas foram colocadas no Jardim de Lineu, cartão-postal do local, onde podem ser vistas pelo público. Além disso, Cass doou para o Jardim Botânico exemplares de ninfeias de sua coleção particular. “Ao cuidar das plantas, eu penso sobre elas e aprendo com elas. Elas não são só o material para eu fazer arte, mas também interlocutores com os quais eu crio”, conta Cass sobre seu processo artístico. “Meu jardim é também o meu ateliê.”

Partes de Victoria amazonica: botão, flor feminina e flor masculina – Foto: Chriss Cass

 

O trabalho de Cass se faz “por meio da composição de textos e imagens, de fontes múltiplas e interdisciplinares, que são conjugadas através de relações intensivas para evocar as potencialidades do liame Vida-Morte, eixo principal desta investigação que toma de empréstimo – e se torna, ao mesmo tempo – a forma vegetal das ninfas para inquerir sobre a pervivência dos seres”, como ele escreve na apresentação da obra. “Excertos de divulgação científica, textos literários, filosóficos e imagens de naturezas diversas fazem parte dessas referências que fazem vibrar em mim imagens e pensamentos sobre esse tema.”

O interesse de Cass por plantas aquáticas começou em 2019. Desde então ele cultiva essas espécies vegetais em casa, que servem tanto como fonte de pesquisa artística como material para as obras. Cass experimenta com técnicas de preservação, fotografia, instalações, esculturas e outros meios. Ao mesmo tempo, estuda botânica.

Clima paulistano

A vitória-régia possui folhas que medem até 2 metros de diâmetro e podem sustentar o peso de uma criança. Suas raízes são fixadas no leito do rio e seu pecíolo é espinhoso, com câmaras de ar para ajudar na flutuação. A face em contato com a água possui nervuras que garantem sustentação. Suas características tornaram a vitória-régia o desejo de vários jardins botânicos pelo mundo. Ela atrai visitantes na Europa e na América do Norte. Em Londres, o Royal Botanic Gardens em Kew se vangloria de ter uma Victoria boliviana de dimensões recorde.

A vitória-régia ocorre em climas tropicais e não lida bem com o clima paulistano. “Não é uma planta fácil de cultivar aqui em São Paulo”, explica o professor Gregório Ceccantini, do Instituto de Biociências (IB) da USP. “Ela não tolera águas frias, baixas temperaturas do ar ou sombreamento. Ela precisa estar em pleno sol.” A fauna do tanque também impacta o desenvolvimento: a planta pode ser devorada se conviver com peixes herbívoros, caramujos ou outros invertebrados.

Enquanto as vitórias-régias vivem em casas de vegetação aquecidas nos países temperados, os exemplares brasileiros são cultivados a céu-aberto. Uma frente fria com temperaturas de 15 graus pode ser fatal. O sucesso da planta em São Paulo representa um desafio considerável.

Transporte de mudas de vitória-régia doadas ao Jardim Botânico de São Paulo – Foto: Chriss Cass

O trabalho de conclusão de curso (TCC) Nymphographia, de Chriss Cass, apresentado em 2023 no Departamento de Artes Plásticas da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, está disponível neste link.

* Estagiária sob supervisão de Marcello Rollemberg e Roberto C. G. Castro


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