A mostra Lugar-Comum, em cartaz no Museu de Arte Contemporânea (MAC) da USP, reúne artistas, curadores e convidados para um projeto experimental que questiona o tradicionalmente hierárquico processo de construção das exposições de arte. Elaborada de forma colaborativa ao longo de cinco meses, a exibição — um work in progress à vista do público — dará início a seu terceiro e último ato neste sábado, dia 20, no 5º andar do edifício-sede do museu, no Ibirapuera, em São Paulo.
Em sua primeira configuração, inaugurada em março, a mostra contou com obras dos artistas Carmela Gross, Ding Musa, Emmanuel Nassar, Jessica Mein, Laércio Redondo, Marcelo Zocchio, Nina Moraes, Rodrigo Bivar, Rogério Ghomes, Rommulo Vieira Conceição, Rosângela Rennó e Gustavo Von Ha. A seleção inicial das peças ficou a cargo das curadoras Ana Magalhães, Marta Bogéa e Helouise Costa. Na seguinte etapa do projeto, os artistas puderam escolher livremente outras obras do acervo do MAC para dialogar com seus trabalhos, com o auxílio dos convidados Claudinei Roberto, Cláudio Mubarac, Paulo Pasta, Paulo Garcez, Regina Silveira e Tadeu Chiarelli.
Agora, no Ato 3 da exibição, todo o grupo envolvido seleciona, coletivamente, as obras que completam o conjunto, dando-se por finalizado o processo. “Essa exposição colocou em xeque as funções pré-estabelecidas de cada participante, e nos levou a um resultado que não estava previsto quando o projeto teve início. O produto final foi fruto de muita negociação, debate e questionamentos”, diz a curadora Helouise Costa, também livre-docente da USP na área de História, Teoria e Crítica de Arte em Museus.
Lugar-Comum surgiu com a intenção de resgatar os projetos experimentais de exposição que o Museu de Arte Contemporânea vem implementando desde sua origem, conta Helouise. “O MAC foi fundado em 1963 e seu primeiro diretor, Walter Zanini, estabeleceu uma programação muito dinâmica e inovadora para a época: ele trouxe os artistas para o museu e trabalhou junto com eles na construção e elaboração das exposições”, explica.
O diálogo constante com o corpo técnico do museu também foi essencial ao projeto — algumas demandas do grupo de curadoria tornaram-se possíveis apenas com a colaboração das equipes de coordenação e conservação do MAC, conta a entrevistada. Obras icônicas do acervo do museu, entre elas, quadros do pintor francês Henri Matisse e do italiano Giorgio Morandi, serão apresentadas sem moldura por solicitação do convidado Paulo Pasta. “A ideia era soltar as pinturas de suas amarras. A moldura cria uma outra camada de significado que muitas vezes está distante daquilo que o artista pensou”, desenvolve Helouise. “Essa decisão tem um impacto muito grande na preservação do nosso acervo, e exigiu uma discussão interna para que pudesse ser realizada.”
A divisão da exposição em atos criou uma experiência até mesmo didática ao público do museu, que tipicamente não tem acesso aos bastidores da curadoria. “Os visitantes têm retornado a cada etapa, o que para nós é uma grande satisfação. Ao visitar cada ato e observar a inclusão das obras, fica muito evidente a ação dos curadores para a criação de significado”, revela Helouise. “Um acervo não se renova somente pela aquisição de novas obras, mas também pela possibilidade de rever artes há muito tempo consolidadas que podem responder questões contemporâneas, pela maneira que você as aborda e as relaciona com as demais”, finaliza.
O Ato 3 da exposição Lugar-Comum estará aberto para visitação no Museu de Arte Contemporânea (MAC) da USP (Avenida Pedro Álvares Cabral, 1301 – Ibirapuera) a partir do dia 20 de agosto de 2022, de terça a domingo, das 10 às 21 horas, e ficará em cartaz até 20 de agosto de 2023. Entrada gratuita. É obrigatória a apresentação do comprovante de vacinação e o uso de máscara. Mais informações estão disponíveis no site do MAC.
