Espetáculo “Roda Morta” ganha nova temporada no Teatro da USP

Cia. Teatro do Perverto reestreia nesta quinta, com farsa e hiperteatralidade para refletir sobre ditadura e o presente

 24/01/2019 - Publicado há 5 anos     Atualizado: 28/01/2019 as 10:30
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A linguagem hiperteatral está presenta na encenação, figurino e cenário – Foto: Vitor Barão / Divulgação / Tusp

Roda Morta, música de Sérgio Sampaio, dá título ao terceiro espetáculo da Cia. Teatro do Perverto, e traz em sua letra muito do clima psicótico retratado na encenação. Com reestreia nesta quinta, 24 de janeiro, no Teatro da USP (Tusp), espaço que também está diretamente ligado à trama – foi campo da batalha da Maria Antonia na época da ditadura militar –, a peça traz um tom de farsa e a hiperteatralidade para refletir sobre os anos de chumbo. Segundo o diretor Clayton Mariano, fundador do Tablado de Arruar, a linguagem farsesca diz muito sobre o período político atual. “A farsa é um gênero que muitas vezes é considerado menor e acaba sendo desprezado, mas é muito potente enquanto reflexão crítica”, afirma, acrescentando que deu intencionalmente um peso maior à farsa, exagerando nos recursos como artificialidade e excesso de teatralidade, mas de forma contemporânea.

No texto de João Mostazo, um grupo de guerrilheiros sequestra um médico que auxiliava os torturadores nos porões da ditadura e está em coma numa clínica para pacientes de Alzheimer. O texto não é linear, mas fragmentado. Como conta o diretor, o título original em espanhol era Rompecabezas, como se fosse um quebra-cabeça em que faltam peças. “Há uma história de pano de fundo, em que o público entende mas, ao mesmo tempo, se confunde”, afirma o diretor. “É uma espécie de fantasmagoria dos anos de chumbo, da ditadura, dos movimentos de luta armada. Mas não é um retrato da época, é um olhar de hoje para como teria sido essa época.”

O cenário traz algo entre o futurista e um açougue ou um hospício -Foto: Karina Lumina / Divulgação / Tusp

A Cia. Teatro do Perverto foi formada em 2014 a partir do encontro de alunos do curso de Artes Cênicas da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, e seus integrantes não viveram a ditadura. “É um grupo de jovens que não viveu nem a sombra dessa ditadura, por isso há um olhar fantasioso”, explica Mariano. O espetáculo ainda se baseia na ideia do livro O que resta da ditadura, resultado de uma série de seminários, em que uma das principais teses defendida por teóricos é que “a ditadura ainda nos resta e está presente, só não está a ditadura oficialmente”, como informa o diretor. Segundo ele, esse período volta como traumas para os nossos dias de formas diversas e, de certa forma, a peça traz esse jogo.

A trilha sonora é original e foi composta pelo músico chileno Gabriel Edé, com referências aos sons da década de 1970, com rock e MPB, passando pelo jazz, e exerce uma função importante ao dar o clima de psicopatia. O figurino foi criado por Lídia Ganhito e Maria Rosalem, em parceria com o diretor, que assina ainda a iluminação, e também é “exagerado e over”, em suas palavras, trazendo perucas, casacos de pele, botas e bigodes falsos. E o cenário de Fernando Passetti traz algo entre o futurista e um açougue ou um hospício. No mesmo clima de farsa, traz também sangue falso e armas saídas de impressoras 3D. “É um espaço ambíguo, que tem a ver tanto com a carnificina da ditadura (lembrando o açougue) quanto com a estrutura psicótica da peça (o hospício)”, explica.

Para o diretor, a peça vai na contramão da tendência atual de interpretação, com tom documental, dramaturgia do real e performativa. “A peça é hiper-representada, hiperteatral, propositalmente para criar esse clima de pesadelo. Um pesadelo que nunca acabou.”

Roda Morta estreia nesta quinta, dia 24 de janeiro, em curtíssima temporada até o dia 3 de fevereiro, com apresentações de quinta a sábado, às 21 horas, e domingos, às 20 horas, na Sala Multiuso do Tusp (rua Maria Antonia, 294, Vila Buarque, tel. 3123-5222). Os ingressos custam R$ 30,00, com meia-entrada. Capacidade: 72 lugares. Mais informações no site


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