Pesquisa investiga diferenças regionais para aprimorar reconstrução facial forense

Grupo de pesquisa da Faculdade de Odontologia da USP comparou amostras de diferentes regiões a fim de verificar especificidades para a reconstrução facial forense dessas populações

 31/10/2022 - Publicado há 1 ano
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Grupo de pesquisa do Laboratório de Antropologia e Odontologia Forense da Faculdade de Odontologia da USP, que tem como coordenador o professor Rodolfo Francisco Haltenhoff Melani, realiza trabalhos envolvendo a reconstrução facial forense – Foto: Cecília Bastos/USP Imagens

 

A reconstrução facial forense é um método utilizado para realizar a identificação humana em situações adversas, como a comparação do rosto antes e depois da morte. A técnica consiste na estimação da face de um indivíduo, através de características odontológicas replicadas manualmente com material de modelagem ou de forma digital por meio de softwares, para que ele possa ser reconhecido. “Em ambas as técnicas utilizamos medidas de espessuras de tecido mole, obtidas em pontos específicos da face, para dar o contorno do rosto, além de referências preestabelecidas de outros atributos faciais, como os olhos, nariz, boca e orelhas”, explica Deisy Satie Moritsugui, mestre em Odontologia Forense e Saúde Coletiva pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Odontológicas da FO.

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As distintas características ambientais das regiões brasileiras junto às diferentes formações genéticas da população podem influenciar as características físicas de cada indivíduo. Fatores como clima regional e hereditariedade podem acarretar formações fenotípicas específicas, como na estrutura do rosto. Para verificar possíveis diferenças de espessura do tecido mole facial (músculos, pele, vasos sanguíneos e quaisquer outras estruturas que cobrem o crânio) entre as populações do Centro-Oeste e Sudeste, um estudo da Faculdade de Odontologia (FO) da USP analisou amostras dessas duas regiões brasileiras. O artigo, publicado na revista científica Plos One, concluiu que – neste caso – não há a necessidade da aplicação de medidas distintas para a população das regiões analisadas, pois não foram encontradas diferenças expressivas.

O objetivo do estudo foi avaliar as possíveis diferenças de espessuras de tecido mole da face nas regiões Centro-Oeste e Sudeste, para verificar a necessidade do uso de medidas específicas para cada região. “Comparamos as espessuras de tecido mole da face de amostras obtidas nas duas regiões e verificamos muitas semelhanças entre elas”, conta Deisy. A espessura é um indicador importante para auxiliar na reconstrução manual da face, mostrando a quantidade de tecido mole presente em pontos específicos. Essas medidas, além de referências preestabelecidas de outras estruturas faciais, são responsáveis por dar o contorno do rosto na reconstrução.

Exame antropológico forense

Deisy Satie Moritsugui – Foto: Cecília Bastos/USP Imagens

As medidas de espessura de tecido mole da face utilizadas são selecionadas a partir de uma tabela de valores médios. A escolha da tabela a ser utilizada na reconstrução da face se dá a partir da realização de um exame antropológico, que investiga as características relacionadas ao biotipo craniofacial, estimativa de idade e determinação do sexo biológico do rosto analisado. “Para as regiões Centro-Oeste e Sudeste, pode ser empregado o uso de uma tabela única, visto que a comparação revelou grande compatibilidade entre as medidas”, explica Deisy.

Além da comparação entre as duas regiões, as faixas etárias (18 a 30 anos, 31 a 40 anos e acima de 41 anos) e o sexo biológico (masculino e feminino) também foram analisados. A pesquisa encontrou uma tendência de maiores espessuras de tecido mole em amostras de pessoas do sexo masculino, além de uma maior estabilidade com o passar dos anos. No sexo feminino, observou-se uma diminuição gradual das medidas com o avanço da idade.

As amostras foram obtidas em bancos de dados de dois institutos de radiologia da região Centro-Oeste. Os exames analisados foram realizados pelos participantes inicialmente para finalidades clínicas diversas; sendo assim, foram anonimizados a fim de preservar a confidencialidade das informações.

Reprodução de um crânio através de softwares – Foto: Cecília Bastos/USP Imagens

 

A metodologia utilizada na pesquisa consistiu em um protocolo de mensuração dos tecidos moles da face em pontos craniométricos por meio de tomografias computadorizadas de feixe cônico. O estudo demonstrou que o protocolo utilizado é uma ferramenta de alta reprodutibilidade e que auxilia na padronização das mensurações das espessuras de tecido mole da face.

O trabalho foi realizado pelo grupo de pesquisa do Laboratório de Antropologia e Odontologia Forense da FO, que tem como coordenador o professor Rodolfo Francisco Haltenhoff Melani, doutor em Odontologia Legal e Deontologia pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Mais informações: e-mail dsmoritsugui@usp.br, com Deisy Satie Moritsugui

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