“Série Energia”: Perdas de energia na distribuição e transmissão são grande desafio

Segundo a Aneel, em 2020 as perdas chegaram a 14,8% do total distribuído. Prejuízo que deságua no bolso do consumidor

 08/12/2023 - Publicado há 5 meses
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O furto de energia, o popular “gato”, é um dos principais responsáveis pelo volume de perda na distribuição no Brasil – Foto: Flickr
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A análise das perdas na distribuição e transmissão de energia elétrica é crucial para o setor energético, especialmente em um país de grande extensão territorial como o Brasil. Essas perdas, que ocorrem principalmente durante a transmissão de eletricidade por longas distâncias e na sua distribuição aos consumidores finais, representam um desafio constante. Elas podem ser divididas em duas categorias: perdas técnicas e não técnicas.

As perdas técnicas estão ligadas aos aspectos físicos da transmissão de energia, como a resistência dos cabos, que resulta na dissipação de energia em forma de calor. As perdas não técnicas, por outro lado, incluem fatores como furtos de energia e ineficiências administrativas. No Brasil, as perdas totais na distribuição foram de aproximadamente 14,8% do mercado consumidor em 2020, segundo um relatório da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). A média mundial de perdas na distribuição de energia elétrica gira em torno de 8% a 15%.

As perdas na distribuição de energia são um custo para as empresas de distribuição. Estes custos, em última instância, são repassados aos consumidores por meio das tarifas de energia elétrica. Embora o cálculo exato do impacto dessas perdas na conta de luz de cada consumidor possa variar dependendo de uma série de fatores, como a eficiência operacional da distribuidora, a regulação tarifária e o mix de fontes de geração de energia, é possível fazer uma estimativa.

Por exemplo, se considerarmos que as perdas representam um custo adicional para as distribuidoras, e esse custo é distribuído igualmente entre os consumidores, pode-se estimar que um porcentual das tarifas de energia é destinado a cobrir essas perdas. Se as perdas representam 14,8% do total de energia distribuída, uma parcela equivalente da tarifa de energia (embora provavelmente um pouco menor, considerando que nem todas as perdas são repassadas diretamente ao consumidor) pode ser atribuída ao custo dessas perdas.

Há uma predominância de fontes hidrelétricas no Brasil. Apesar de serem renováveis e terem baixa emissão de gases do efeito estufa durante a operação, as hidrelétricas geralmente não estão próximas a grandes centros de consumo, como cidades e parques industriais. O que pode aumentar as perdas técnicas. 

Para avaliar se as perdas estão em um patamar aceitável, apesar de estar na média mundial, é importante compará-las com países de características territoriais semelhantes ao Brasil, como a Rússia e o Canadá. A perda aceitável varia de acordo com a região e a infraestrutura, mas o objetivo é sempre minimizá-la. As perdas não técnicas, em particular, estão mais ligadas a questões sociais e econômicas. 

Para reduzir essas perdas, algumas medidas podem ser tomadas. A modernização da infraestrutura com investimento em tecnologias de transmissão mais eficientes, como cabos de alta tensão e sistemas que diminuem a resistência elétrica, é crucial. O uso de smart grids, redes inteligentes que permitem um melhor monitoramento e gerenciamento da distribuição de energia, também é uma estratégia importante.

Combater o furto de energia com medidas mais rigorosas e tecnologias de detecção e prevenção é essencial. Além disso, educar e conscientizar a população sobre os custos e impactos das perdas de energia, promovendo um uso responsável, é fundamental.

Investir em energias renováveis que permitam a geração de energia mais próxima aos centros de consumo pode reduzir a necessidade de longas linhas de transmissão e, consequentemente, as perdas técnicas. Isso é evidente na micro e minigeração distribuída.

É importante enfatizar que a redução das perdas de energia não só melhora a eficiência do sistema energético, mas também contribui para a sustentabilidade ambiental. Isso diminui a necessidade de geração adicional de energia, muitas vezes de fontes não renováveis. A regulação por incentivos da Aneel visa a limitar o repasse das perdas não técnicas aos consumidores, incentivando as concessionárias a serem mais eficientes. A redução dessas perdas traz múltiplos benefícios, melhorando a eficiência energética, contribuindo para a sustentabilidade ambiental e promovendo a justiça social.

A Série Energia tem apresentação do professor Fernando de Lima Caneppele (FZEA), que produziu este episódio com Murilo Miceno Frigo, discente de doutorado e professor do Instituto Federal do Mato Grosso do Sul (IFMS). A coprodução é de Ferraz Junior e edição da Rádio USP Ribeirão. Você pode sintonizar a Rádio USP Ribeirão Preto em FM 107,9, pela internet em www.jornal.usp.br ou pelo aplicativo no celular para Android e iOS.


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