Lançado no final de 2023, o Latin America Energy Outlook oferece uma visão abrangente do perfil energético da América Latina e do Caribe, destacando sua capacidade única de liderar a transição global para energias limpas devido à sua diversidade de recursos. Apesar da matriz energética regional ser descrita como relativamente verde, com uma forte dependência de fontes renováveis, especialmente hidroeletricidade, uma análise crítica revela que os combustíveis fósseis ainda representam uma parcela significativa do mix energético. Isso não apenas sinaliza a necessidade de uma transição mais acelerada para fontes renováveis, mas também levanta questões sobre a suficiência e ambição das políticas de redução de emissões atuais, sugerindo a existência de lacunas que podem atrasar a transição energética desejada.
Além disso, o relatório identifica o equilíbrio entre crescimento econômico e sustentabilidade ambiental como um desafio crucial, dada a responsabilidade significativa da região pelas emissões globais de carbono. No entanto, essa visão pode subestimar os desafios socioeconômicos e ambientais inerentes à implementação de energias renováveis. Questões críticas incluem os impactos da exploração de minerais essenciais para tecnologias de energia limpa sobre os ecossistemas e comunidades locais, sugerindo uma necessidade de abordagens mais sustentáveis e éticas.
A transição energética é também apresentada como uma oportunidade para a criação de empregos e redução das desigualdades sociais. Contudo, é essencial discutir criticamente se os benefícios desta transição serão equitativamente compartilhados, evitando assim a exacerbação das desigualdades existentes. A inclusão social deve ser uma prioridade, garantindo que todos os segmentos da sociedade se beneficiem do desenvolvimento de energias limpas e isso deve receber uma atenção especial nos países latino-americanos uma vez que esses ainda não alcançaram um nível de desenvolvimento comparado aos países do Norte global.
Quanto aos investimentos necessários para energias limpas, é crucial questionar a viabilidade e suficiência dos fundos propostos. Desafios associados ao fortalecimento das redes de transmissão e distribuição demandam uma análise detalhada dos obstáculos técnicos, financeiros e regulatórios, os quais podem comprometer a integração eficaz de fontes de energia renováveis.
Por fim, a cooperação regional, embora destacada como estratégica para aumentar a segurança energética e promover o uso de energias renováveis, enfrenta barreiras significativas. Obstáculos políticos, econômicos e culturais podem limitar a eficácia dessa cooperação, sugerindo a necessidade de uma diplomacia energética mais robusta que possa superar esses desafios.
A Série Energia tem apresentação do professor Fernando de Lima Caneppele (FZEA), que produziu este episódio com Murilo Miceno Frigo, discente de doutorado e professor do Instituto Federal do Mato Grosso do Sul (IFMS). A coprodução é de Ferraz Junior e edição da Rádio USP Ribeirão. Você pode sintonizar a Rádio USP Ribeirão Preto em FM 107,9, pela internet em www.jornal.usp.br ou pelo aplicativo no celular para Android e iOS.
