Todos os anos, no final do mês de abril, de 22 a 29, em várias partes do mundo, profissionais e especialistas da área da saúde se unem na Semana Mundial das Imunodeficiências, também conhecidas como Erros Inatos da Imunidade, grupo de doenças que afetam o funcionamento do sistema imunológico. Atualmente, estão descritas 485 doenças relacionadas às imunodeficiências, algumas mais raras, outras mais comuns.
Segundo o professor Pérsio Roxo Júnior, chefe da Divisão de Imunologia e Alergia Pediátrica do Hospital das Clínica da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, a ideia da semana é difundir a existência das imunodeficiências e conscientizar as pessoas sobre os principais sintomas, tanto na criança como no adulto, e a necessidade de buscar tratamento com um especialista.
Imunodeficiências
A médica Renata Gomes de Oliveira, residente da Divisão de Imunologia e Alergia Pediátrica do HC-FMRP explica que o sistema imunológico é o responsável por defender o organismo de agressores, sejam eles vírus, bactérias ou fungos. “É como se fosse um grande exército cheio de soldados prontos a nos defender, mas quando nós temos um erro inato da imunidade, alguma parte desse exército não desempenha a sua função de forma correta. Aí nós temos as doenças, as imunodeficiências primárias, doenças com que o paciente já nasce e que trazem um problema na linha de defesa do organismo. Existem doenças em que o paciente não consegue produzir anticorpos e outras em que os pacientes não conseguem colocar em ação a primeira linha de defesa, ou seja, os primeiros soldados não conseguem fazer essa linha de defesa”.
Para Renata, é importante que os pais fiquem atentos aos sintomas da imunodeficiência, ou seja, situações que podem sugerir problemas com o sistema imune. A médica cita, como exemplo, as infecções graves e de repetição, com necessidade de antibiótico e muitas vezes até com internação; alergias severas, como asma; diarreia crônica e persistente; doença de pele e reações vacinais exacerbadas, principalmente com a vacina da BCG, a primeira vacina da criança. “Esses são todos sintomas que devem acender o sinal de alerta nos pais”.
Além disso, diz Renata, a dificuldade de crescimento e febre recorrente, sem que a criança tenha outros sintomas, podem representar sinal de que o sistema imune não está funcionando de forma adequada. “Os pais devem ficar atentos também ao histórico familiar, se tem algum parente com diagnóstico de erro inato da imunidade”.
Sobre o tratamento para as imunodeficiências, a médica assistente da Divisão, Soraia Regina Abu Jamra, informa que são várias as modalidades. “A indicação de tratamento é direcionada para cada tipo de doença, pode ser a reposição de imunoglobulinas, anticorpos essenciais para a proteção do organismo, vacinas especiais para proteger contra infecções, uso de imunossupressores, antibióticos profiláticos e em alguns casos mais graves o transplante de medula óssea”.
Segundo o professor Pérsio, as mudanças radicais na morbimortalidade infantil sugerem que a prevenção das doenças e agravos não transmissíveis deva começar na infância, ou antes, mas evidências de estratégias eficazes de prevenção ainda são escassas ou desapontadoras. “Vários estudos epidemiológicos mostraram que as doenças alérgicas e imunodeficiências primárias predominam na faixa etária pediátrica. Assim, a prevenção primária destas condições continua um desafio para a medicina, sobretudo para a pediatria, portanto é mais do que bem-vinda a iniciativa de uma semana só para intensificar e disseminar essas discussões.”
Referência internacional
A Divisão de Imunologia e Alergia Pediátrica do HC-FMRP é referência no estudo, tratamento e formação de especialistas em imunodeficiências e acaba de receber a certificação de Centro de Excelência Internacional pela Organização Mundial de Alergia (World Allergy Organization).
O chefe da Divisão de Imunologia e Alergia do HC-FMRP, professor Pérsio Roxo Junior, comemora a indicação. “Com isso, passamos a fazer parte de um seleto grupo de 82 instituições em todo o mundo, o que facilita principalmente o avanço na educação, no desenvolvimento científico e clínico multidisciplinar, além da intensificação e aceleração da inovação na área de imunologia e alergia”.
A Divisão foi criada em 2008 e tem atividades na graduação, residência médica, pós-graduação, pesquisa, assistência e inserção internacional. Na graduação, os alunos dos 4º e 6º anos do curso de Medicina frequentam o Ambulatório de Imunologia Pediátrica do HCRP como parte de sua grade curricular, no qual recebem treinamento no atendimento de crianças e adolescentes com as mais variadas doenças alérgicas. Os alunos ainda podem participar de projetos de pesquisas. Também são oferecidas vagas para a residência na área, além de oportunidade para mestrado, doutorado e doutorado direto.
O professor Pérsio informa que a Divisão desenvolve projetos de pesquisa inseridos nas linhas dos erros inatos da imunidade e doenças alérgicas, com colaboração em vários projetos multicêntricos nacionais e internacionais. No campo da assistência, apresenta várias atividades em enfermaria e em ambulatórios nos diferentes campos da Imunologia e Alergia, bem como em áreas de interface com a especialidade, como Dermatologia, Autoimunidade/Reumatologia, Otorrinolaringologia, Genética, Moléstias Infecciosas e Pneumologia, com atendimentos focados no diagnóstico, tratamento e prevenção de doenças crônicas, que podem afetar o sistema imunológico.
Para saber mais, visite o site imunoped.fmrp.usp.br ou o Instagram @imunoalergo.usprp
