Você conhece o turismo tétrico? A curiosidade pelo macabro e a morte nas viagens

Além do que pode ser chamado de “mal assombrado”, lugares ligados à morte já fazem parte de roteiros turísticos ao redor do globo

 08/09/2023 - Publicado há 8 meses     Atualizado: 11/09/2023 as 13:39
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No cenário internacional, tornou-se frequente a visitação de túmulos, seja pelos personagens famosos que ali residem ou pelos adornos e significados que acompanham esses lugares   Fotomontagem: Jornal da USP – Fotos: Wirestock/Freepik

 

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O tétrico, o macabro ou a morte não são normalmente associados ao turismo. Mas a verdade é que esses temas e suas diversas manifestações culturais instigam a curiosidade humana. Na arte, temos diversos exemplos, desde as obras de Shakespeare até a literatura nacional, como em O Auto da Compadecida. No turismo, não poderia ser diferente, todos os anos pessoas viajam procurando se aproximar de lugares que, à primeira vista, deveriam afastá-las.

No cenário internacional, tornou-se frequente a visitação de túmulos, seja pelos personagens famosos que ali residem ou pelos adornos e significados que acompanham esses lugares. Destaca-se também o interesse pelo entendimento da morte pelas diversas culturas ao redor do mundo, como ela é interpretada por diferentes correntes religiosas e como atos contra a humanidade trazem uma compreensão diferenciada da morte. Todos esses elementos compõem o universo do turismo tétrico.

Além de pontos específicos, ditos “mal assombrados” e lendas, que tornam castelos ou casarões antigos pontos turísticos, certos lugares já se instituíram no roteiro turístico de certos países, como o cemitério da Recoleta, na Argentina, que atrai milhares de turistas anualmente para conhecer a história do país através dos seus mortos. Ou mesmo o Campo de Concentração de Auschwitz, na Polônia, e o Parque Memorial da Paz de Hiroshima, no Japão, exemplos que trazem reflexão sobre a natureza humana e o que nos leva a destruir-nos de formas tão violentas. 

Cemitério da Recoleta – Foto: Gabriella Julie/Flickr/CC BY-NC-SA 2.0

 

São Paulo e o macabro

No Brasil, o turismo cemiterial tem poucos representantes devido à falta de segurança e infraestrutura em muitos cemitérios. Entretanto, a cidade de São Paulo se destaca como a capital desse tipo de turismo no País, com o Cemitério da Consolação como seu principal atrativo. O conjunto de obras presentes no cemitério o transformou em objeto de estudo para arquitetos, cenógrafos e artistas plásticos, além de proporcionar entretenimento aos visitantes. 

Outro destaque na cidade é o Museu do Crime, localizado no bairro do Butantã, que possui seções dedicadas a crimes específicos, como o Crime da Mala, ocorrido em 1928, no qual o criminoso esquartejou a vítima e a despachou em uma mala pelo porto de Santos, além de uma seção dedicada ao incêndio no Edifício Joelma, em 1974, onde 187 pessoas perderam a vida.

Museu do Crime – Foto: governo do Estado de São Paulo/Flickr/CC BY 2.0

 

Ainda em São Paulo existe o Mausoléu do Parque da Independência, construído em 1952 junto ao Museu do Ipiranga, que abriga uma cripta com os túmulos do Imperador Dom Pedro I e das Imperatrizes D. Leopoldina e D. Amélia. Há também o “Mausoléu aos Heróis de 1932”, conhecido como Obelisco do Ibirapuera, e que é, na verdade, um monumento funerário a todos os ex-combatentes da Revolução de 1932.

Locais de crimes terríveis também fazem parte do roteiro tétrico pela cidade, como o Castelinho da Rua Apa, em que ocorreram mortes inexplicáveis, e a casa de Sebastiana de Mello Freire, conhecida por dona Yayá, no bairro do Bixiga, que hoje abriga a sede do Centro de Preservação Cultural da Universidade de São Paulo.

O medo da morte tem como principal contraponto o bom humor e atividades lúdicas que envolvem a morte tendem a ser menos traumáticas para o visitante. Isso explica o fenômeno de venda da Hora do Horror, do parque Hopi-Hari, que alcança visitação expressiva todo ano, a partir de agosto. Artes, arquitetura, história, política e cultura popular, o turismo tétrico é amplo e diverso. A curiosidade humana sempre instigando-nos a nos aproximar do desconhecido.

*Estagiária sob supervisão de Paulo Capuzzo


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