Turismo toma fôlego e atinge patamares próximos aos níveis pré-pandêmicos

Brasil registrou em maio o maior número de turistas, quebrando a série histórica de arrecadação com o setor neste mês; turismo segue crescendo mundialmente e projeção revela que pode chegar ao patamar de 2019

 14/07/2023 - Publicado há 10 meses     Atualizado: 28/07/2023 as 12:40
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Setor do turismo apresenta uma significativa melhora, atingindo índices similares ao contexto pré-pandêmico – Foto: Freepik

 

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Um dos setores da economia mundial mais atingidos por conta da pandemia de covid-19, o turismo vem apresentando uma boa recuperação. Segundo dados da Organização Mundial do Turismo (OMT), nos primeiros três meses de 2023 atingiu 80% dos níveis pré-pandêmicos. Foram cerca de 235 milhões de turistas, mais que o dobro do mesmo período de 2022. 

Mesmo com esse fôlego, o turismo ainda não atingiu os níveis de 2019, e pode demorar a atingir por conta da inflação e preço dos combustíveis, alerta a OMT. Também essa tendência de aumento dos preços faz com que os destinos sejam cada vez mais próximos dos países de origem dos turistas. A única região do mundo que apresentou crescimento no turismo foi o Oriente Médio, com um aumento de 15%, ultrapassando os níveis de 2019. Outro ponto destacado é o conflito internacional em curso, a invasão da Ucrânia pela Rússia desde o início do ano passado. 

Pensando nesse cenário e na importância do turismo mundial e nacionalmente, o episódio de estreia do boletim A Ciência do Turismo busca aprofundar o conceito de turismo, explicando a multiplicidade de áreas beneficiadas por ele. Alexandre Panosso Netto, professor e coordenador do Programa de Pós-Graduação em Turismo da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP,  discute o nascimento do turismo e o seu funcionamento.

O que é turismo?

O turismo é visto como mercado, setor, fenômeno ou área de estudos e engloba as atividades relacionadas às viagens, sejam elas motivadas por lazer, negócios, trabalho, eventos, tratamentos de saúde, entre outros motivos. 

Alexandre Panosso Netto – Foto: Lattes

Já o setor comercial de turismo, fonte importante de renda de muitos países, envolve a oferta e a demanda de serviços turísticos, como transporte, hospedagem, alimentação, entretenimento e atrações culturais. Dados da OMT mostram que o gasto dos turistas nos locais de visita também apresentou números animadores neste início de ano. 

A Europa atingiu US$ 550 bilhões de receitas por conta do turismo, representando 87% da receita pré-pandemia, seguida pela África, com 75% e pelo Oriente Médio, com 70%. As Américas vêm em quarto lugar, antes apenas da Ásia e da Oceania. No Brasil, de acordo com o Ministério do Turismo, no acumulado dos cinco primeiros meses foram R$ 13 bilhões, volume 35,9% maior que o registrado no mesmo período de 2022. 

Essas diferenças são explicadas pelas características de cada destino, mas alguns aspectos são comuns a todos. Como explica Panosso, o turismo é uma atividade sazonal, com períodos de alta e baixa temporada. Em muitos destinos, a alta temporada ocorre durante os meses de verão ou em datas festivas, quando há maior demanda por viagens, além do mercado turístico ser altamente dependente de outros setores.

Essa forma de mercado, na qual temos produtores de bens e serviços turísticos de um lado, consumidores do outro e intermediários, como os agentes de viagens, originou-se um pouco antes da metade do século 19, quando as ferrovias foram inventadas. Com o surgimento do transporte aéreo e do automóvel, no século 20, o turismo se tornou um grande negócio global e hoje é um dos setores mais competitivos.

Cenário nacional

O Brasil recebeu, nos cinco primeiros meses de 2023, 2,97 milhões de turistas, um crescimento de 108% em relação ao ano passado. Destes, 1,24 milhão são de argentinos, seguidos pelos americanos (271,1 mil) e paraguaios (215,5 mil). Dentre os destinos, destacam-se o Sudeste e o Sul.  

Avião pousando no aeroporto Internacional de Guarulhos – Foto: Paulo Pinto/Fotos Públicas

 

Mesmo assim, o setor de turismo nacional ainda é subaproveitado. “Recebemos, em nosso melhor ano, por volta de 6,5 milhões de turistas internacionais. É pouco se comparado a outros países da América Latina, tais como México, Costa Rica e Argentina”, diz o professor. 

O maior fluxo turístico é o doméstico, de brasileiros que viajam no País. Por volta de 2013 e 2014, foram mais de 100 milhões de viagens de avião internamente. O número de viagens de carros particulares e de ônibus é estimado em pelo menos o dobro disso.

O turismo envolve geração de empregos, encontros culturais, processos socializantes, valorização do meio ambiente e distribuição de riquezas. Porém, essa prática também pode trazer implicações negativas, tais como problemas ambientais, poluição, degradação de ecossistemas frágeis e consumo excessivo de recursos naturais, ou, ainda, a descaracterização cultural de certos destinos provocada pelo elevado número de visitantes que recebe.

“Para que o setor se desenvolva bem é necessário muita tecnologia, programas e projetos públicos e privados, infraestrutura, estabilidade política, econômica, social, sanitária e ambiental, além, é claro, de muita pesquisa científica”, diz o professor. 

Nos próximos episódios do boletim A Ciência do Turismo, alunos do Programa de Pós-Graduação em Turismo da EACH-USP irão falar sobre sobre pesquisa científica e os novos temas do turismo.

Julia Estanislau *estagiária sob supervisão de Cinderela Caldeira


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