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Nos últimos anos, o Tik Tok surgiu como uma rede social predominante no cotidiano de um público que varia de crianças a idosos. Por meio de hits da indústria musical e danças contagiantes, o aplicativo promove entretenimento aos seus usuários. Contudo, diante do sucesso da rede, trabalhadores decidiram produzir conteúdo para divulgar seus negócios e produtos. A informalidade derivada do modelo de trabalho sinaliza um mercado profissional cada vez mais precarizado.

Pontos atrativos para o trabalhador

Em comparação com as profissões tradicionais, a plataforma TikTok atrai o trabalhador através da ideia de empreendedorismo. A professora e socióloga do trabalho Paula Marcelino, do Departamento de Sociologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, justifica esse paralelo: “Os trabalhos tradicionais no Brasil são incapazes de absorver e explorar todas as potencialidades que um trabalhador tem”. As capacidades de expressão criativa, facilidade de comunicação e observação do mercado consumidor podem deixar de ser aplicadas no emprego-padrão.

O ambiente profissional é outra preocupação do trabalhador quando consideradas as opções de trabalho. “O assédio, o autoritarismo e o despotismo dos locais de trabalho afastam as pessoas”, comenta Paula. Além da possibilidade de expor as competências, o trabalho no aplicativo garante a inexistência de uma relação entre chefia e subordinado, o que implica a sensação de autonomia.

Ideia ilusória

A socióloga alerta que a ideologia do empreendedorismo é enganosa, mesmo com todas as suas vantagens aparentes. O emprego tradicional, por vezes marcado pela carga horária definida, exploração do trabalhador e desgaste emocional, pode levar a uma quebra de sentido na realização do trabalho. Em busca de soluções diferentes, Paula aponta que o trabalhador pode comprometer seu futuro: “É uma ilusão de que ele pode ser um empreendedor de sucesso, inclusive na plataforma do Tik Tok”.

Aliás, a gama de possibilidades de profissionalização dentro da plataforma é limitada, segundo a professora. “A maioria das funções pode ter uma referência no Tik Tok, mas elas não podem ser exercidas nele”, explica. A inspiração e divulgação ocorrem no TikTok, mas as demais atividades de produção são efetuadas fora da rede. Assim, há uma falsa percepção de um trabalho diretamente aplicado na rede, quando apenas uma parcela é, de fato.

Quando publicado, o vídeo depende do favorecimento dos algoritmos de entrega do conteúdo aos usuários. O controle de conteúdo, inclusive no que se refere às estratégias de denúncia e verificação de violação de direitos, pode frear o alcance dos trabalhadores e reduzir o sucesso com a produção de mídias. “O Tik Tok é uma rede que, assim como as outras redes, tem um problema de natureza ética, moral e que precisa ser muito debatido socialmente”, manifesta Paula.  E, mesmo com algoritmos favoráveis, o TikTok apresenta uma perspectiva limitada de sucesso profissional.

Mercado de trabalho brasileiro

O mercado de trabalho brasileiro “interfere fortemente na forma como as pessoas utilizam o TikTok”, alega. A professora cita a legislação da reforma trabalhista de 2017 como um ponto de desequilíbrio nas relações de trabalho, quando a flexibilização do trabalho tornou-se consequência da justificativa da geração de emprego, por parte do governo federal.

O histórico de insegurança e informalidade na carteira de trabalho acarreta a necessidade de “viração”, a ação de várias formas de obtenção de recursos para cobrir as necessidades de sobrevivência. O conceito surge para entender a forma alternativa de como os trabalhadores lidam com a sua atividade remunerada.