Selic: o menor patamar desde 2022 e as implicações para o mercado financeiro

Segundo Paulo Feldmann, a queda dos juros deveria continuar no País, porque ainda estão muito altos e são os mais altos do mundo

 26/03/2024 - Publicado há 1 mês
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As taxas de juros dos empréstimos deveriam cair quando a Selic sofre queda, mas não é o que acontece – Foto: Marcos Santos/USP Imagens
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A taxa Selic sofreu sua sexta redução após agosto do ano passado e chega ao seu menor patamar desde fevereiro de 2022. Hoje está em 10,75% ao ano, após decisão do Banco Central em conjunto com outras entidades. A Selic, taxa básica de juros do País, regula todos os outros índices do mercado financeiro, como os de empréstimos e aplicações. Mantendo a taxa em alta é possível reduzir a inflação, o que é muito importante para a população, apesar de muitos não estarem atentos aos seus números. “Para muitas pessoas, o que interessa são, principalmente, os empréstimos que muitas precisam tomar, por não terem recursos ou porque preferem se endividar para fazer seus consumos ou porque aplicam seus recursos. Então, a preocupação é com as taxas de suas aplicações”, explica Paulo Feldmann, professor de Economia da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária (FEA) da USP. 

As taxas de juros dos empréstimos deveriam cair quando a Selic sofre queda, mas não é isso o que acontece no Brasil, destaca o economista. “O que acaba acontecendo é que, com a queda da Selic, caem as taxas das aplicações. Muita gente aplica em renda fixa, em títulos do Tesouro. Estes sim, têm sua taxa reduzida em função da Selic, e isso repercute nas pessoas que costumam investir nessas aplicações, mas infelizmente nos empréstimos a redução é quase zero. Os bancos trabalham de uma forma como se fosse um cartel, que combinam entre si as taxas e não as reduzem. Infelizmente, o Banco Central não tem sido atuante e rigoroso com os bancos para exigir que as taxas dos empréstimos também se reduzam.”

Paulo Feldmann – Foto: FEA-USP

Estímulo à economia

“A queda na taxa de juros estimula a economia do País, pois, quando as taxas estão altas, muitos empresários preferem aplicar em títulos, aplicar em renda fixa, porque, com isso, vão remunerar melhor o seu capital, que poderia ter sido usado nas suas empresas, contratando novos funcionários, comprando máquinas, investindo em instalações, mas não, os empresários não fazem isso, porque ganham mais aplicando em renda fixa ou títulos.”

Com a queda recente da Selic, houve uma redução no desemprego, um aumento no emprego e na população empregada com o crescimento da renda, o que foi benéfico para a economia. O economista destaca que a queda dos juros deveria continuar no País, porque ainda estão muito altos e são os mais altos do mundo.

Não podemos esquecer que há uma diferença entre a taxa de juros e a inflação, que no Brasil é muito grande. Nossa inflação está em torno de 5% ao ano e a taxa de juros está em torno de 10%. Essa desigualdade é chamada de taxa real e mostra a diferença entre os juros e a inflação, o que permite muito mais redução na Selic.

O comércio exterior também é impactado pela alta da Selic, principalmente pelos investidores estrangeiros que realizam aplicações em dólares no País, o que é um lado positivo. “Nossas taxas são muito altas, essa entrada de dólares fortalece a nossa moeda real. Quando a nossa moeda fica forte, fica mais fácil para nós importarmos produtos lá de fora, no entanto, fica mais difícil a exportação. Eu estou simplificando muito o raciocínio e a análise porque tem outras variáveis que têm que ser levadas em conta.”


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