Questão ambiental ameaça posição do Brasil no mercado internacional

Resposta brasileira com possíveis retaliações econômicas ou mudanças no monitoramento ambiental não melhorará a situação, diz Pedro Luiz Côrtes

 25/09/2020 - Publicado há 4 anos
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Além do discurso de Bolsonaro na Assembleia da Organização das Nações Unidas (ONU), outros integrantes do governo também deram declarações importantes a respeito da questão ambiental no País. O general Augusto Heleno, ministro chefe do Gabinete de Segurança Institucional, comentou sobre a possibilidade de o Brasil retaliar países que boicotem produtos brasileiros devido à situação ambiental, enquanto o vice-presidente, Hamilton Mourão, disse que as queimadas no Pantanal e na Amazônia estão sendo superdimensionadas e defendeu que o monitoramento do desmatamento amazônico seja feito por militares.

Em entrevista ao Jornal da USP no Ar, o professor Pedro Luiz Côrtes, da Escola de Comunicações e Artes (ECA) e do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP, comenta essas declarações. Ele conta que uma possível retaliação, como defendida por Heleno, seria proibir ou impor obstáculos à importação de países que sejam contrários à posição do Brasil em relação ao meio ambiente, mas que “a eficácia disso é zero”, já que isso pode trazer problemas com a Organização Mundial do Comércio (OMC) e outros fóruns. Portanto, “o poder de retaliação está, na verdade, com os compradores, já que temos grandes concorrentes para nossas commodities e não somos fornecedores exclusivos. Se deixarmos de vender produtos, nossos concorrentes vão nos agradecer muito e nós não teremos nenhum benefício”.

Além disso, essa retaliação não fará com que as outras nações deixem de se posicionar contra as políticas ambientais adotadas aqui, já que os dados do sistema de monitoramento atual estão amplamente disponíveis para o público. Mourão defende que haja a contratação de um novo serviço de satélites, o que, segundo Côrtes, seria “uma manobra importante de criar uma nova metodologia de análise, dificultando a comparação com dados de anos anteriores. Pode-se alegar que o novo satélite seja melhor, mas o próprio Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) já descartou a necessidade de sua implementação, e isso só mostra como o governo tem uma grande dificuldade de lidar com a verdade apresentada pelos dados que ele mesmo coleta”.

O professor ainda ressalta que os embargos a produtos brasileiros podem não vir diretamente de governos, mas sim de traders e consumidores internacionais que cessem as importações. Saiba mais sobre o tema ouvindo a entrevista na íntegra.


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