Próximo ano deve ser difícil para a economia brasileira, independentemente do presidente

Paulo Feldmann discute sobre o futuro econômico do Brasil após as eleições de domingo e faz distinções entre os dois candidatos que disputam a Presidência do País no segundo turno

 05/10/2022 - Publicado há 2 anos
Está prevista uma desorganização nas contas do governo federal e dos governos estaduais – Foto: Freepik
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O último domingo (2) foi marcado pelo resultado do primeiro turno das eleições no Brasil. A economia é um tópico de destaque nas discussões para o segundo turno, visto que o próximo presidente enfrentará diversos desafios a partir de 2023. Além disso, algumas medidas tomadas pelo atual líder do Executivo devem ecoar no próximo ano.

De acordo com o professor Paulo Feldmann, da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária (FEA) da USP e coordenador de projetos da Fundação Instituto de Administração (FIA), a aprovação da PEC (Proposta de Emenda à Constituição) “Kamikaze” pelo presidente Jair Bolsonaro influenciou na quantidade de votos recebida por ele. A proposta foi responsável por conter a inflação, o que beneficiou a população mais carente.

Para Feldmann, a medida criou uma sensação de bem-estar, sobretudo para as pessoas de baixa renda, porém, ela é artificial em razão de sua curta duração. O efeito foi positivo, mas as consequências preocupam. “O que as pessoas não souberam avaliar é que essas medidas decorrentes da PEC Kamikaze vão ter que ser pagas a partir do dia 1º de janeiro do ano que vem”, avalia o professor.

Paulo Feldmann – Foto: FEA-USP

O ICMS é importante para a vitalidade dos governos estaduais, mas a sua arrecadação caiu drasticamente em decorrência da PEC, que tinha como principal objetivo a eliminação do ICMS para reduzir o preço da gasolina e da energia elétrica. A partir de 2023, o governo federal terá que repassar valores significativos para os Estados em razão dessa medida; Feldmann indica que o valor que se calcula atualmente é próximo dos R$ 180 bilhões. 

Está prevista uma desorganização nas contas do governo federal e dos governos estaduais, o que deve comprometer a economia brasileira. O professor aponta: “O presidente Bolsonaro foi beneficiado por essa sensação de bem-estar, mas a conta chegará logo, então, claro que foi uma medida tipicamente eleitoreira”.

Diferenças entre os candidatos

Os dois candidatos, Lula e Bolsonaro, possuem diferenças importantes que podem ser notadas em suas ações como presidentes e nas pautas dos partidos aos quais eles pertencem. O professor comenta que um candidato representa a direita, com ideias neoliberais, relacionadas ao livre mercado e à participação mínima do Estado. Já o outro possui ideias à esquerda e defende um papel maior do Estado, com maior intervenção governamental. “Essas diferenças não ficaram muito claras agora, mas a partir do ano que vem, dependendo de quem ganhar a eleição, elas ficarão. Cada um tomará o seu rumo prioritário, mas a economia terá um ano extremamente difícil”, considera.

Feldmann sugere que Jair Bolsonaro deve seguir com suas propostas de privatização, em especial da Petrobras e do Banco do Brasil, enquanto Lula deve apostar no direcionamento da economia a partir de uma política industrial. No entanto, ele pondera que ações importantes que precisam ser feitas na economia brasileira, como uma reforma tributária, provavelmente não acontecerão com nenhum dos dois candidatos, visto que o Congresso eleito é extremamente conservador. O professor finaliza ao ressaltar que o poder do presidente da República é limitado e que, principalmente se Lula for eleito, sofrerá na articulação com o Congresso. 


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