Produção artificial de chuva não é estratégia para combater crise hídrica

De acordo com Augusto José Pereira, complexidade dos fenômenos meteorológicos e falta de equipamentos adequados dificultam a tentativa de induzir tempestades

 16/08/2021 - Publicado há 3 anos
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Ainda não existe conhecimento adequado para compreender a formação da chuva dentro de uma nuvem – Foto: Cecília Bastos/USP Imagens
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A preocupação com a possibilidade de escassez de água nos reservatórios, intensificada pela falta de chuvas, aumenta em algumas regiões brasileiras. Em São Paulo, por exemplo, o sistema Cantareira, que abastece mais de 7 milhões de pessoas por dia, entrou em estado de alerta e opera com menos de 40% de sua capacidade. Nesses momentos de seca, as inovações tecnológicas e outras alternativas são buscadas para evitar a falta d’água. Técnicas de chuva artificial aparecem como uma possibilidade para aumentar o nível de água nos reservatórios.

Existem diferentes métodos para a indução de chuva de modo artificial. Um deles é a dispersão de partículas de iodeto de prata ou cloreto de sódio dentro das nuvens, para aumentar o volume das gotas de chuva. No Brasil, uma técnica com gotículas de água potável também é utilizada com o mesmo intuito.

Entretanto, as chuvas artificiais são controversas e questionadas por especialistas. Segundo Augusto José Pereira, professor do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP, essas estratégias não são eficazes. “Só tem um ou outro caso, no Japão e em Israel, casos isolados, de produção de chuva artificial”, afirma. “O restante, inclusive no Brasil, nunca funcionou”, acrescenta.

De acordo com o professor, ainda não existe conhecimento adequado para compreender a formação da chuva dentro de uma nuvem e faltam equipamentos necessários para fazer o mapeamento atmosférico, como radares de fase. Dessa forma, ele diz que as chuvas artificiais são estratégias com alto custo e sem eficácia cientificamente comprovada.

Pereira ressalta a complexidade dos fenômenos meteorológicos, que envolvem processos em diferentes escalas, desde o nível molecular até o nível quilométrico de algumas nuvens. “Tudo tem sido utilizado para tentar explicar [a formação da chuva dentro da nuvem] e até hoje não há uma explicação satisfatória, porque o processo é muito complexo e muito rápido”, diz. Ele conta que, mesmo em tempestades com estruturas parecidas, a microfísica e o espectro de gotas são completamente diferentes. 

O professor avalia que, conforme o entendimento e monitoramento desses sistemas evoluir, será possível agir com precisão para induzir chuvas. Mas, com o conhecimento atual, isso não é possível e ainda é arriscado. “Se não for no momento certo, a gente pode matar a precipitação”, conclui.


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