Pesquisador alerta para o aumento da desigualdade no Brasil

Os índices, que vinham diminuindo desde 1995, voltaram a crescer a partir do primeiro trimestre de 2014

 20/07/2016 - Publicado há 8 anos
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Foto: Valdecir Galor/SMCS
Foto: Valdecir Galor/SMCS

Uma pesquisa realizada pelo professor Rodolfo Hoffmann, especialista em distribuição de renda do Departamento de Economia, Administração e Sociologia (LES) da Escola de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, aponta que o índice de Gini (usado como medidor da desigualdade em todo o mundo e titulado em homenagem a seu criador Corrado Gini) tem crescido durante os últimos anos no Brasil. O índice atribui um valor entre zero e um à desigualdade, sendo que quanto menor o número, maior a igualdade. No primeiro trimestre de 2016, o Brasil recebeu 0,550; no último trimestre de 2013, o valor mais baixo foi registrado: 0,526.

Em termos regionais, há uma grande disparidade entre as Unidades da Federação. Segundo dados da PNADC (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua) do IBGE para os primeiros meses de 2016, o Distrito Federal é o mais desigual, com índice de 0,600. Santa Catarina se opõe como o Estado mais igualitário, registrando 0,423. São Paulo se coloca discretamente acima do valor médio nacional, com 0,558.

A força de trabalho não reage de forma homogênea aos períodos de recessão. Hoffmann explica que a mão de obra menos qualificada é a primeira a sofrer com os cortes. Segundo ele, isso acontece “porque eles poderão ser mais facilmente substituídos quando a economia voltar a crescer”. Os mais especializados, por outro lado, são geralmente mantidos pelos empregadores. “Um empregado com experiência e conhecimentos específicos para o funcionamento da empresa tende a ser preservado, pois será difícil encontrar outro igualmente competente”.

20160718_01_info-desempregoHoffmann alerta, entretanto, que estes cálculos levam em consideração todos os membros da População Economicamente Ativa (PEA), ou seja, ocupados e desempregados. O rendimento destes últimos é considerado nulo, o que contribui para a dilatação da desigualdade teórica. “Quando a análise se restringe às pessoas ocupadas (excluindo os desempregados), o índice de Gini permanece estável”, destaca. A elevação do índice fica mais compreensível, portanto, quando se leva em consideração o recente aumento do desemprego, que atingiu 11,2% no trimestre móvel de fevereiro a abril. O professor afirma que, em última análise, o aumento do desemprego tem relação direta com o aumento das métricas de desigualdade.

O professor também ressalta como a diminuição ou o estanque da renda atingem de formas absolutamente diferentes os trabalhadores de classes sociais distintas. “O rico se diferencia do pobre mais pelo seu estoque de riqueza do que pelo nível de renda. Então o rico pode, tipicamente, usar seu capital de reserva para amortecer o impacto que a queda da renda causaria sobre seu padrão de consumo, uma possibilidade normalmente inexistente para o pobre.” Ele lembra ainda que mesmo em momentos de crise, alguma categorias são beneficiadas. “Um sapateiro disse que estava com mais serviço, talvez porque, com a crise, mais pessoas optassem por consertar o calçado usado antes de comprar um novo”, comenta.

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Ainda segundo dados nacionais da PNADC, as porcentagens de trabalhadores com rendimento menor ou igual a R$ 200, R$ 400 ou R$ 600 são, respectivamente, 14,7%, 19,7% e 24,3%. Os que recebem menos de um salário mínimo (R$880,00) são 39,3% da força de trabalho. Na outra extremidade, somente 20% têm rendimento superior a R$2.000,00 mensais e 5% recebem mais de R$5.000,00. Quanto à renda declarada, os 5% mais abastados ficam com 30,6% do total.

Hoffmann frisa, no entanto, que as informações sobre renda na PNADC são geralmente subdeclaradas, ou seja, por motivos diversos, as pessoas costumam mentir sobre sua receita. As estatísticas apontam que a defasagem média varia entre 30% e 40%. “Tendo em vista a subdeclaração dos rendimentos, é possível que o verdadeiro limite inferior dos 5% com maiores remunerações seja R$ 10.000”, declara o professor. “É interessante notar que pessoas com rendimento acima de R$ 10.000 geralmente se consideram da ‘classe média’. Estatisticamente, é muito estranha a ideia de uma ‘classe média’ que faz parte da vigésima parte mais rica da população”, conclui.


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