Durante o Fórum Econômico Mundial deste ano, realizado em Davos, Suíça, o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que “o pior inimigo do meio ambiente é a pobreza”, acrescentando que “as pessoas destroem o meio ambiente porque precisam comer”. A associação de que o combate à pobreza acarreta a destruição ambiental é errônea, na avaliação de Pedro Luiz Côrtes, professor da Escola de Comunicações e Artes (ECA) e do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP.
“Não há nenhum índice que atrele o desmatamento como responsável, por exemplo, pela diminuição da desigualdade social, ou pela melhoria nas condições de educação e saúde. Não há qualquer benefício para as populações dos Estados amazônicos”, afirma Côrtes, com base num modelo de análise de desenvolvimento da Amazônia aplicado nos anos 1970, ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição.
Quem realmente ganha com o desmatamento são grupos como os dos grileiros. “O que temos na verdade são grupos organizados, com recursos, invasores de terra pública, que encontram na corrupção e burocracia formas de, entre aspas, ‘legalizar’ terras invadidas e madeira extraída sem qualquer tipo de autorização.” Na avaliação do professor, esses grupos privados lucram em cima dos recursos naturais brasileiros sem qualquer retorno para o País.
Quem o governo promove
Os grileiros, madeireiros e garimpeiros também estão tendo cada vez mais facilidade para atuar diante da redução das autuações. “Nos últimos quatro anos, órgãos como o Ibama e ICMBio foram simplesmente desmantelados, então não há mais fiscalização como deveria”, afirma o professor. “Isso funciona como uma carta branca. Esse governo, na prática, vem estimulando o desmatamento da Amazônia.”
O professor critica a falta de políticas do governo para diminuir a pobreza em todo o País, refletida no aumento significativo das pessoas em situação de rua, além dos ataques sofridos pelo SUS por integrantes do próprio governo. Enquanto isso, “o desmatamento da Amazônia está gerando uma pobreza muito grande na população, porque ele não permite outras formas de desenvolvimento”.
Pode parecer que a atividade gera emprego, mas as condições serão de exploração. “Muitas vezes, as pessoas contratadas para trabalhar estão em situação análoga à escravidão e acabam sendo prejudicadas também pela questão social.”
Pedro Luiz Côrtes participa do Destaque de Meio Ambiente às sextas-feiras. Para mais análises do professor, acesse seu canal no YouTube O Ambiente é o Nosso Meio neste link.
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